Por Janaína Figueiredo /O Globo
Com a eleição de
Gustavo Petro como novo presidente da Colômbia, seis países da
América do Sul passarão a ter governos articulados numa frente de esquerda, que
deixou claras suas posições, demandas e bandeiras na Cúpula das
Américas, realizada na primeira semana de junho, em Los Angeles.
O grupo, já formado por Argentina, Bolívia,
Chile, Peru, Venezuela e, agora, Colômbia, se fortalece com a presença e
liderança do México, governado por Andrés Manuel López Obrador, que não
participou do encontro presidencial em repúdio à exclusão, por parte da Casa
Branca, de Venezuela, Nicarágua e Cuba.
Em seu discurso de vitória, Petro disse
estar, junto a seus aliados e eleitores, "escrevendo uma nova história
para a Colômbia e a América Latina". Uma história que o presidente eleito
espera escrever junto a Luiz Inácio
Lula da Silva, a quem apoia publicamente na campanha eleitoral
brasileira.
Os contatos e conversas acontecem há bastante tempo. Petro esteve na posse de Boric no Chile, em março passado. É provável que convide Lula para sua própria posse, no próximo dia 7 de agosto, como também o fez o presidente chileno. Já o venezuelano Nicolás Maduro não deverá estar na lista de convidados, porque já faz algum tempo que Petro entendeu que devia se descolar do chavismo para derrubar fantasmas de que sua eleição transformaria a Colômbia numa nova Venezuela.
Mas o presidente eleito vai recompor
relações com o país vizinho, e também retomar o diálogo. Os países dessa nova e
cada vez maior frente de esquerda latino-americana condenam violações dos
direitos humanos, mas pregam a inclusão de governos que os violam em debates
regionais.
É um novo momento da política continental.
Planos de intervenção e ofensivas para derrubar Maduro são coisas do passado. A
palavra de ordem agora é diálogo e os que defendem medidas da chamada
diplomacia coercitiva, entre elas sanções econômicas e políticas, são cada vez
menos.
Os três países que lideraram a campanha
internacional a favor do reconhecimento de Juan Guaidó como presidente interino
da Venezuela, em 2019, foram Estados Unidos, Brasil e Colômbia. Restam os EUA,
que na Cúpula das Américas foram pressionados para mudar de posição, e o Brasil
de Jair Bolsonaro.
Até a noite deste domingo, o Palácio do
Planalto não havia se
pronunciado sobre a eleição na Colômbia. Como no caso de Boric,
no Chile, a relação bilateral deverá esfriar até a eleição brasileira. A
Colômbia de Petro, como o Chile de Boric, aposta na volta de Lula ao poder.
Esta nova frente de esquerda cresce e se
consolida em momentos de grandes desafios regionais e globais. As articulações
poderiam levar à reativação de blocos como a União de Nações Sul-americanas
(Unasul), ou alguma iniciativa similar. As experiências efêmeras de grupos
criados por governos de direita nos últimos anos devem desaparecer. A
Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac) deve ganhar ainda
mais peso. A expectativa agora é o Brasil, que saiu da Celac em 2020 e, desde
então, se recusou a participar de encontros do grupo.
A direita latino-americana e global sofreu
mais um revés num país que acreditava dominar, e está em estado de alerta.
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