Folha de S. Paulo
Ele prepara agora a traição a seus
eleitores do mercado
Entre todos os embustes vendidos pelo então
candidato Jair Bolsonaro na campanha de 2018, o mais bem disfarçado talvez
tenha sido o seu aceno ao mercado, personificado na biografia de Paulo Guedes,
escolhido para atrair empresários e bancos para o seu lado.
Nos campos político e pessoal, um deputado
medíocre e ignorante como Bolsonaro talvez não produzisse mesmo nada melhor do
que a sujeição
humilhante ao centrão e
posicionamentos contrários aos dos eleitores de quem depende, como demonstrou
seu negacionismo versus a aderência da população às vacinas.
O resultado é que Bolsonaro entra em sua
campanha à reeleição pequeno, desmoralizado e sem ter onde se agarrar.
Lançados tardiamente, mesmo seus principais
programas sociais, o Casa Verde e Amarela e o Auxílio Brasil, seguem muito
identificados com o Minha Casa, Minha Vida e o Bolsa Família, ambos criados por
Lula.
Apesar do valor médio de R$ 400, mesmo o Auxílio Brasil atual é muito inferior, em reais e em abrangência, em relação ao montante recebido pelos mais pobres anteriormente, reforçando o "efeito piora". No geral, o que o presidente entrega em seu último ano é um país em estagflação, crescendo quase nada e inflacionado. Nada menos promissor.
É a partir desse ponto que Bolsonaro
prepara agora a traição a seus eleitores do mercado, os trouxas deixados para o
final, juntamente com o seu mais tolo fiador, Paulo Guedes.
"PEC
Kamikaze" é como a equipe do ministro qualifica proposta do
Senado, apoiada pelo filho 01, Flávio Bolsonaro, que pode gerar impacto de mais
de R$ 100 bilhões ao ano à União. Tudo fora do teto de gastos, hoje a principal
âncora fiscal do governo que, apesar de desmoralizada, ainda mantém alguma previsibilidade.
Além de reduzir tributos sobre diesel,
biodiesel, gás e energia elétrica em 2022 e em 2023, sem compensação pela perda
de receitas, a proposta autoriza a União a criar, nos dois anos, um
auxílio-diesel mensal de até R$ 1.200 a caminhoneiros autônomos. Outro
dispositivo abre caminho para oferecer botijões de gás gratuitamente a até 17,5
milhões de famílias.
Por vias muito mais explícitas, trata-se de
populismo fiscal comparável ao da reeleição de Dilma Rousseff em 2014, que
acabou jogando o Brasil na brutal recessão de 2015-2016.
É inegável que Bolsonaro e sua equipe
tiveram o azar de existir durante uma das maiores crises sanitárias da
história. E surpreende que, apesar disso, as contas de seu governo tenham
terminado 2021 em relativa ordem, com o menor déficit desde 2013, de R$ 35
bilhões.
O que não deveria surpreender é Bolsonaro,
pela reeleição, arruinar tudo no final —e finalmente tocar fogo no que ainda
resta do tal Posto Ipiranga.
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