domingo, 18 de dezembro de 2022

Cristovam Buarque* - Não é por gratidão

Blog do Noblat / Metrópoles

Lula aceitou o desafio de ser presidente por compromisso com o Brasil, não por necessidade biográfica, nem para servir ao seu grupo político

O Brasil precisou de Lula e do PT para vencer a tragédia. Sem eles, dificilmente teríamos nome capaz de vencer a polarização política que o país atravessa, nem chegarmos em 2023 com um presidente preparado para nos reunificar e conduzir com coesão e rumo. Felizmente, em 2022, o Brasil teve Lula em condições e disponibilidade para dedicar quatro anos de sua vida, aos 76 anos de idade, para voltar à difícil tarefa de presidir o país. Lula aceitou o desafio de ser presidente por compromisso com o Brasil, não por necessidade biográfica, nem para servir ao seu grupo político.

A metade democrática do Brasil entendeu isto e votou nele, incluindo um significativo número de eleitores que não tinham o PT nem ele como primeira opção. Mas sabiam que sem ele teríamos pouca chance de vencer a tragédia e enfrentarmos os quatro anos seguintes para recuperarmos o país. Por pouco o presidente atual não foi reeleito. Até hoje, as pesquisas indicam que 32% dos brasileiros preferem um golpe militar a deixar Lula tomar posse. Ignorar esta realidade é tão negacionista e grave, quanto dizer que o covid era uma gripezinha.

Votamos porque ele era o melhor para cuidar dos problemas sociais, retomar o crescimento da economia, proteger a natureza, manter a estabilidade monetária, recuperar a presença do Brasil no mundo. Foi para isto que ele foi eleito, olhando o futuro. Por isto, ele não tem necessidade de manifestar gratidão com aqueles que o apoiaram, por convicção. Mas tem necessidade de rodear-se dos melhores quadros e demonstrar que seu governo representa e está comprometido com todas as forças políticas do Brasil, não apenas com partidos e pessoas que o rodeiam.

Quando escolheu Alckmin para vice, Lula demonstrou que percebia a necessidade de ampliar sua base de apoio para se eleger, quando o nomeou para coordenador da transição, demonstrou a intenção de ampliar para governar em sintonia com as aspirações do país, não apenas com os desejos e convicções dos mais próximos. Por isto, surge temor quando se noticia vetos partidários à nomeação de pessoas capazes de mostrar sintonia do ministério com o oioopppppoosapconjunto do país, e, ao mesmo tempo, desempenhar com competência e ética as tarefas que lhes forem atribuídas.

Os dirigentes do PT demonstraram lucidez e patriotismo durante a campanha ao atrair e conviver com outras forças políticas para ganharem as eleições, precisam agora demonstrar a mesma abertura ao compor um governo em sintonia com a nação e competente para conduzir o governo.

Foi muito difícil superar eleitoralmente a tragédia, muito mais difícil será enterrar e conduzir o país na direção certa. Nenhum partido isolado, nem mesmo o PT com toda sua força, poderá dar a necessária sustentação ao governo Lula, se não contar com o simbolismo, a força e a competência que só virá com a participação de dezenas de lideranças que o apoiaram. Não porque desejavam cargos, mas porque o viram como o melhor e sabem que ele precisa atrai-los, não por gratidão ao passado, mas por compromisso com o futuro.

Não é por gratidão que líderes e técnicos, homens e mulheres, que o apoiaram, devem estar ao seu redor em seu governo, é porque eles e elas simbolizam a sintonia política com o país e a competência técnica e gerencial para os difíceis, muito difíceis, anos adiante, que nenhum partido ou grupo sozinhoolll conseguirá vencer. Não teria conseguido na lá eleição de 2022, ainda os de Lula é com o país de hoje e nossas gerações do futuro, mas esta gratidão exige reunir aos que acreditaram e se arriscaram pelo que ele simbolizava e oferecia. Líderes como Isolda Cela, Eliziane Gama, Simone Tebet, Marina Silva, precisam estar nos principais cargos do governo 2023-2026, simbolizando a unidade de pouco mais de 50% dos eleitores, e servindo como pilares na gestão do Brasil. Não por gratidão pelo apoio delas no passado, mas por responsabilidade com o que representam para o futuro.

*Cristovam Buarque foi governador, ministro e senador

2 comentários:

Anônimo disse...

O professor Cristovam certamente conhece Lula muito melhor que qualquer um de nós. Em geral confio nas suas avaliações. Mas, sobre a motivação de Lula para este terceiro mandato, tenho dúvidas e não acredito muito na opinião do excelente colunista.

Anônimo disse...

Esse anônimo é muito educado, com pessoas assim é bom trocar opiniões no blog que algumas vezes se torna extremamente agressivo para participar