Folha de S. Paulo
Presidente tem pouco presente para
satisfazer Congresso de direita, a doze dias da posse
Lula da Silva tem
ainda seis ministérios gordos para distribuir entre candidatos a aliados do
governo. Quanto a estatais, têm pouca coisa no bolso, a não ser que resolva
fazer picadinho da Lei
das Estatais e jogar a imundície no ventilador.
Não tem mais a Eletrobras,
histórico cabidão. A Petrobras talvez
não dê nem para o PT. Bancos públicos maiores podem render alguma diretoria,
mesmo assim com restrições "técnicas". Restam uma Codevasf,
empresa de escoamento orçamentário, por assim dizer, fundações/fundos na Saúde
e na Educação (grande risco de roubança aí), alguma diretoria de banco
regional, estatais menores, mas meio falidas.
Os ministérios mais vistosos em disputa são Saúde, Infraestrutura, Minas e Energia, Cidades, Integração Regional e Desenvolvimento Social (Bolsa Família).
No governo Dilma 1, a Saúde ficou com o PT,
Infraestrutura com o PL, Minas e Energia com o MDB, Cidades com o PP e
Integração Regional com o PSB, na verdade com Fernando Bezerra Coelho, ora no
MDB e ex-líder de Jair
Bolsonaro. O Desenvolvimento Social ficou com o PT.
Na segunda divisão, o Desenvolvimento
(MDIC) também ficou com o PT, a Agricultura com o MDB (Kátia Abreu) e a
Previdência com o MDB.
Mesmo dando fatias gordas do bolo para a
coalizão, Dilma
Rousseff sofreu no Congresso, que acabou por cortar sua cabeça. Na
primeira leva do gabinete, de resto, havia ministros cheios de rolos, gente que
acabou caindo na então chamada "faxina" dilmiana.
No Congresso eleito em 2010, o PT era o
maior partido da Câmara (68 deputados). O aliado ou inimigo íntimo MDB tinha 65
e a oposição maior era o PSDB, com 54 (o DEM tinha 21). O resto quase todo era
negociável. Em números, a situação de Lula é pior.
O maior partido agora é o PL
bolsonarista-negocista duro, com 99 deputados (o PT tem 68). PP,
bolsonarista-negocista maleável, mas com muito antipetista, União Brasil, PSD,
MDB e Republicanos juntam 231 deputados. É uma mistura adúltera de tudo, mas é
aí, com muitas defecções direitistas, que Lula pode buscar um bloco de apoio,
por ora instável, para juntar à pequena esquerda parlamentar.
União Brasil, MDB e PP querem meia dúzia de
ministérios gordos. Não vai dar para todo mundo.
Se a Saúde ficar com uma nomeação de Lula (Nísia
Trindade, da Fiocruz), sobra ainda menos, a não ser que um aliado receba um
presentão como a Funasa, o que transformaria o ministério em um pato manco.
Além do mais, depois do desastre de Bolsonaro e generais, entregar a Saúde a
qualquer um seria um insulto nacional.
Se Lula jogar ao mar Simone
Tebet, tirando-lhe o Desenvolvimento Social (que o PT também quer),
vai acabar com as ilusões de "frente ampla".
Turismo pode ser um prêmio menor, que deve
ir para o PSD. Agricultura deve ficar com o PP. Dá para acomodar MDB, outro PP
e um União Brasil em Infraestrutura, Cidades, Minas e Energia e Infraestrutura,
mas Lula vai arrumar desafetos no Senado ou na Câmara (cada partido quer um
ministro de cada Casa). Disputas regionais dificultam ainda a composição. E o
Republicanos, da Universal, leva o quê?
Como Josué
Gomes, da Fiesp, recusou o MDIC,
sobra uma cadeira menor. Mas Lula vai jogar um estranho no ninho da economia,
toda arrebentada e sob desconfiança dos donos do dinheiro?
Lula vai ter de entregar mais ministérios
do que Dilma. Tem mais oposição, menos estatais para regatear, a direita é
muito forte, não há dinheiro para nada (o que permitiria fazer outros arranjos)
e o PT parece estar com escassa inclinação para "união nacional".
Lula tem uma semana para conseguir tirar as
meias sem descalçar os sapatos.
Um comentário:
Eu não consigo nem tirar a calça sem tirar o sapato.Em filme pornô é muito comum,não sei como eles conseguem.
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