Blog do Noblat / Metrópoles
Tanto o Brasil quanto a África do Sul se
estruturavam com base na segregação e consequente exclusão, por renda ou por
apartheid
O Brasil África do Sul são parecidos.
Pode-se dizer que o Atlântico é um espelho que mostra um lado similar ao outro
no sistema social e econômico de apartheid, com a diferença que o sistema deles
separava brancos de negros, o nosso separa ricos de pobres. As escolas
sulafricanas eram segregadas conforme a raça, da mesma forma que as nossas são
segregadas conforme a renda. O fim do apartheid fez aquele belo país africano
ainda mais parecido com o nosso.
Tanto a sociedade de um lado quanto do outro do Atlântico se estruturavam com base na segregação e consequente exclusão: por renda, no Brasil, com nossa apartação; ou por raça, na África do Sul, com o apartheid. De um lado e outro, estas sociedades se caracterizavam pela concentração de renda e de benefícios sociais, pela violência e instabilidade.
Foi o líder branco De Klerk, falecido nesta
quinta feira, que, depois de décadas como lider racista, conduziu o diálogo com
os líderes negros, na direção de um pacto nacional para abolir o apartheid,
dando direitos iguais a brancos e negros. Apesar de eleito pelos brancos para
beneficiar aos brancos, percebeu que os interesses maiores do país exigiam
quebrar o apartheid e construir uma nação de brancos, negros e mistos em uma só
nação. Teve a ousadia e o estadismo de ir a Mandela, então preso por 27 anos,
negociar com seus apoiadores racistas para dar liberdade ao grande líder negro,
e juntos construírem uma transição que em poucos anos elegeu o primeiro
presidente que representou a maioria e implantou um sistema social sem exclusão
racial.
Com este pacto, os dois construíram um novo
país e ganharam juntos o Nobel da Paz.
A sua morte nesta semana deveria ser um
momento de reflexão entre as lideranças brasileiras, sobre a necessidade de
fazermos nosso pacto pelo fim da apartação. Um pacto capaz de assegurar o fim
da exclusão social no Brasil: incorporar todos no mínimo necessário à vida sem
necessidades básicas. O caminho mais possível para esta mudança estrutural
seria assegurar pobres e ricos em um mesmo sistema escolar, com a mesma
qualidade independente da renda e do endereço da família. Bastaria a
implantação de um Sistema Nacional Único Público de Educação de Base.
Mas continuamos sem um Mandela e sem um De
Klerk e sem um pacto social capaz de abolir a apartação que caracteriza nossa
sociedade.
*Cristovam Buarque foi senador, ministro e
governador
Nenhum comentário:
Postar um comentário