O Estado de S. Paulo
A imprensa europeia observa que os escritores brasileiros tratam cada vez mais de questões raciais
O romance Marrom e Amarelo, do escritor
brasileiro Paulo Scott, teve excelente repercussão na Europa. Lançado neste ano
em inglês com o título Phenotypes, foi indicado a prêmios internacionais e
coberto de elogios. “Trata-se de um enredo tecido com arte sobre raça,
privilégio e culpa”, escreveu a crítica Lucy Popescu, do jornal britânico The
Guardian.
A imprensa europeia observou que os
escritores brasileiros tratam cada vez mais de questões raciais – e, com isso,
se destacam. Foi possível constatar a tendência na Fliaraxá, uma das feiras
literárias mais tradicionais do País. O evento, cujo tema deste ano foi
“Abolição, Independência e Literatura”, contou com mais de 60% de escritores
negros.
Entre eles estava a filósofa Djamila Ribeiro, que acaba de ocupar uma cadeira na Academia Paulista de Letras. O homenageado da Fliaraxá foi Itamar Vieira Júnior, autor de outro livro que, a exemplo de Marrom e Amarelo, vem fazendo carreira internacional brilhante. Torto Arado narra a saga de uma família de descendentes de escravos. Os dois romances, o de Scott e o de Vieira Júnior, tocam na ferida aberta do racismo brasileiro.
No mesmo dia em que se apresentou na
Fliaraxá, Scott discorreu sobre o assunto na Academia Brasileira de Letras. “O
marco dessa nova leva da literatura brasileira é Cidade de Deus, de Paulo Lins,
e de duas décadas para cá tivemos um avanço respeitável”, diz ele, que é
entrevistado no minipodcast da semana.
O êxito de Ribeiro, Scott e Vieira Júnior
mostra que o meio cultural brasileiro despertou para o racismo, tema tão
incômodo quanto essencial, e praticamente ausente do debate eleitoral deste
ano. Nesta semana, mais vidas negras se perderam – no morticínio da Vila
Cruzeiro e na morte brutal, por asfixia, do sergipano Genivaldo de Jesus
Santos. Os dois casos foram considerados pela imprensa internacional exemplos
de como a violência, no Brasil, afeta principalmente a população negra.
No Roda Viva com Gilberto Gil, a diretora
de televisão Amora Mautner leu uma pergunta do pai, Jorge Mautner: “Até quando
esperaremos pela segunda abolição?” Gil respondeu: “Cada vez mais produzimos no
Brasil as condições pela plenitude da abolição. Há o movimento negro, e vemos o
acolhimento cada vez maior do Estado, ainda que fragmentado, aos projetos
emancipadores”.
O imenso artista brasileiro, que há muito tempo promove o trânsito do tema racial entre a cultura e a política, alerta para o fato de que muito já se fez, mas ainda há um longo caminho a percorrer. A política precisa, urgentemente, seguir os sinais captados pelas antenas da literatura.
Um comentário:
Sempre que eu leio romance eu sinto que não estou aprendendo nada,é muito difícil um texto-ficcional que eu goste,de Jorge Amado eu só gostei de ''Tenda dos Milagres'' por exemplo.
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