O Globo
Em setembro de 2018, Geraldo Alckmin jurou
que nunca se aliaria ao PT. “Jamais terão meu apoio para voltar à cena do
crime”, atacou. Três anos depois, ele parece ter mudado de ideia. Quer ser
candidato a vice-presidente na chapa de Lula.
O petista já ensaia o discurso em defesa da
dobradinha. “Não importa se no passado fomos adversários, se trocamos algumas
botinadas, se no calor da hora dissemos o que não deveríamos ter dito”,
penitenciou-se, na noite de domingo.
Lula custou a aceitar que não chegaria ao
Planalto só com os votos da esquerda. Depois de três derrotas seguidas, mudou a
estratégia e se juntou a um grande empresário. A guinada abriu caminho para a
vitória de 2002.
No poder, ele se aproximou de velhos
desafetos, como José Sarney e Fernando Collor. Na disputa municipal de 2012,
radicalizou de vez no pragmatismo. Foi à casa de Paulo Maluf e tirou a célebre
foto em troca do apoio a Fernando Haddad.
Alianças heterodoxas fazem parte da política. A chapa com José Alencar irritou setores da esquerda, mas ajudou Lula a subir a rampa. A foto com Maluf teve saldo mais controverso. Haddad ganhou um minuto e meio de TV, mas passou a campanha inteira explicando as novas companhias.
Alckmin não é Maluf. Nunca bajulou a
ditadura nem enriqueceu nos cargos que ocupou. Ainda assim, as botinadas do
passado voltarão à tona nos próximos meses. Lembrá-las é dever da imprensa e
direito do eleitor — se isso desagradar aos novos aliados, pior para eles.
O ex-governador já se prepara para
justificar a aliança com o antigo rival. No domingo, ele disse que o país
precisa de “união” e “grandeza política”. É um argumento razoável. Na última
eleição, os democratas se dividiram e a extrema direita chegou ao poder.
O bolsonarismo sabe que a formação de uma
frente ampla pode ajudar Lula a vencer no primeiro turno. Por isso, já começou
a torpedear a união com Alckmin. O problema é que o capitão está sem moral para
atacar alianças alheias. Em 2018, ele definia o Centrão como a “escória da
política”. Em 2022, vai reunir a turma toda em seu palanque.
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