O Globo
Há duas semanas, Jair Bolsonaro abriu o
Palácio da Alvorada para um grupo de líderes evangélicos. A conversa tratou
pouco de fé e muito de política. Em busca de apoio à reeleição, o presidente
prometeu submeter suas decisões à vontade dos pastores. “Eu dirijo a nação para
o lado que os senhores assim desejarem”, afirmou.
O escândalo no MEC mostra que o compromisso
não se limita às chamadas pautas conservadoras. Também inclui o acesso
privilegiado aos cofres públicos. Em gravação revelada pela Folha de S.Paulo, o
ministro da Educação descreveu o funcionamento de uma rede de tráfico de
influência. Disse ter ordens para direcionar verbas a “amigos do pastor
Gilmar”.
No áudio, Milton Ribeiro contou ter recebido um “pedido especial” de Bolsonaro. O ministro é pastor presbiteriano e assumiu o cargo com a bênção da bancada da Bíblia, que agora finge desconhecê-lo.
Gilmar Santos se apresenta como presidente
de uma certa Convenção Nacional de Igrejas e Ministros das Assembleias de Deus.
Nas horas vagas, atua como lobista em Brasília. Sem vínculo formal com o
governo, o pastor voa em jatos da FAB, recebe prefeitos e direciona repasses
federais. É o chefe do que o jornal O Estado de S. Paulo definiu como gabinete
paralelo da Educação.
A CPI da Covid já havia identificado um
esquema semelhante no Ministério da Saúde, onde atravessadores atuavam na
compra de vacinas. No MEC, o negócio envolve a liberação de dinheiro para as
prefeituras, que são responsáveis pela educação infantil.
O ministro Ribeiro é um arauto do obscurantismo.
Já defendeu a aplicação de castigos físicos em crianças e disse que alunos com
deficiência “atrapalham” a vida escolar. No mês passado, foi denunciado por
homofobia após ligar a homossexualidade a “famílias desajustadas”. Agora pode
ser enquadrado em outros tipos do Código Penal.
Bolsonaro sempre foi um inimigo do Estado
laico. Usou o nome de Deus para se eleger e entregou nacos do governo a
representantes de igrejas. Por trás do discurso reacionário, escondiam-se
espertalhões à procura de negócios. A pilhagem no MEC expõe os verdadeiros
interesses desse fundamentalismo de resultados.
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