O Globo
Ciro Gomes vai para o primeiro turno
sabendo que não chegará ao segundo
Ralph Nader foi um tremendo sujeito. Aos 88
anos, está vivo, mas foi. Ele apareceu nos anos sessenta do milênio passado
mostrando a falta de segurança dos carros americanos. Daí, tornou-se o rosto de
uma figura nascente: o consumidor. Ciro Gomes nunca empunhou uma bandeira
universal como Nader, mas os dois têm um ponto em comum: ambos disputaram a
Presidência de seus países quatro vezes, sempre com mínimas chances de vitória.
Na última, em 2000, Nader teve três milhões
de votos. Não fez maioria em qualquer estado do Colégio Eleitoral, mas teve 97
mil votos na Flórida. Lá, George W. Bush derrotou o democrata Al Gore por uma
diferença de 537 votos. Essa margem foi contestada nos tribunais, mas a Suprema
Corte suspendeu a recontagem, e o republicano levou a Casa Branca. Desde então,
Nader carrega a cruz de ter ajudado a eleição do republicano. É uma acusação
aritmeticamente justificada, pois dos 97 mil votos de Nader certamente sairia
uma vantagem de 538, o que daria a vitória a Gore.
O fantasma de Nader (que está vivo, é bom repetir), ronda Ciro Gomes. É uma possibilidade lógica, na hipótese de haver um segundo turno e, como em 2018, Bolsonaro sair vitorioso.
Aceitando-se que Nader decidiu a eleição a
favor de Bush, deve-se reconhecer que ele não poderia prever a encrenca da
Flórida, onde 537 votos reelegeram o republicano. (A Flórida tinha 25 votos
eleitorais e foi o segundo maior estado capturado por Bush). Além disso, sete
outros candidatos independentes disputavam a eleição no estado e tiveram votos
que cobriram a maldita diferença. Há mais de vinte anos, Nader reclama de que
só ele é responsabilizado pela vitória de Bush.
Ciro Gomes vai para o primeiro turno sabendo que não chegará ao segundo. Suas mágoas com Lula e o PT são conhecidas e justificadas. Os comissários descumpriram promessas e traíram-no em várias ocasiões. No último debate dos candidatos, Lula chamou-o de “amigo”, mas no inferno petista abundam amizades.
Bolsonaro não é George W. Bush, assim como
Lula não é Al Gore. Ciro Gomes sabe essas diferenças.
Imprevisível, contudo, será o peso do
fantasma de Ralph Nader (repetindo, ele está vivo).
Mimo para os planos de saúde
Faltando poucos dias para a eleição,
ninguém haveria de prestar atenção em outras coisas. Pois a Agência Nacional de
Saúde Suplementar, a xerife das operadoras, liberou a movimentação pelas
empresas de R$ 12 bilhões das provisões destinadas a garantir a solidez do
mercado. Assim como as companhias de seguros, as operadoras de saúde são
obrigadas a manter uma provisão para proteger a clientela. Os ativos
garantidores desse mercado vão a R$ 33 bilhões.
O mimo justificou-se porque no primeiro
semestre deste ano as operadoras tiveram um prejuízo de R$ 691,6 milhões. Visto
assim, nada mais natural: há um mercado, ocorre um imprevisto e sacam-se
recursos das provisões destinadas a protegê-lo.
Imprevisto? Entre 2019 e 2021 as operadoras
de saúde lucraram R$ 32,7 bilhões. Quando uma empresa dá lucro, distribui
dividendos. Quando dá prejuízo, pode ir aos acionistas.
Proteger o mercado? O prejuízo de 2022 não
foi linear. As seguradoras lucraram R$ 944 milhões no setor de saúde. Ganha um
fim de semana num garimpo ilegal quem souber como um setor precisa de gambiarra
porque teve um prejuízo de R$ 691,6 milhões se um de seus segmentos teve um
lucro de R$ 944 milhões.
Não é o conjunto das operadoras que passa
por um mau momento. São empresas e modos de gestão triunfalistas ou temerários.
No mundo das operadoras de saúde privada existem diversos tipos de companhias.
Algumas são verticalizadas, outras são cooperativas ou mesmo seguradoras. Como
as quitandas, todas dependem de gestão.
Afrouxar as normas de acesso às provisões
que garantem a solidez das operadoras é um estímulo à má gestão. O grande
problema dessas empresas é a absoluta falta de controle dos custos (y de otras
cositas más, como salários e bônus).
As novidades tecnológicas abriram a porta
do mercado para empulhações. A Agência Nacional de Saúde Suplementar dispõe de
quadros e informações suficientes para expor as enganações.
O mimo de R$ 12 bilhões é uma girafa, mas
pelas suas conexões, há empresas que cobiçam um jardim zoológico, avançando
livremente sobre todos os R$ 33 bilhões das provisões.
Houve um tempo em que os bancos brasileiros
faziam o que bem entendiam porque se julgavam protegidos por uma lei, segundo a
qual não podiam quebrar. Quebraram quase todos. As operadoras de planos de
saúde julgam-se invulneráveis. Confundem boas conexões com boa gestão. Esse foi
o modelo das empreiteiras.
História das florestas
Está nas livrarias “Uma história das
florestas brasileiras”, de Zé Pedro de Oliveira Costa. São 308 páginas de uma
visita a Pindorama com o olhar do mato. A certa altura Zé Pedro diz: “O mato é
o mato, e a casa do indígena é o mato trabalhado. A casa de pau-a-pique do
caboclo, filho de indígenas com portugueses, é a terra e o mato trabalhado.
Indígenas e caboclos são parte do mato. Quando o mato acaba, acaba sua
cultura.”
Zé Pedro é um veterano militante das causas
do meio ambiente. Geriu a Estação Ecológica da Juréia, em São Paulo, e ajudou a
criar o sistema brasileiro de Reservas da Biosfera, que abrange 150 milhões de
hectares. Batalhou pelo Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque e pela
proteção dos arquipélagos de São Pedro e São Paulo e de Trindade e Martim Vaz.
Tudo isso, com discrição.
Escrito com elegância e cuidadosamente
ilustrado, o livro oferece uma viagem pelas matas brasileiras, da Amazônia com
árvores nascidas antes de Cristo, ao pampa. Dos mangues à Mata Atlântica, onde
as espécies de macacos são 23, dezessete correndo o risco de desaparecer. Vai
ao mar e informa que as espécies de tartarugas marinhas são sete e cinco vivem
em águas brasileiras. Salta para a culinária e, com a ajuda de Luiz da Câmara
Cascudo, inclui uma receita de macaco cozido com banana. Isso tudo com a ajuda
de Guimarães Rosa, Tom Jobim e Luiz Gonzaga.
Na sequência, mostra como a Coroa
Portuguesa, bem como o Império e a República brasileira tentaram e conseguiram
proteger (mal) esse patrimônio.
Enquanto a descrição dos matos é motivo de
orgulho, a crônica das tentativas de preservação lista utopias, fracassos e
cobiças. O livro aponta o que deveria funcionar e não funciona. Salvam-se
algumas iniciativas bem sucedidas e a inclusão do respeito ao meio ambiente na
agenda nacional, a despeito do surgimento dos agrotrogloditas.
FHC
Fernando Henrique Cardoso divulgou uma nota
declarando seu voto em termos programáticos. Não citou nomes, nem deveria
citá-los, pois a senadora tucana Mara Gabrilli é candidata a vice na chapa de
Simone Tebet.
É preciso beber uma chaleira de água
fervendo para supor que ele possa pedir voto para Bolsonaro. Mesmo assim, teve
gente que não gostou.
Nada se compara à intolerância
bolsonarista, mas ela não é a única.
5 comentários:
PT = Post Traumatic Disease Desordens. Por que? Roubalheiras e traição.
Até tu Brutus?
A intolerância bolsonarista não é a única, MAS É A MAIOR! Disparadamente...
Já a VIOLÊNCIA bolsonarista é única e INCOMPARÁVEL! O mesmo vale para as mentiras bolsonaristas...
Fora bolsonaro vara curta!
É,tem muito esquerdista chato também,sem a violência explícita da extrema-direita,claro.Quanto ao livro sobre o meio ambiente,eu só não gostei da receita de macaco cozido com banana.Falou um chato,rs.
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