O Estado de S. Paulo
A política externa de Lula foi e será ambiciosa e audaciosa, bem além das pautas bilaterais
Num jantar na casa da senadora Kátia Abreu,
o presidente eleito Lula brincou: se tivesse que satisfazer todas as vontades
do PT, teria de criar cem ministérios! E deu dicas de que José Múcio Monteiro
(do velho PFL) irá para a Defesa e Flávio Dino (exPCdoB) para Justiça, como já
vinha sinalizando o petista Fernando Haddad na Fazenda. Entre os 20% que ainda
não estão na sua cabeça, destaca-se o nome para o Itamaraty.
Lula disse que não pretende seguir a lista tríplice para a Procuradoria-Geral da República e garantiu que o ministro da Defesa será civil, indicando preferência por Múcio, ex-presidente do TCU. Kátia, presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, provocou: “Então, por que o chanceler tem de ser diplomata?”
Aconselhado por Celso Amorim a escolher
alguém da carreira, Lula respondeu que quer prestigiar os diplomatas, como fez
nos seus governos anteriores. Kátia rebateu, com razão, que o próprio Itamaraty
prefere alguém com força política e próximo do presidente, para defender o
orçamento e os interesses da casa e ser recebido com honras no exterior.
“Um Nelson Jobim para o Itamaraty”, pensei,
ao saber da história. Com prestígio e personalidade para lutar pelos pleitos,
seja das Forças Armadas, no caso de Jobim, seja do Itamaraty, no caso de Amorim
e, agora, Jaques
Wagner, um dos melhores quadros do PT. Lula
se encontra amanhã com Jake Sullivan, conselheiro de Segurança dos EUA, e Juan
Gonzalez, assessor de Joe Biden para o Hemisfério Ocidental.
Wagner, senador, ex-ministro e
ex-governador da Bahia, já estava na agenda de ambos e estará a reunião de Lula
com eles. Para bom entendedor...
Se for um diplomata, o cotado é o
embaixador Mauro Vieira, último chanceler de Dilma Rousseff, maltratado no
atual governo e próximo de Amorim (que vai para a Secretaria de Assuntos
Estratégicos, no Planalto). Lula, porém, terá quase 40 ministérios e precisa
de... ministras! Foco, pois, nas embaixadoras Maria Luiza Viotti, ex-ONU, e
Maria Laura da Rocha, que está na Romênia. Candidatas à secretária-geral, à
embaixada em Washington e, por que não?, ao cargo de chanceler.
Com Biden, antes do Natal, Lula terá foco bilateral: democracia, ambiente, comércio, defesa, segurança. E multilateral: a mediação de paz entre Rússia e Ucrânia ensaiada pela Turquia, com quem o Brasil tentou uma saída para o programa nuclear do Irã; e reforma do Conselho de Segurança da ONU, velha bandeira de Lula/Amorim, que traz à tona o embaixador Antonio Patriota. Pretensão demais? Pode ser. Mas a política externa de Lula foi e será assim: ambiciosa e audaciosa.
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