Folha de S. Paulo
Bolsonaro está disposto a gastar o que for
preciso para reduzir chances de derrota nas urnas
Os políticos que mantêm Jair Bolsonaro de
pé montaram
uma operação para dar fôlego à campanha do presidente. Num pacote
generoso, integrantes do governo deram aval a duas propostas no Congresso para
cortar tributos sobre combustíveis, criar um auxílio-diesel para caminhoneiros
e ampliar subsídios para a compra de gás de cozinha.
As bondades devem ter um custo estimado em mais de R$ 100 bilhões, segundo o Ministério da Economia –que é contra as medidas. Os cálculos dão uma ideia do buraco em que o Palácio do Planalto enxerga a candidatura de Bolsonaro a esta altura da disputa pela reeleição.
Aliados do presidente veem o aumento do
custo de vida como o ponto mais vulnerável de sua campanha. A inflação deve
seguir uma trajetória de queda ao longo deste ano, mas a ala política do
governo identificou uma necessidade urgente de despejar dinheiro em medidas que
possam atenuar o mal-estar da população com a economia.
O Planalto tentou disfarçar o interesse
eleitoreiro, mas deixou suas impressões digitais. Uma das propostas foi escrita
no gabinete do ministro da Casa Civil, teve a bênção de Bolsonaro e foi
apresentado na Câmara pelo centrão. Outro projeto, no Senado, recebeu o apoio
formal de um dos filhos do presidente.
Nem mesmo os escudeiros palacianos
conseguiram explicar o teatro mal ensaiado. O líder de Bolsonaro na Câmara,
Ricardo Barros, alegou que o governo é contra a proposta e jogou para o
Congresso a responsabilidade pela discussão das medidas. Ele admitiu, no
entanto, que o presidente quer zerar os impostos federais sobre os
combustíveis.
O governo recorreu à encenação porque
identificou uma emergência política incompatível com o personagem que
Bolsonaro pretende levar à campanha. O presidente está disposto a gastar o
que for preciso para reduzir suas chances de derrota nas urnas, mas insiste na
imagem de um governante austero com o dinheiro público para continuar enganando
uma parte do eleitorado.
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