Folha de S. Paulo
Preço do trigo dá um salto, governo quer
fixar preço de combustíveis por três meses
O governo de Jair
Bolsonaro quer que a Petrobras reajuste seus preços apenas a cada três
meses, ouve-se no Planalto. Com vai fazer isso, não foi possível descobrir. Mas
"é preciso fazer alguma coisa, já", dizem os palacianos.
Ninguém explica como vão intervir na
petroleira. Há boatos de demissão da diretoria, o que é quase impossível de
confirmar, até porque essas decisões são resultado de faniquitos de Bolsonaro.
Mas a intervenção teria de ir muito além da troca do
comando.
Não se explica também qual será o método desse controle de preços. A cada trimestre, a Petrobras faria um reajuste segundo qual critério? O preço do trimestre compensaria perdas (ou ganhos) dos meses passados, caso a empresa tivesse cobrado menos (ou mais) do que o preço internacional? O preço novo seria meramente o preço internacional da data do reajuste?
Se o preço internacional aumentar e a
Petrobras cobrar abaixo dessa "paridade", como ficam os importadores de
diesel? Tendem a deixar de importar. Pode faltar diesel. O governo vai obrigar
a Petrobras a importar diesel e vendê-lo no mercado a um preço abaixo do custo?
Governos pelo mundo afora procuram dar um
jeito de atenuar os efeitos da inflação. Na Europa, por exemplo, dão uma
espécie auxílio-energia a fim de compensar a alta tremenda do custo da energia.
No final da semana passada, a Índia disse
que vai controlar a exportação de trigo. A inflação por lá também subiu (6,95%
ano, até março); a taxa básica de juros aumentou pela primeira vez desde 2018.
Carestia de pão, óleo e cebolas podem causar revolta. Os indianos dizem ainda
que vão reservar exportações para países mais vulneráveis.
A Índia é um dos grandes produtores
mundiais. Vinha compensando, em parte menor, a carestia causada pela guerra
(Ucrânia e Rússia tinha cerca de 30% do mercado mundial de exportação de
trigo).
O preço do trigo, claro, deu um salto, alta
de uns 18% em uma semana (preço futuro de um mês, em Chicago). Para piorar, o
Departamento ("ministério") de Agricultura dos Estados Unidos estimou
na semana passada que o estoque mundial do produto vai chegar ao nível mais
baixo em meia dúzia de anos e que a produção do trigo vai cair pela primeira
vez em quatro anos.
Recentemente, a cotação de várias
commodities deu uma acalmada, embora ainda flutuando na estratosfera. Mas há
outras complicações no mercado.
Além do problema do trigo, há escassez
de diesel,
que vem ficando bem mais caro do que o petróleo. Agora, o preço da gasolina
também voltou a salgar ainda mais (trata-se aqui dos preços de combustíveis no
mercado que é referência para a Petrobras, nos EUA). Pela política da paridade
internacional, a petroleira já deveria estar estudando pelo menos um reajuste
da gasolina.
E daí? O que têm a ver trigo, Índia,
reajuste da Petrobras? Obviamente, trata-se de inflação. Em maio, o IPCA do mês
deve ser menos altinho, dada a contribuição da energia elétrica (caiu a
bandeira tarifária mais cara). O dólar, apesar dos faniquitos recentes, custa
menos do que no início do ano.
Mas faltam trigo e diesel. Se a situação da
Covid na China der um refresco, é possível que o barril do petróleo também
volte a subir (da casa dos US$ 110 para US$ 120).
No mundo do poder, fala-se menos do preço da comida do que de diesel e gasolina, que afetam eleitorados mais vocais. Mas a raiva meio muda vai continuar fervendo por causa de carestias diversas. O governo Bolsonaro, sem política para coisa alguma, "vai fazer alguma coisa", nem que seja para salvar um par de pontos nas pesquisas eleitorais. É mais rolo, mas não uma solução.
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