domingo, 18 de dezembro de 2022

Albert Fishlow* - Lidando com um novo mundo

O Estado de S. Paulo

Ainda há muito a fazer no mundo, e não apenas nas áreas econômica e internacional

O tempo está passando rápido em direção às novidades que aguardam o mundo em 2023. É provável que poucas delas venham a ser inequivocamente positivas. As populações estão inquietas e infelizes. As eleições não unificaram, mas sim endureceram as diferenças internas. Paz e bem-estar para todos estão se transformando em sonhos impossíveis. Os conflitos são abundantes e as projeções econômicas para o ano que vem estão cada vez mais negativas.

As relações internacionais voltaram a ficar críticas. A invasão ucraniana por Putin afetou fundamentalmente os países da Otan. A liderança americana no fornecimento de armas necessárias foi acompanhada por maiores gastos militares em quase todos os lugares. Na Ásia, o conflito entre a China e os Estados Unidos se expandiu, com o futuro status de Taiwan cada vez mais em questão.

Agora, o Brasil também se movimenta para trazer o Itamaraty de volta à liderança internacional no trato com a China, a Europa e a África, além dos países da América Latina. Mauro Vieira, o chanceler de Lula, tem se empenhado ativamente na marcação de reuniões com líderes de outras nações. Lula proclamou abertamente o retorno à liderança ambiental, a conclusão favorável de um tratado União Europeia- Mercosul, a revisão de esforços anteriores para unir a América Latina (dadas as recentes vitórias da esquerda no Chile e na Colômbia) e a garantia de atenção às relações Sul-Sul.

Os Congressos dos EUA e do Brasil ainda tentam chegar a acordos orçamentários que permitam maior liberdade para seus executivos sustentarem escolhas políticas já confirmadas.

Os presidentes Biden e Lula se apressam para fazer com seus Congressos acordos que abram possibilidades para maiores gastos antes de começarem a enfrentar perspectivas cada vez maiores de recessão generalizada no mundo. Mas petistas e democratas não estão apenas menores em número. Muitos dos líderes estão mais velhos e competem, às vezes desfavoravelmente, com membros mais jovens e ambiciosos. Lula já deu a entender que não voltará a concorrer. Talvez Biden faça o mesmo.

Ainda há muito por fazer, não apenas nas áreas econômica e internacional. O avanço cultural também é importante. Vivemos um momento de desafio sem precedentes. Lula venceu, mas por pequena margem e com o apoio de muitas lideranças e partidos políticos. Biden também evitou a grande derrota projetada por tantos pesquisadores. A qualidade conta. Um feliz ano-novo a todos. 

*Economista e cientista político, professor emérito nas Universidades de Columbia e da Califórnia em Berkeley

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