O Estado de S. Paulo
PSDB foca em Bolsonaro, esquece Lula e quer a centro-direita contra PT
O presidente do PSDB, Bruno Araújo,
aproveitou o debate dos candidatos às prévias do partido, no Estadão, para
dizer a mais pura, e melancólica, verdade: “Todos os partidos perderam controle
na relação direta com as suas bancadas”. Tradução: o bolsonarismo produziu, ou
aprofundou, um estouro da boiada no Congresso.
Os governadores João Doria (SP) e Eduardo
Leite (RS), candidatos às prévias tucanas, faziam malabarismo para se descolar
do fato de que 22 dos 31 deputados federais tucanos votaram a favor da PEC dos
Precatórios, ou “PEC da Reeleição” (do presidente Jair Bolsonaro, óbvio).
ACM Neto, presidente do DEM e futuro secretário-geral do União Brasil (DEM-PSL), poderia dizer: “Viram? Não fui só eu”. Exemplo da perda de controle das bancadas, ele não conseguiu manter os votos democratas no deputado Baleia Rossi para a presidência da Câmara.
Quando ACM e Rodrigo Maia, padrinho da
candidatura de Baleia, abriram os olhos, era tarde demais. A maioria da bancada
já tinha se bandeado para Arthur Lira, candidato de Bolsonaro. Foi assim nas
demais bancadas e deu no que deu: a Câmara de Lira está a serviço de Bolsonaro,
além de cuidar bem de seus próprios interesses e emendas e mal dos interesses
nacionais.
No debate de Doria, Leite e o ex-prefeito
de Manaus Arthur Virgílio – o único com passagem por Brasília e Congresso –,
Bolsonaro virou batata quente, que Doria e Leite empurravam um para o outro. O
sujo falando do mal lavado, porque ambos o apoiaram no segundo turno de 2018.
Suave na forma, ácido no conteúdo, Virgílio
provocou: “Não deixe que lhe preguem na face a fama de bolsonarista. Isso não é
justo nem digno de você”. Dirigia-se a Leite, mas poderia ser para Doria, que
carrega o fardo do “Bolsodoria”.
Os dois viraram críticos do presidente,
sobretudo Doria, mas ele ouviu quem entende de comunicação: os craques na
“política de esgoto” são Bolsonaro e o gabinete do ódio. Quando entra na deles,
Doria sai perdendo.
No debate, os tucanos se esqueceram de
Lula, líder inconteste das pesquisas. O PSDB digladiou com PT em todas as
eleições, até 2018, e agora aposta no confronto com Bolsonaro para ocupar a
centro-direita e voltar à tradição do segundo turno entre PT e PSDB.
Hoje, o PT lidera, o PSDB disputa uma terceira via congestionada, Sérgio Moro é interrogação e Bolsonaro trocou Moro por Valdemar Costa Neto, condenado e preso no mensalão. A eleição está como o diabo e os jornalistas gostam.
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