O Estado de S. Paulo
Nos anos 20, grupos excêntricos também mergulharam a política alemã na violência
A invasão do Capitólio se tornou uma
espécie de dia da marmota nas democracias ocidentais. O flagelo americano do
dia 6 de janeiro de 2021 se repetiu três vezes nos últimos dias: na Alemanha,
no Peru e no Brasil. Em todos os casos, a democracia venceu. Mas, o que a
História nos ensina sobre o efeito de ataques às instituições democráticas no
longo prazo?
A Alemanha assistiu no dia 7 à maior operação de contraterrorismo desde a 2.ª Guerra. Três mil policiais cumpriram mandados em 150 endereços, resultando na prisão de 25 pessoas e investigação de mais de 50. Foram apreendidas armas, munição, explosivos, óculos de visão noturna e coletes à prova de bala.
MONARQUIA. Os presos são acusados de
conspirar para derrubar a república alemã e reinstalar a monarquia, que vigorou
até 1918. Eles tinham uma lista de 18 pessoas para matar, incluindo o chanceler
Olaf Scholz, a ministra das Relações Exteriores Annalena Bärbock e outros
políticos e jornalistas. O plano era invadir o Parlamento, com a ajuda de uma
ex-deputada do partido neonazista Alternativa para a Alemanha (AfD).
Segundo os investigadores, dois terços dos suspeitos têm ligação com as Forças Armadas, sobretudo a reserva. O movimento, chamado Reichsbürger (Cidadãos do Império), conta com 21 mil seguidores, de acordo com o serviço de inteligência interna, BfV.
VIOLÊNCIA. Em outubro de 2016, um
integrante dos Reichsbürger fortemente armado em sua casa abriu fogo contra
agentes das forças especiais que cumpriam um mandado para prendê-lo. Um agente
foi morto.
O movimento foi criado nos anos 80 por um
ferroviário demitido que perdeu na Justiça o direito à aposentadoria de
funcionário público e passou a propagar a tese de que a Alemanha é uma empresa a
serviço dos aliados que a ocuparam em 1945. Durante a pandemia, ele cresceu,
alimentado pela ideia de que as vacinas e lockdowns eram parte da conspiração
dessa suposta empresa a serviço dos interesses americanos e europeus, para
dominar os cidadãos e fazê-los de cobaias de laboratórios.
NAZISMO. Alguns aderiram também à seita
americana QAnon, para a qual Donald Trump é um anjo que veio libertar os
americanos de uma suposta rede de prostituição infantil comandada pelos
democratas. Para os Reichsbürger, Trump também salvaria a Alemanha do domínio
americano.
Nos anos 1920, a Alemanha mergulhou na violência política, propulsionada por grupos que pareciam tão excêntricos quanto esses. Enquanto os liberais reagiam para conter esses revisionistas, criou-se um ambiente de polarização que culminou na ascensão do nazismo na década seguinte.
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