O Globo
A safra será boa no ano que vem, pode haver
um aumento na produção de grãos de 14% a 15%, e isso fará com que a alta dos
preços da alimentação no domicílio seja bem menor do que foi nos últimos anos.
Mas haverá um choque de preço de energia para o consumidor residencial, por
custos que estão sendo elevados agora. Há poucas boas notícias na economia, uma
série de previsões ruins e a certeza de muitos ruídos e problemas provocados
pelo governo.
O economista José Roberto Mendonça de
Barros, da MB Associados, acompanha com atenção o que se passa no campo e é
dele a avaliação de que as chuvas até agora garantiram um bom começo para esta
safra.
— Não é chuva de encher reservatório, mas é
chuva de permitir uma boa instalação da lavoura. Ela veio mais cedo, choveu
relativamente bem em outubro e deve continuar — disse ele sobre o clima deste
último trimestre do ano.
Mas a chuva e o agro têm uma relação cheia de riscos. Precisa chover bem agora na instalação da lavoura, depois tem que chover janeiro e fevereiro para formar os grãos, encher a espiga de milho, por exemplo. A terceira fase, março a abril, é da colheita, não pode chover demais, nem de menos, explica Mendonça de Barros.
A chuva também é fundamental na energia,
mas na visão de Paulo Pedrosa, da Associação Brasileira dos Grandes
Consumidores de Energia e Consumidores Livres (Abrace), mesmo com a volta da
chuva há muitos custos que hoje batem nas empresas e que no ano que vem vão
desabar sobre o consumidor. A Aneel soltou um relatório avisando de aumento de
22% em 2022, na conta de luz.
— Este ano o país está tendo uma operação
caríssima com as termelétricas. Nós estamos comprando energia dez vezes mais
cara que o custo médio das distribuidoras. Equivale ao governo estar comprando
gasolina a R$ 70 o litro. Os consumidores do mercado livre pagam isso todo mês.
No ano que vem o consumidor terá que pagar uma série desses custos — afirmou
Pedrosa.
Se a safra boa se confirmar, o impacto
positivo será o seguinte:
— A boa notícia é que os preços dos grãos
podem começar a ceder em dezembro, antecipando a entrada de uma safra boa, e
isso alivia o produtor de ovo, de frango e de suíno. Aquele item de alimentação
no domicílio do IPCA pode ser de 3% a 3,5% no ano, lembrando que chegou a 17%,
18% num tempo atrás — disse Mendonça de Barros.
Mesmo com essa boa expectativa, a MB prevê
zero de crescimento do PIB no ano que vem e reduziu esta semana de 4,7% para
4,5% a previsão da alta em 2021.
— Na inflação, tem por outro lado gás de
cozinha, gasolina, diesel, etanol, energia elétrica residencial que vão
continuar extremamente pressionados. E essa proposta da Petrobras de aumentar o
gás natural (em 200%) é de ouvir sentado para não cair — diz o economista.
Pedrosa conta que a Petrobras seguia o
brent para reajustar o gás natural, mas agora que os preços do gás aumentaram
muito, pela crise na Europa, ela decidiu seguir outro indicador. Mendonça de
Barros lembra que “o conto do vigário” era o de que haveria um choque de gás
barato. Quanto à energia elétrica, Pedrosa empilha os custos que vão ser
repassados para a conta do consumidor. Itens de custos que foram jogados para a
frente e no ano que vem cairão na conta:
— Tem a conta Covid, aumentos tarifários
que foram financiados pelas distribuidoras, tem o adiamento de recebíveis das
transmissoras, tem a conta de termelétricas que foram despachadas fora da ordem
do mérito este ano, tem as térmicas emergenciais que o governo contratou a um
custo altíssimo, por três anos, tem a aplicação do IGP-M nos contratos das
distribuidoras, e tem a correção dos preços dos combustíveis das termelétricas
porque o gás e outros combustíveis subiram. Tudo isso deslocado para o ano que
vem. Teremos preços altíssimos.
No ano haverá também La Niña. Ela faz
chover no Nordeste, mas reduz a chuva no Sudeste, onde estão os reservatórios.
Isso preocupa Pedrosa. José Roberto diz que os mapas de clima mostram que o
fenômeno será mais mitigado.
Para piorar o cenário, é certo que haverá
uma série de confusões criadas por este governo.
— O caminho da estagnação é a única coisa
realmente firme que se consegue ver, infelizmente. E vem por causa da inflação,
dos juros, do dólar e choques de oferta — diz José Roberto.
É apertar os cintos e atravessar os
turbulentos meses à frente.
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