terça-feira, 21 de junho de 2022

Merval Pereira: A sombra do golpe

O Globo

A relação tensa entre o Judiciário e o Executivo, este auxiliado pelo Legislativo, e as investidas do governo contra a Petrobras, criando um clima de insegurança jurídica para os investidores e um ambiente de tensão na campanha eleitoral que coloca em risco a economia já abalada, fazem com que a tentativa de um golpe de Estado caso o vencedor da eleição presidencial de outubro não venha a ser o presidente Bolsonaro seja considerada uma possibilidade concreta por nada menos que 23% dos 325 executivos, políticos, gestores, acadêmicos e especialistas dos setores privado, público e do terceiro setor de todo o país ouvidos na primeira quinzena de junho pela Macroplan, consultoria especializada em estratégia e análises prospectivas, sob a coordenação do economista Claudio Porto.

— As referências a essa possibilidade, embora minoritárias, nos trazem a certeza de que a democracia brasileira passará por um grande teste de estresse antes, durante e depois das eleições de 2022 — pontua Porto.

As pressões sobre a Petrobras só cessarão quando for montado um conselho na empresa que mude a política de preços. Mas, para isso, além de demitir três presidentes em pouco tempo, é preciso alterar regulamentações internas, o que é perigoso. Acionistas minoritários e investidores estrangeiros reclamarão de quebra de contrato, será uma disputa jurídica monumental.

Bolsonaro dá prejuízos em cima de prejuízos à Petrobras, além de não dar segurança jurídica a investidores. O candidato líder das pesquisas, o ex-presidente Lula, vai pelo mesmo caminho de controle de preços. É um suicídio o que estão fazendo atrás de votos, com uma política de preço populista que sempre deu errado, vide a Venezuela, que tinha uma produção fantástica de petróleo e quebrou a PDVSA. O próximo presidente da República terá muita dificuldade para recuperar a imagem do Brasil, e se for Bolsonaro, o país não entrará na OCDE; vamos ficar fora do circuito dos países democráticos ocidentais, porque continuaremos a ter um presidente que não respeita os limites da democracia.

Hoje é o presidente da Câmara, Arthur Lira, quem manda no governo. O Centrão apostou todas as fichas na reeleição de Bolsonaro e está vendo a coisa desandar. Por isso seus líderes adotam medidas imediatistas, que só fazem mal ao país. Mesmo que Bolsonaro não se reeleja, Lira atua para que políticos do Centrão tenham boa votação e que garanta sua reeleição como presidente da Câmara. É o grande comandante político da campanha da reeleição, que transforma o preço da gasolina em assunto fundamental, quando setores essenciais do país, como educação, meio ambiente, cultura e saúde, são relegados a segundo plano.

De acordo com a consultoria Macroplan, a incerteza que se destaca no campo político com relação à eleição presidencial gira em torno da chance de um terceiro candidato passar para o segundo turno contra um dos dois atuais preferidos nas pesquisas de opinião. Mesmo assim, as chances de uma via alternativa ir para o segundo turno caíram 23 pontos (de 41% para 18%, na comparação com pesquisa realizada em novembro de 2021), o que reforça o avanço acelerado da polarização Bolsonaro x Lula.

No campo econômico, a incerteza principal é a possibilidade de a economia melhorar neste ano, com um crescimento maior que 2,5% e inflação menor que 8%. Finalmente, no campo institucional, a dúvida predominante está na probabilidade de o candidato à Presidência tomar posse e governar, se o vitorioso não for o atual mandatário.

Do cruzamento das previsões e expectativas colhidas entre os entrevistados com os estudos realizados pela consultoria, o cenário mais provável hoje, com 57% de chance, é a polarização Lula e Bolsonaro no segundo turno, com crescimento econômico baixo (ou mesmo nulo ou negativo) e inflação superando 8% ao ano, que tenderia a favorecer o candidato Lula. O segundo cenário mais provável, com 26% de chance, é novamente de um segundo turno com uma polarização Bolsonaro x Lula, mas com um panorama diverso: a economia cresce com mais vigor, talvez superando 2,5% ao ano, e a inflação se mantém em torno de 8%. Um panorama que poderia, eventualmente, ser mais favorável à reeleição de Bolsonaro.

Na sequência, surgem dois cenários com menor probabilidade de ocorrer. O primeiro, com 12% de chance, é uma disputa entre um terceiro candidato (ainda indefinido) e Lula, também num contexto de crescimento econômico baixo e inflação significativa. O outro, com apenas 5% de probabilidade, é um confronto entre um terceiro candidato e Bolsonaro num contexto de economia em expansão e inflação cadente.

Um comentário:

ADEMAR AMANCIO disse...

A chance do golpe é real,Bolsonaro só pensa nisso.