Valor Econômico
Aod Cunha, assessor de Leite, consultou
dezenas de economistas
O momento do país é tão desafiador que,
antes de aceitar o convite de Eduardo Leite (PSDB) para cuidar do programa
econômico de sua pré-candidatura à Presidência, o economista Aod Cunha disse ao
governador do Rio Grande do Sul que precisava de um tempo não para pensar na
oferta, mas, sim, nesta confusão a que chamamos de Brasil. Tempo neste caso é
freio de arrumação para organizar ideias, refletir sobre novos desafios,
acertar um texto-base com o governador e partir para o debate, necessário e
raro neste canto do hemisfério Sul, o 7º mais povoado do planeta.
Aod propôs algo inédito ao pré-candidato -
ideias todos temos, especialmente, no reino dos economistas, profissionais
treinados para encontrar solução para qualquer problema, o que significa,
muitas vezes, ignorar seus efeitos negativos para milhares, talvez milhões, de
chefes de família. O titular desta coluna pede licença, então, para contar duas
histórias - uma engraçada, outra, trágica - sobre economistas.
Num evento da campanha presidencial de Lula
(PT) em 2002, o então candidato ao Senado Aloízio Mercadante foi escalado para
falar à plateia antes do saudoso escritor Ariano Suassuna. Economista de
oratória entusiasmada, do tipo cujo discurso apresenta o problema acompanhado
da solução - insofismável, a seu ver -, Mercadante fez grande apanhado sobre as
mazelas do país, deixando Ariano impressionado a cada raciocínio concluído.
Chegada a sua vez de falar, o autor de o “Auto da Compadecida” iniciou sua fala da seguinte maneira: “Rapaz, falar depois de Aloízio Mercadante não é fácil não. Pense num cabra sabido...”. No Nordeste, o sinônimo de “sabido” é esperto. Sem desmerecer da cultura de Mercadante, o que Ariano quis dizer ao nobre correligionário foi: “Menos, Mercadante, menos. Ninguém sabe tudo, logo, muito menos a resolução de todos os males”. A plateia veio abaixo.
Em meados de 2011, a inflação, que já vinha
pressionada do ano anterior, ameaçava disparar e o então presidente do Banco
Central (BC), Alexandre Tombini, confessou a este repórter que, para aquietar o
IPCA, de modo a colocá-lo no rumo da meta - na ocasião, esta era 4,5% e o
índice oficial acumulava em 12 meses variação de 6,5%, o Comitê de Política
Monetária (Copom) teria que elevar a taxa desemprego em dois pontos
percentuais. Na ocasião, isto significava subir os juros de tal maneira que as
empresas demitissem dois milhões de pessoas.
Tombini não dissera nada de sobrenatural ou
malvado. A receita está nos manuais de economia. O problema é que a maldade no
Brasil é grande, principalmente naquela época, porque, como mais da metade do
crédito da economia era subsidiada, isto é, era tomada pelo Tesouro a custo de
mercado e emprestada a grandes empresas abaixo desse custo, o BC era obrigado a
arrochar os juros para cima de quem não recebia dinheiro subsidiado - as
pequenas e médias empresas, os informais e os pais de família - e, assim, obter
o mesmo efeito.
A história conta que, no fim de agosto de
2011, Tombini foi chamado ao Palácio do Planalto. Lá, a então presidente Dilma
Rousseff mandou seu subordinado abaixar, em vez de aumentar os juros. Dilma
cortou o plano “malévolo” do Banco Central. Só que não.
Contrariando seus pares, Aod Cunha e
Eduardo Leite estiveram com os principais formuladores de política econômica do
país nos últimos 30 anos _ Pérsio Arida, Armínio Fraga, Marcos Mendes, Joaquim
Levy, Ana Carla Abrão, Elena Landau, Edmar Bacha, Vinícius Carrasco, Renato Paes
de Barros, Vinícius Botelho, entre outros. A maioria dos encontros foi
presencial.
As conversas não se limitaram a
economistas. Eles estiveram com organizações sociais, empresários, gestores de
recursos. "Qual é a ideia? Precisamos ter uma visão inicial nossa e fechar
com o candidato, como ele enxerga o país. Para ele ter conforto, queremos
'validar' essa visão macro. Não pedimos engajamento de ninguém, apenas
procuramos ouvir pessoas que respeitamos.
“O Brasil é um país que, nos últimos 40
anos, cresce menos que o mundo. Mesmo no boom de 2000-2009, a nossa média de
crescimento é um pouco mais baixa que a média global e muito mais baixa que é a
média dos emergentes”, observa Aod (ver gráfico). “Particularmente, na última
década, mesmo tirando 2020 (por causa da pandemia), o país cresce muito menos
que o mundo e os emergentes.”
Paramos de crescer antes do auge do bônus
demográfico, isto é, quando havia mais pessoas trabalhando do que aposentadas.
“Do fim da dácada de 1990 até 2019, o crescimento médio anual próximo de 2%. Se
a gente quebra esse crescimento de 2% entre aumento da força de trabalho, que é
a forma de olhar o papel da demografia, e de produtividade, temos 1,5% de
avanço da força de trabalho e 0,5% da Produtividade Total dos Fatores (PTF). A
produtividade do trabalhador está estagnada. Nesta década, estamos caindo de
1,5% para 0,5%; na próxima, zero. Crescimento de longo prazo virá só da
produtividade”, explica o economista, que foi secretário da Fazenda do Rio
Grande do Sul.
Leite disputará, no domingo, a prévia do
PSDB para decidir quem será o candidato tucano em 2022. É provável que ele
perca a contenda para João Doria, governador de São Paulo. Espera-se que as
ideias debatidas com tanto afinco neste período sejam aproveitadas não só pelo
PSDB, mas por todos aqueles que entrarem na disputa presidencial.
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