Folha de S. Paulo
Empresariado brasileiro não se resume ao pato da Fiesp
Quem resume o comportamento
político do empresariado brasileiro ao pato da Fiesp não está entendendo nada.
Nos primeiros estudos sobre o tema no país,
nos anos 1950, os industriais eram vistos como uma força progressista, um
potencial aliado na promoção de um projeto nacional de desenvolvimento em
oposição aos interesses agroexportadores.
Essa teoria desmoronou em 1964, não apenas
pelo apoio do empresariado ao golpe, mas porque o regime militar mostrou que o
avanço do setor não era incompatível com uma sociedade autoritária e desigual.
Nesse período, as pesquisas buscaram
entender por que, afinal, os industriais não assumiram o papel que supostamente
deveriam desempenhar.
Com a redemocratização, a abordagem de classe perde espaço para estudos que encaram industriais como grupos de interesse, orientados por uma lógica pragmática em estratégias de lobby e financiamento político, por exemplo.
A análise de classe vai ser retomada nos
anos 2000, em pesquisas sobre a relação entre a categoria e o PT –não só em
termos programáticos, mas também políticos: para o choque daqueles de memória
curta, a Fiesp apoiou Lula durante o escândalo do mensalão.
Infelizmente, muitas leituras mais
recentes, especialmente após o impeachment
de Dilma Rousseff, descrevem o empresariado com traços cartunescos: ora um
conspirador frio e astuto que se impõe sobre a política, ora um fantoche
histérico manipulado por ela.
Além de simplista, esse retrocesso
analítico erra ao empacotar todo o empresariado em um único bloco, ignorando
divergências internas relacionadas a setor, porte e relações com o Estado, o
capital financeiro e o estrangeiro, para citar algumas.
O que a história nos mostra é um
comportamento sobretudo oscilante, atravessado pela economia e a política, nem
essencialmente democrático, nem essencialmente autoritário. Pendular, como
cunhado originalmente pelo FHC dos anos 1960.
O silêncio de entidades como CNI e Fiesp sobre o
comportamento golpista de Bolsonaro nos diz algo: elas estão observando para
onde pender.
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