Folha de S. Paulo
Nossa democracia não tem sustentado ciclos longos de crescimento
Nas últimas semanas, alguns
textos de pessoas ligadas ao grupo político petista têm
avaliado a experiência do PT no governo.
O argumento é que o desempenho foi muito
bom, com algumas dificuldades no primeiro
mandato de Dilma, até que a Operação
Lava Jato, a recusa de Aécio em aceitar o resultado eleitoral e a reversão
dos preços das commodities nos jogassem em uma profunda crise econômica.
Assim, para debater nosso passado, o
petismo considera que o agravamento da crise em 2015 e 2016 nada tem a ver com
as políticas adotadas pelo Executivo. A conta do governo petista para o petismo
termina em 2014, de acordo com a minha interpretação daqueles textos e de
outras manifestações
vindas desse grupo político.
Meu argumento é que o melhor momento que vivemos desde a redemocratização, os oito anos da presidência de Lula, teve política econômica não sustentável a partir de 2006. Mais cedo ou mais tarde testaríamos os limites. Estes foram testados no primeiro mandato de Dilma. O fato de ela ter dobrado a aposta a partir de 2012 explica em grande medida a gravidade da crise.
Já tratei da insustentabilidade da política
econômica anterior ao agravamento da crise do
ponto de vista da política fiscal. A figura apresenta a dificuldade que
nossa democracia tem de construir ciclos sustentáveis de crescimento do ponto
de vista da rentabilidade do setor privado. Trata-se do lucro das empresas,
antes do pagamento dos juros, impostos, depreciação e amortização (Lajida),
como proporção da receita operacional líquida (ROL), que é o faturamento
líquido dos impostos indiretos pagos.
Os dados foram obtidos na base de dados da
Economatica (agradeço ao meu colega da JBFO Jefferson Honório pela tabulação
dos dados).
Nota-se que houve um claro ciclo de
elevação da rentabilidade do setor privado, entre 1995 e 2004, e um ciclo de
queda, entre 2005 e 2015.
De 1998 até 2004, tomando como base 1997, a
rentabilidade subiu 12 pontos percentuais. Entre 2005 e 2014, tomando como base
2004, caiu 11 pontos percentuais. Mesmo em 2012 a rentabilidade já estava
próxima dos níveis de 1997.
Independentemente da gravidade da crise
política, ou dos efeitos econômicos da Operação Lava Jato, ou mesmo da queda
dos preços das commodities, nosso ciclo de crescimento não iria continuar.
É fato que Dilma tentou arrumar a situação
em 2015. As medidas propostas por Joaquim Levy e Nelson Barbosa estavam na
direção correta. No entanto, a crise política impediu que a situação fosse
arrumada.
Como ilustrado pela figura, temos avançado
na construção de condições macroeconômicas para sustentar um novo ciclo de
crescimento. Tratei desse tema na
coluna de 18 de julho.
A dúvida é como terminar a construção das
condições de um novo ciclo de crescimento e evitar que seja um novo voo de
galinha. O ideal é que essas indagações norteiem o debate eleitoral em 2022.
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