quarta-feira, 29 de junho de 2022

Fábio Alves: Qual a inflação certa?

O Estado de S. Paulo

Começa a ganhar corpo a discussão sobre qual medida de inflação o BC deve acompanhar

Estaria o Banco Central mirando a medida mais apropriada de inflação para calibrar o atual ciclo de alta da taxa Selic? Essa dúvida vem ganhando corpo mundo afora com o fracasso das autoridades monetárias em conter a disparada dos índices de preços desde o ano passado.

O Federal Reserve (Fed) foi duramente criticado neste mês, após surpreender o mercado e elevar os juros americanos em 0,75 ponto porcentual, ao atribuir essa alta mais agressiva à piora nas expectativas de inflação contidas no índice de sentimento ao consumidor da Universidade de Michigan.

Essa expectativa de inflação nos Estados Unidos, especificamente, tem elevada correlação com os preços da gasolina, sobre os quais o Fed não tem qualquer controle, uma vez que são influenciados pelas cotações do petróleo.

Por que perseguir uma medida de inflação sobre a qual não se tem controle, pois não expurga preços voláteis, como combustíveis e alimentos, podendo provocar uma alta de juros mais agressiva do que o necessário?

No Brasil, muitos economistas e o BC defendem monitorar o núcleo – definido como a inflação subjacente –, e não o índice cheio. Num estudo, o

BC diz que “as medidas de inflação subjacente são usualmente construídas para remover o componente transitório dos índices de preços, sinalizando a tendência inflacionária ou o patamar esperado para a inflação depois de cessados os efeitos de choques temporários”.

Já a economista-chefe do Credit Suisse Brasil, Solange

Srour, diz que o BC deveria ter como meta o que a sociedade entende como inflação, que é o índice cheio, e os núcleos apenas como instrumento auxiliar. “Para lidar com os choques temporários, existem as bandas da meta de inflação”, diz.

No ano passado, Solange fez um estudo, publicado em relatório a clientes, mostrando que, no Brasil, os núcleos têm apresentado nos últimos anos baixa precisão em anteceder o que vai acontecer com a inflação. Ela atribui isso ao fato de a economia brasileira ter sido sujeita, historicamente, a frequentes choques e de o nível da inflação ser consistentemente elevado.

Ela também mostrou que a persistência da inflação no Brasil é uma das mais elevadas entre os países emergentes, em razão, entre outros fatores, da indexação de preços. Assim, diz ela, usar medidas de núcleo em economias onde a persistência da inflação é elevada pode ser enganador, pois elas podem não refletir a dinâmica da inflação no futuro.

Para agravar, choques sucessivos de oferta sem precedentes destruíram a noção de uma escalada apenas temporária dos preços.

Um comentário:

ADEMAR AMANCIO disse...

''Índice cheio'' e ''os núcleos''.
Sei... Quer dizer,não sei,rs.