Valor Econômico
Rejeição a Doria no Estado que governou é
fenômeno de difícil compreensão
A ascensão vertiginosa de João Doria no
PSDB, partido pelo qual passou de prefeito da maior cidade do país a governador
do maior Estado em apenas dois anos, iludiu o ex-governador sobre o alcance de
suas ambições. Foi derrotado pelo mesmo poder paulista que o consagrou.
A senadora Simone Tebet (MDB-MS) pode vir a
ser a grande vitoriosa da desistência, mas ainda precisa passar pela convenção
de um partido rachado ao meio que tem na inexistência de uma candidatura uma
saída de conciliação.
Duas postulações presidenciais já foram
moídas em convenções do MDB, Itamar Franco (1998) e Anthony Garotinho (2006).
Aquele que, desde já, é o maior vitorioso
da desistência de Doria é o governador de São Paulo e candidato à reeleição.
Rodrigo Garcia foi tornou-se vice de Doria na esteira da aliança com o DEM,
partido ao qual o governador era filiado. Com esta aliança, Doria esperava
pavimentar sua candidatura presidencial e Garcia, seu caminho para a
titularidade no Palácio dos Bandeirantes em 2022.
A rejeição a Doria, resultante de uma liderança que sempre se colocou, ostensivamente, como o principal mentor e beneficiário de sua gestão, era tóxica. Pesquisas internas do PSDB mostravam que, mesmo entre os que aprovavam a gestão, 46% rejeitavam o apoio.
É um feito raramente visto. O presidente
Jair Bolsonaro tem rejeição igualmente alta, no patamar dos 60%, mas tem um apoio
de 25% a 30% do eleitorado. Desperta o ame-o ou deixe-o.
Já Doria parece ter só o deixe-o. E
arriscava contaminar quem dele se aproximasse. Um feito ainda não completamente
explicado em se tratando do gestor que mais fez pela vacinação dos brasileiros.
Por isso, Garcia, maior prejudicado por sua
candidatura, é, por óbvio, o maior beneficiário da desistência. Sem Doria no
horizonte, o governador poderá explorar os benefícios de uma gestão com o maior
volume de recursos públicos (R$ 27 bilhões apenas em 2022) da história sem
partilhar o ônus da rejeição daquele que o colocou no cargo.
Não é uma repetição da traição de Doria ao
padrinho, Geraldo Alckmin, porque Garcia, ao contrário do antecessor, não agiu
ostensivamente. Até porque prevaleceu o instinto de sobrevivência do
ex-governador. Como Doria é um empreendedor cujos negócios se fazem na
aproximação de empresários e governos, corria o risco de, além do governo
federal, ficar de fora, também do paulista.
Um sinal de que as portas permanecem
abertas é a presença de Garcia como o primeiro debate que o Lide promoverá com
governadores nesta terça-feira, 24.
Garcia contou, ainda, com a diligência de
dois dirigentes, o presidente do seu partido, Bruno Araújo (PE) e o presidente
do MDB, Baleia Rossi (SP). Araújo agiu para preservar o governo de São Paulo.
Sem o governo paulista, o PSDB, que está em crise desde que deixou o Palácio do
Planalto em 1998 e se mostra incapaz de levar a cabo o resultado de prévias
partidárias, como aconteceu com Doria, corre o risco de abraçar a irrelevância.
Já Baleia agiu para preservar uma via entre
lulistas e bolsonaristas do MDB. Além disso, aliados do ex-presidente Michel
Temer não estão convencidos de que ele desistiu. Em artigo no domingo em “O
Estado de S.Paulo” voltou a se apresentar como o “pacificador”.
Sem Doria no horizonte, Garcia fica mais
leve que o pré-candidato do Republicanos ao governo paulista, Tarcísio Freitas,
que tem a missão de diminuir a rejeição do presidente Jair Bolsonaro no Estado
mas pode acabar sendo por ela engolido. Vai precisar de muito tempo de
televisão para construir uma imagem em São Paulo o que pode ser facilitado com
a adesão do PP à sua candidatura, que pode vir a ser anunciado ainda esta
semana.
Ambos disputam a vaga de finalista contra o
líder da disputa, Fernando Haddad, primeiro candidato do PT com chances de
chegar ao segundo turno desde a campanha de José Genoino, em 2002. Se Haddad é
beneficiário da candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que
lidera no Estado, Garcia não poderia enfrentá-lo carregando Doria.
Um comentário:
Quem diria,Lula na presidência e Haddad no governo do meu estado! Nada como um dia atrás do outro.
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