Folha de S. Paulo
Oposição não pode entrar em jogo no qual bolsonarismo
tenta ampliar a tensão
Eventos como o de domingo, em que um
atirador bolsonarista matou um tesoureiro do PT que celebrava
aniversário em Foz de Iguaçu, fazem qualquer um se preocupar com os próximos
meses.
Seria mentira dizer que só existe
extremismo no bolsonarismo. Mas, de todos os grupos políticos do país, o
bolsonarismo é disparado hoje o que mais o estimula. Nas
franjas mais radicais da esquerda, há também promoção de ódio a todas as
instituições democráticas. Mas no caso do bolsonarismo, esse discurso não está
apenas na margem; ele parte do próprio centro; é apoiado e ecoado pelas
lideranças.
Resolvi navegar um pouco pelo perfil do
assassino de Foz do Iguaçu no Twitter. São dias e dias xingando personalidades
de oposição e jornalistas, além de replicar conteúdo de influenciadores
pró-Bolsonaro. Num post em seu Facebook, falava em "limpar o Brasil do
PT".
O que mais me impressionou, contudo, é que esse tipo de perfil nas redes não é uma exceção. Não são um ou dois casos psiquiátricos que agem assim. O que eu vi ali foi a mesma coisa que vejo sempre que entro no perfil de algum hater. São milhões e milhões de "cidadãos de bem, patriotas e cristãos" que dedicam seu tempo livre a xingar os outros, certos de que com sua boca suja representam a virtude moral contra as hostes do inferno.
Como se transformaram nisso? O preparo foi
longo, mas simples. Basta instilar a paranoia e o ódio continuamente nos
seguidores: a mídia mente o tempo todo, as urnas estão fraudadas, a vacina
mata, as universidades produzem drogas, as escolas pervertem as
crianças, só armado o cidadão pode se proteger dos comunistas. Dos milhões que
sorverem essa mensagem dia e noite, alguns serão desequilibrados o bastante
para ir do discurso à prática, e cometer atos de terrorismo e assassinato.
Graças ao governo, eles agora estão mais armados.
Quando o previsível acontecer, basta a
autoridade repudiar o ato, que é o que Bolsonaro fez. Mesmo em sua nota
de repúdio, contudo, o presidente estimulou o extremismo: disse
que a violência é própria da esquerda, não da direita, justamente o tipo de
discurso demonizador que justifica atos de violência do próprio lado.
Neste momento, todo bolsonarista moderado
—e por moderado me refiro àquele apoiador que é verdadeiramente contra o uso da
violência e da ruptura institucional— deveria repudiar publicamente atos de
violência ou de terrorismo bolsonaristas. O silêncio dos moderados é a atitude
cúmplice que alimenta o extremismo.
E é lamentável ver Lula elogiar a
agressão física de seu aliado contra um empresário que viera ao
Instituto Lula xingar o ex-presidente. Agredir alguém numa briga (um empurrão
numa avenida movimentada que resultou em lesão grave) é muito diferente de
invadir um aniversário e atirar no aniversariante, mas é o tipo de conduta
violenta que, se tolerada —pior, homenageada—, justifica os intentos violentos
do outro, além de produzir uma sensação de equivalência na população que não
acompanha os eventos de perto.
Os ataques com bombas ou o assassinato do tesoureiro são ruins —eleitoralmente— para o governo. Mostram uma militância crescentemente desesperada e apostando no caos. Se a PEC Kamikaze não melhorar as pesquisas, isso tenderá a piorar. Da parte da oposição, a resposta tem que ser unívoca: firmeza na defesa da lei e da ordem, sem ajudar na escalada da violência. Os únicos que ganham com mais arruaça e mortes são os golpistas.
Um comentário:
Joel Pinheiro colocando os pontos nos is.
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