domingo, 25 de setembro de 2022

Elio Gaspari - O fantasma que ronda Ciro Gomes

O Globo

Ciro Gomes vai para o primeiro turno sabendo que não chegará ao segundo

Ralph Nader foi um tremendo sujeito. Aos 88 anos, está vivo, mas foi. Ele apareceu nos anos sessenta do milênio passado mostrando a falta de segurança dos carros americanos. Daí, tornou-se o rosto de uma figura nascente: o consumidor. Ciro Gomes nunca empunhou uma bandeira universal como Nader, mas os dois têm um ponto em comum: ambos disputaram a Presidência de seus países quatro vezes, sempre com mínimas chances de vitória.

Na última, em 2000, Nader teve três milhões de votos. Não fez maioria em qualquer estado do Colégio Eleitoral, mas teve 97 mil votos na Flórida. Lá, George W. Bush derrotou o democrata Al Gore por uma diferença de 537 votos. Essa margem foi contestada nos tribunais, mas a Suprema Corte suspendeu a recontagem, e o republicano levou a Casa Branca. Desde então, Nader carrega a cruz de ter ajudado a eleição do republicano. É uma acusação aritmeticamente justificada, pois dos 97 mil votos de Nader certamente sairia uma vantagem de 538, o que daria a vitória a Gore.

O fantasma de Nader (que está vivo, é bom repetir), ronda Ciro Gomes. É uma possibilidade lógica, na hipótese de haver um segundo turno e, como em 2018, Bolsonaro sair vitorioso.

Aceitando-se que Nader decidiu a eleição a favor de Bush, deve-se reconhecer que ele não poderia prever a encrenca da Flórida, onde 537 votos reelegeram o republicano. (A Flórida tinha 25 votos eleitorais e foi o segundo maior estado capturado por Bush). Além disso, sete outros candidatos independentes disputavam a eleição no estado e tiveram votos que cobriram a maldita diferença. Há mais de vinte anos, Nader reclama de que só ele é responsabilizado pela vitória de Bush.

Ciro Gomes vai para o primeiro turno sabendo que não chegará ao segundo. Suas mágoas com Lula e o PT são conhecidas e justificadas. Os comissários descumpriram promessas e traíram-no em várias ocasiões. No último debate dos candidatos, Lula chamou-o de “amigo”, mas no inferno petista abundam amizades.

Bolsonaro não é George W. Bush, assim como Lula não é Al Gore. Ciro Gomes sabe essas diferenças.

Imprevisível, contudo, será o peso do fantasma de Ralph Nader (repetindo, ele está vivo).

Mimo para os planos de saúde

Faltando poucos dias para a eleição, ninguém haveria de prestar atenção em outras coisas. Pois a Agência Nacional de Saúde Suplementar, a xerife das operadoras, liberou a movimentação pelas empresas de R$ 12 bilhões das provisões destinadas a garantir a solidez do mercado. Assim como as companhias de seguros, as operadoras de saúde são obrigadas a manter uma provisão para proteger a clientela. Os ativos garantidores desse mercado vão a R$ 33 bilhões.

O mimo justificou-se porque no primeiro semestre deste ano as operadoras tiveram um prejuízo de R$ 691,6 milhões. Visto assim, nada mais natural: há um mercado, ocorre um imprevisto e sacam-se recursos das provisões destinadas a protegê-lo.

Imprevisto? Entre 2019 e 2021 as operadoras de saúde lucraram R$ 32,7 bilhões. Quando uma empresa dá lucro, distribui dividendos. Quando dá prejuízo, pode ir aos acionistas.

Proteger o mercado? O prejuízo de 2022 não foi linear. As seguradoras lucraram R$ 944 milhões no setor de saúde. Ganha um fim de semana num garimpo ilegal quem souber como um setor precisa de gambiarra porque teve um prejuízo de R$ 691,6 milhões se um de seus segmentos teve um lucro de R$ 944 milhões.

Não é o conjunto das operadoras que passa por um mau momento. São empresas e modos de gestão triunfalistas ou temerários. No mundo das operadoras de saúde privada existem diversos tipos de companhias. Algumas são verticalizadas, outras são cooperativas ou mesmo seguradoras. Como as quitandas, todas dependem de gestão.

Afrouxar as normas de acesso às provisões que garantem a solidez das operadoras é um estímulo à má gestão. O grande problema dessas empresas é a absoluta falta de controle dos custos (y de otras cositas más, como salários e bônus).

As novidades tecnológicas abriram a porta do mercado para empulhações. A Agência Nacional de Saúde Suplementar dispõe de quadros e informações suficientes para expor as enganações.

O mimo de R$ 12 bilhões é uma girafa, mas pelas suas conexões, há empresas que cobiçam um jardim zoológico, avançando livremente sobre todos os R$ 33 bilhões das provisões.

Houve um tempo em que os bancos brasileiros faziam o que bem entendiam porque se julgavam protegidos por uma lei, segundo a qual não podiam quebrar. Quebraram quase todos. As operadoras de planos de saúde julgam-se invulneráveis. Confundem boas conexões com boa gestão. Esse foi o modelo das empreiteiras.

História das florestas

Está nas livrarias “Uma história das florestas brasileiras”, de Zé Pedro de Oliveira Costa. São 308 páginas de uma visita a Pindorama com o olhar do mato. A certa altura Zé Pedro diz: “O mato é o mato, e a casa do indígena é o mato trabalhado. A casa de pau-a-pique do caboclo, filho de indígenas com portugueses, é a terra e o mato trabalhado. Indígenas e caboclos são parte do mato. Quando o mato acaba, acaba sua cultura.”

Zé Pedro é um veterano militante das causas do meio ambiente. Geriu a Estação Ecológica da Juréia, em São Paulo, e ajudou a criar o sistema brasileiro de Reservas da Biosfera, que abrange 150 milhões de hectares. Batalhou pelo Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque e pela proteção dos arquipélagos de São Pedro e São Paulo e de Trindade e Martim Vaz. Tudo isso, com discrição.

Escrito com elegância e cuidadosamente ilustrado, o livro oferece uma viagem pelas matas brasileiras, da Amazônia com árvores nascidas antes de Cristo, ao pampa. Dos mangues à Mata Atlântica, onde as espécies de macacos são 23, dezessete correndo o risco de desaparecer. Vai ao mar e informa que as espécies de tartarugas marinhas são sete e cinco vivem em águas brasileiras. Salta para a culinária e, com a ajuda de Luiz da Câmara Cascudo, inclui uma receita de macaco cozido com banana. Isso tudo com a ajuda de Guimarães Rosa, Tom Jobim e Luiz Gonzaga.

Na sequência, mostra como a Coroa Portuguesa, bem como o Império e a República brasileira tentaram e conseguiram proteger (mal) esse patrimônio.

Enquanto a descrição dos matos é motivo de orgulho, a crônica das tentativas de preservação lista utopias, fracassos e cobiças. O livro aponta o que deveria funcionar e não funciona. Salvam-se algumas iniciativas bem sucedidas e a inclusão do respeito ao meio ambiente na agenda nacional, a despeito do surgimento dos agrotrogloditas.

FHC

Fernando Henrique Cardoso divulgou uma nota declarando seu voto em termos programáticos. Não citou nomes, nem deveria citá-los, pois a senadora tucana Mara Gabrilli é candidata a vice na chapa de Simone Tebet.

É preciso beber uma chaleira de água fervendo para supor que ele possa pedir voto para Bolsonaro. Mesmo assim, teve gente que não gostou.

Nada se compara à intolerância bolsonarista, mas ela não é a única.

 

5 comentários:

Anônimo disse...

PT = Post Traumatic Disease Desordens. Por que? Roubalheiras e traição.

Anônimo disse...

Até tu Brutus?

Anônimo disse...

A intolerância bolsonarista não é a única, MAS É A MAIOR! Disparadamente...
Já a VIOLÊNCIA bolsonarista é única e INCOMPARÁVEL! O mesmo vale para as mentiras bolsonaristas...

Anônimo disse...

Fora bolsonaro vara curta!

ADEMAR AMANCIO disse...

É,tem muito esquerdista chato também,sem a violência explícita da extrema-direita,claro.Quanto ao livro sobre o meio ambiente,eu só não gostei da receita de macaco cozido com banana.Falou um chato,rs.