Valor Econômico
Desonerar gasolina é a mais nova solução
mágica (e errada)
Políticos de diferentes matizes, da
esquerda à direita, voltaram para o Congresso do recesso em suas bases eleitorais
convencidos de que o ex-presidente Lula (PT) vencerá a eleição em outubro. O
sentimento é de que o “timing” para construção de uma terceira via já passou e
que há hoje uma forte aversão dos eleitores ao presidente Jair Bolsonaro (PL),
seja pela condução desastrosa da pandemia, seja pela inflação alta, seja pela
economia parada.
Um deputado do Centrão que pretende ingressar no PL para colar na imagem de Bolsonaro na campanha, principalmente por questões locais, diz que o presidente tem força no interior, mas está muito desgastado nas grandes cidades. A população está cansada do discurso beligerante, irritou-se com a negação das vacinas e vê seu dinheiro minguar com as seguidas altas de alimentos, moradia e combustíveis. Para nenhum desses casos, afirma, parece haver solução próxima.
É daí que surgem ideias “brilhantes”, como
gastar mais no ano eleitoral com a desoneração de combustíveis do que com
investimentos que poderiam de fato melhorar a qualidade de vida das pessoas,
como construir ferrovias, linhas de metrô e de ônibus para diminuir a
dependência da população por carros, para ficar em exemplos óbvios. Muito mais
inteligente é outra ideia, também vinda do governo, de cortar o IPI para ajudar
a indústria (embora menos prestigiada na ala política por render menos na
eleição).
Além de ir na direção errada, os R$ 54
bilhões para a gasolina e diesel terão impacto pequeno para o consumidor perto
da instabilidade que a política econômica equivocada pode gerar (o dólar subiu
de R$ 5,25 para R$ 5,67 na discussão da PEC dos Precatórios, puxando junto a
inflação). A moeda deu uma trégua neste início de ano por questões externas e
internas, mas um cenário político turbulento pode rapidamente virar isso.
Se a PEC for aprovada e o governo cortar os
impostos federais todos, a gasolina cairia R$ 0,69 por litro e o diesel, R$
0,35. A política de preços da Petrobras, a alta do petróleo no mundo, o real
desvalorizado e o modelo de ICMS, porém, fizeram a gasolina sair de um preço
médio de R$ 4,57 em 1º de janeiro de 2020, antes da pandemia, para R$ 6,67 em
dezembro do ano passado (os dados são da Agência Nacional de Petróleo). O
problema, portanto, não são R$ 0,70.
Para o gás de cozinha, hoje acima dos R$
100, o efeito seria inexistente porque o corte de impostos federais já ocorreu
e descontou só R$ 2,18 por botijão, um nada. A PEC também teria efeito pequeno
sobre os alimentos, cada vez mais caros enquanto os salários são achatados pela
inflação.
Embora possa dar um alívio momentâneo ao
bolso do cidadão, o que sempre traz um fator positivo ao governante de plantão,
essa PEC pode acabar tendo o mesmo efeito político do Auxílio Brasil de R$ 400.
Entre aliados do presidente, já está claro que mudar o Bolsa Família de nome e
turbinar os valores não o fez conquistar o eleitorado mais pobre.
Esta coluna conversou com uma dezena de
congressistas que fazem campanha por outros presidenciáveis, mas que,
reservadamente, dizem que voltaram do roteiro mais intenso de viagens a seus
Estados convencidos de que será difícil tirar a vitória do petista. Na
avaliação deles, as posturas negacionistas do presidente funcionaram bem para
fidelizar seu eleitorado na pandemia e evitar o crescimento de outros
candidatos à direita, mas o discurso antivacina causou estrago irreparável ao
centro.
Um deputado do PSB que não queria apoiar
Lula, mas viu seu candidato preferido desistir, se diz incrédulo com a força do
petista. Parcela significativa dos eleitores que votaram em Bolsonaro agora
declara abertamente voto em Lula, mesmo que isso, do ponto de vista de pautas e
agendas defendidas, não faça o menor sentido. Para ele, é como se a vontade das
pessoas de “expiar seus crimes” por ter eleito o atual presidente seja tão
grande que eles apoiam qualquer um que possa impedir seu segundo mandato,
ignorando o que os fez rejeitar o PT em 2018: os casos de corrupção e a crise
econômica do governo Dilma.
Se a troca de ideias dos políticos com seus
eleitores durante um cafezinho já aponta um favoritismo para o petista, as
pesquisas, não é novidade para ninguém, têm reforçado isso. O agregador do site
“Jota”, que reúne dados de vários institutos, mostra Lula com 44% das intenções
de voto, contra 28% de Bolsonaro, 10% de Sergio Moro (Podemos), 7% de Ciro
Gomes (PDT) e 3% de João Doria (PSDB).
A média das pesquisas espontâneas, feita
também pelo “Jota”, aponta Lula com 31,9% e Bolsonaro, 22,8%. Moro (3,1%), Ciro
(2,7%) e Doria (0,7%) ficam num patamar bem mais baixo. Esse tipo de sondagem
mostra a preferência do eleitor antes que o entrevistador diga quem são os
candidatos e, hoje, diz quem está mais convicto de seu voto.
Pesquisas internas dos partidos mostram que
Lula estaria vencendo até em Estados do Centro-Oeste, como Mato Grosso do Sul e
Goiás, e em cidades como São Caetano (SP), município de altíssima renda e com
maior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Brasil. Ambos foram, nas
eleições passadas, tradicionais redutos “azuis”.
Há quem pregue cautela até o fim da janela
de filiações em 2 de abril ou das convenções partidárias em 5 de agosto. Mas,
para um apoiador de Simone Tebet (MDB-MS), a maior chance da terceira via era
Moro, que cresceu e já refluiu logo após os primeiros ataques pela dificuldade
de conquistar o eleitorado fiel ao presidente. Já Doria é rejeitado a esquerda
e a direita, enquanto Ciro ficou sem espaço também dos dois lados. Os demais,
com menor rejeição, têm o crescimento barrado pelo “nanismo”.
Claro, a eleição está longe, faltam oito
meses para a campanha de fato começar e há sempre o imponderável (não custa
lembrar que as duas eleições anteriores foram marcadas pela queda de um avião e
uma facada). Se, contudo, o grande incidente dessa eleição for de novo só uma
bolinha de papel, não dá para desprezar que a disputa entre lulistas e
bolsonaristas já está na rua e nas redes, dado o nível que polarização que
pauta das reuniões em família até o Big Brother Brasil (BBB), e que o petista é
franco favorito.
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