Valor Econômico
Ala de técnicos da área jurídica da Casa
Civil enxerga nas medidas a concessão de novos benefícios em ano de eleições
gerais, o que seria proibido pela legislação eleitoral
O pacote de crédito para micro, pequenas e
médias empresas parou na área jurídica da Casa Civil e não se sabe ao certo se
e quando ele sairá de lá com o selo de aprovação. Há uma ala de técnicos da
área jurídica da Casa Civil que enxerga nas medidas a concessão de novos
benefícios em ano de eleições gerais, o que seria proibido pela legislação
eleitoral.
O pacote de crédito foi concebido com base
na extensão dos benefícios do Pronampe (Programa Nacional de Apoio às Micro e
Pequenas Empresas) para até dezembro de 2023. O programa de crédito nasceu no
auge da pandemia, em 2020, para socorrer as companhias micro e de pequeno
porte. O argumento da área econômica para contestar a posição dos técnicos da
Casa Civil é que os efeitos da pandemia ainda persistem e, agora, estão
agravados pela guerra entre Rússia e Ucrânia.
“Estamos vivendo em uma situação emergencial. Temos a guerra e os efeitos colaterais da pandemia. É uma situação excepcional”, argumentou um assessor do Ministério da Economia, em defesa das medidas de expansão da oferta de crédito.
Se aprovada pelo Executivo, a medida
provisória que está sob exame da Casa Civil prorrogará os financiamentos feitos
com base nos fundos FGO (Fundo Garantidor de Operações), do Banco do Brasil, e
FGI (Fundo Garantidor de Investimentos), do BNDES.
A rigor, o dinheiro que retornasse dos
financiamentos contratados em 2020 e 2021 deveria ir diretamente para o Tesouro
Nacional, mas a proposta é que ele retorne para os fundos de garantia de
crédito até 31 de dezembro do ano que vem. Esses recursos seriam suficientes
para lastrear até R$ 100 bilhões em novas operações de crédito. A alavancagem é
de oito vezes o valor da garantia. Só o fundo de aval do Sebrae, com R$ 1,5
bilhão, é suficiente para gerar cerca de R$ 12 bilhões em crédito.
Se, ao longo das discussões, chegou-se a
pensar em concentrar a administração dos fundos no BNDES, essa ideia foi
afastada. “Cada macaco no seu galho”, disse a fonte para quem o FGO continuará
sob o comando do Banco do Brasil e o Fundo de Aval (Fampe) permanecerá com o
Sebrae, assim como o FGI está sob a égide do BNDES.
Outra ideia que aparentemente não está
madura e pode ser excluída da medida provisória refere-se à criação de um fundo
garantidor de habitação popular da Caixa, com recursos do Fundo de Garantia do
Tempo de Serviço (FGTS)
Outro aspecto da medida é o seu custo para
o tomador final, que ficou bem mais salgado do que se imaginou: Selic mais 6%
ao ano. O problema é a taxa Selic, que deve chegar à casa dos 13% anuais neste
ano.
Formuladas antes do início da guerra entre
a Rússia e a Ucrânia, as medidas têm sua importância reforçada diante dos
impactos do conflito na atividade econômica e na inflação.
Segundo uma fonte, serão duas faces de
apoio às micro e pequenas empresas. Além do crédito, será lançado o
refinanciamento das dívidas do Simples, decorrente da derrubada do veto do
presidente Jair Bolsonaro a essa medida. Veto que foi sugestão dos mesmos técnicos
da Casa Civil que agora se opõem ao pacote de crédito. As dívidas estão
estimadas em R$ 20 bilhões e por causa delas cerca de 437 mil empresas estariam
ameaçadas de expulsão do programa simplificado de pagamento de impostos.
Na parte do crédito, o ponto principal é a
retomada do Programa Nacional de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Pronampe)
e do Programa Emergencial de Acesso ao Crédito (Peac), duas linhas de crédito
criadas na pandemia. Para voltar a operar, elas dependem de aportes adicionais
no FGO e no FGI.
A ideia, como está dito acima, é editar uma
medida provisória colocando nesses dois fundos os recursos que estão retornando
dos empréstimos concedidos em 2020 e 2021. É necessário, porém, autorizar que o
dinheiro fique no próprio fundo, já que hoje eles têm que ir, obrigatoriamente,
para o Tesouro Nacional. Dessa forma, os dois fundos terão recursos suficientes
para, em caso de inadimplência, dar suporte aos empréstimos que os bancos farão
com recursos próprios.
Quem vai tomar um empréstimo de R$ 5 mil ou
R$ 10 mil em geral não tem como dar garantia real. São pessoas que ficam à
margem do sistema financeiro por não terem como bancar uma operação de crédito.
Apesar de o ministro da Economia, Paulo
Guedes, ter previsto o anúncio do pacote de crédito para a semana anterior ao
Carnaval, dia 1º de março, até agora não se sabe ao certo quando será
divulgado.
Há controvérsias a respeito dessa medida
que pretende patrocinar uma boa expansão no crédito das micro, pequenas e
médias companhias (com faturamento de até R$ 300 milhões por ano). Afinal, o
Banco Central está no meio de uma política de aperto monetário, com a subida da
taxa básica de juros e, neste momento de alta inflação, a expansão da oferta de
crédito é um sinal trocado dado pela área econômica do governo.
Há outras medidas em curso, a exemplo da que isenta do pagamento de Imposto de Renda as aplicações que os investidores estrangeiros fizerem no mercado de capitais, além de redução de impostos como o IPI.
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