domingo, 25 de setembro de 2022

Rubens Ricupero* - O dever dos neutros 2

Folha de S. Paulo

Escolha agora é entre a esperança ou o agravamento da barbárie

Entre justiça e injustiça, não se pode ser neutro. Com termos semelhantes a esses, que evocavam a posição de Rui Barbosa na Primeira Guerra Mundial, escrevi artigo publicado nesta Folha pouco antes do segundo turno de 2018 ("O dever dos neutros", 11/10/18).

Encontro-me na mesma posição, com a diferença de escrever antes do primeiro turno. Na época, afirmei que não podia ser neutro entre valores e contravalores, democracia e autoritarismo, meio ambiente e devastação. Tudo o que temia se revelou mil vezes pior. À luz da experiência dos horrores destes quatro anos, nem eu, nem ninguém, tem o direito de não escolher entre a esperança de um governo que salve o pouco que sobrou dos ideais da Constituição de 1988 e a continuação e o agravamento da barbárie que estamos sofrendo.

O princípio de uma terceira via não está em jogo porque ela não existe mais. Existiu antes e se chamou Marina Silva, mas foi triturada pelo moinho dos marqueteiros. Em 2018, ainda se podia ignorar que Jair Bolsonaro encarnaria a mais grave contestação ao sistema eleitoral democrático. Agora não, depois da repetição infinita da ameaça do presidente de não reconhecer nem o resultado do primeiro turno. A prudência aconselha evitar condições propícias à contestação. Quanto mais cedo e mais decisiva for a vitória da democracia, menos espaço haverá para seus inimigos.

Já inquieta a transição demasiada longa para a transmissão do poder. Não é mais a loucura da República Velha, que elegia o presidente em março para empossá-lo em 15 de novembro. A espera atual continua longa demais. Favorece os conspiradores, como se viu na eleição de Juscelino Kubitschek em 1955, a primeira em que votei. Quem garantiu então o respeito ao resultado foi um general legalista no Ministério da Guerra. Não preciso dizer que hoje não se pode contar com a mesma situação.

Votar, porém, não basta. Ao escolher a chapa Lula-Alckmin, é preciso deixar claro que votamos em favor de aliança suprapartidária em favor da democracia, não para consagrar a volta de um partido ou de políticas envelhecidas. Ao se aliar ao ex-governador paulista, Lula reconheceu que sozinho nem ele nem seu partido tem força para ganhar, ou no caso de vitória, para governar.

No Brasil atual, nenhum partido, nenhuma posição pura de esquerda e direita, goza de hegemonia. O que existe é maioria em favor de temas cruciais: democracia, Estado de Direito, Constituição de 1988, combate à fome, à pobreza, à desigualdade, ao desemprego, ao racismo e ao machismo; proteção aos indígenas, promoção do acesso de todos à educação, à saúde, à cultura e à ciência; crescimento sustentável com redistribuição e responsabilidade fiscal.

Deve servir-nos de alerta o exemplo da monarquia, em que todos eram contra a escravidão, mas não chegavam a acordo sobre quando e como aboli-la. O consenso sobre os fins é sempre mais fácil que sobre os meios. O futuro governo terá de empreender a árdua tarefa de reconstruir sobre a terra arrasada. Terá de governar num mundo e país que não são mais os mesmos de 2003.

Contará com a oposição de algo antes inexistente: uma extrema direita aguerridaarmada e com apoio em influentes setores sociais. Terá, por exemplo, de enfrentar na Amazônia a resistência do lobby ruralista, de grileiros, garimpeiros, madeireiros ilegais. Precisará negociar com o Congresso novo pacto orçamentário que elimine as emendas secretas e sem racionalidade. Não poderá adiar novamente uma reforma tributária que abra caminho à redistribuição da excessiva concentração de renda no topo. Tampouco atingirá tal objetivo sem reforma profunda do sistema político, partidário e eleitoral.

Nada disso será possível sem ampla aliança que supere o sectarismo partidário ou ideológico. O governo não poderá se dar ao luxo de desperdiçar nenhuma colaboração no esforço paciente de construir consenso sobre meios, prioridades e prazos. Depois de quatro anos de demolição, é preciso abertura de espírito para acolher todos os que se disponham a trabalhar na reconstrução do Brasil.

*Diplomata, é ex-embaixador do Brasil em Washington (1991-1993) e Roma (1995) e ex-ministro do Meio Ambiente e da Fazenda (1993-1994 e 1994, governo Itamar Franco); titular da Cátedra José Bonifácio, da USP

7 comentários:

Anônimo disse...

Mais um cara de pau que já deu posse ao Lula o ladrão , o traidor da Pátria, que assaltou de dentro do Palácio do Planalto os cofres públicos do Brasil dizendo defender os trabalhadores, que vergonha
apoiar um velho decrépito, cachaceiro que já provou que não tem a menor condição de governar a nossa nação e foi parar na cadeia de tantos crimes cometidos e de lá tirado pelo seus amigos do STF pra hoje está aí debochando da cara do brasileiro em campanha para presidente, e infelizmente com apoio do consórcio de imprensa marrom, outrora a grande imprensa nacional

Anônimo disse...

E vc é mais um idiota a acreditar em mentiras e a não reconhecer que o País era melhor e mais respeitado quando Lula era Presidente!

Paulo dos Santos Andion disse...

Tenho certeza de que a maior parte desse assunto está sendo discutido na Escola Superior de Guerra o que está com a impressão diabólica é a ignorância dos dirigentes de Estado em relação ao tamanho atual da máquina pública e a vontade Popular de encontrar um estadista na cidade de concreto abstrato de Brasília.

Anônimo disse...

Como pode um país ser mais respeitado com Lula se os escândalos em seu governo mensalão impetrou não foram de conhecimento internacional
O juiz Sérgio Moro virou herói internacional por combater a corrupção galopante no Brasil do Lula toma jeito seu fanático
O Brasil não estava melhor, o Brasil foi assaltado pelo PT , caí na real, virou chacota internacional inclusive Obama botou em seu livro que Lula foi corrompido por bilhões de dólares
O ladrão cachaceiro vai ser jogado na lata de lixo da história

Anônimo disse...

Democracia X Bolsonaro! O diplomata tem razão na sua argumentação! O genocida fez mil vezes o pior que se esperava dele. Com mais 4 anos de DESgoverno Bolsonaro, a barbárie estará normalizada em nosso país! Cadeia para o genocida!

Anônimo disse...

Bolsonaro vara curta na cadeia!

Anônimo disse...

Pode já ir se acostumando presidente reeleito!