O Globo
Este GLOBO noticiou que partidos políticos têm menos cargos
diretos na administração federal que em governos passados. O Centrão maneja
menos tetas na máquina do que manobravam as legendas que sustentaram os
governos de Dilma Rousseff e Michel Temer.
Diga-se que ter menos tetas para mamar não
significará menos leite na boca. São, sim, menos tetas. Nunca foi tão farto o
leite. Chegaremos lá.
Aos dados. Levantamento feito pelos
pesquisadores Sérgio Praça e Karine Belarmino informa que, de quase 4 mil
indicados a altos postos comissionados em dezembro de 2021, apenas 9% seriam
vinculados a algum partido. Em 2015, sob Dilma, eram 25%. Com Temer, entre
20,5% e 23% (2016 a 2018).
Teria acabado a mamata? Hum. E a cota dos
militares, naturalmente sem partido, nessa distribuição de cadeiras? Cargos
continuam a ser ofertados a aliados, certo? Apenas não mais tanto a filiados a
partidos, né? Chegaremos lá também.
Antes, outra pergunta: o que é o Centrão? Conforme ora difundido pelo senso comum, o que é?
Um grupo robusto de parlamentares,
sobretudo deputados, submetido à liderança do trio Ciro Nogueira/Arthur
Lira/Valdemar Costa Neto e capaz de decidir o destino de votações. Um grupo
patrimonialista que se mobiliza por espaços do Estado na forma de recursos
públicos para aplicação em áreas de influência. Um grupo que se articula sob
acesso privilegiado a emendas, a dinheiros para apadrinhar na ponta e fazer
girar o motor do poder local. Um grupo que se move pelos milhões em emendas
parlamentares que lhes são discricionariamente carimbados; não necessariamente
por cargos.
O lance é a grana.
O Centrão: Ciro Nogueira, Arthur Lira e
Valdemar Costa Neto. Eles detêm cargos. Mas nem precisariam. Têm a chave do
Tesouro. Cuidam das partilhas. Esse é o novo arranjo. São sócios num governo
que também deve aquinhoar os associados militares. Há para todos, segundo a
democracia bolsonarista. O Centrão cuida do cofre.
Nogueira, Lira e Costa Neto. Que tal ser
dono do partido do presidente da República? Dar nome aos bois importa porque
nos ajuda a entender que ter menos cargos, em termos de volume, pode ser um bom
negócio caso se possua, por exemplo, a Casa Civil da Presidência da República,
trono hoje ocupado por Nogueira — o gestor do Orçamento da União em ano
eleitoral, Orçamento que vai transformado, sob a fachada das emendas do
relator, em peça corporativista e eleitoreira.
Indaga-se: quando, no governo de quem, um
tipo como Nogueira, patrão do PP, terá sido ministro da Casa Civil, a mais
poderosa cadeira dentro do Planalto, sob Bolsonaro ainda o lugar de onde se
dirige o Orçamento? O arranjo mudou. E há que acomodar os militares.
Para que controlar muitos cargos, se se
podem controlar os dinheiros?
Mais dados. Desde 2020, avançando a
sociedade entre Bolsonaro e o dito Centrão, a destinação de emendas
parlamentares, especialmente as do relator, superou as liberações promovidas
pelos governos anteriores. Em 2021, foram empenhados R$ 34,9 bilhões em emendas
— metade dos quais para o orçamento secreto. Para 2022, 46% dos R$ 36 bilhões
autorizados estão sob a rubrica “emenda do relator”, um mecanismo avesso à
transparência, cuja flexibilidade permite que parlamentares atendam suas
demandas paroquiais.
É como o governo Bolsonaro firma sua base
de apoio tardia, logo caríssima. Demorou; custa mais caro. Tudo resolvido via
Congresso, no homem a homem; Nogueira, na Casa Civil, dentro do Planalto, sendo
o hub. É como os
sócios de Bolsonaro exercem poder.
E não que, para gerir o Orçamento, esses
valdemares tenham ficado pobres de alcance em posições-chave da administração
federal. Leia-se o que trouxe o Estadão: o Fundo Nacional de Desenvolvimento da
Educação, com orçamento bilionário e baita cota para gastos discricionários,
vai comandado pelo ex-chefe de gabinete de Ciro Nogueira.
Que tal?
E sob essa condição, com Lira presidente da
Câmara e Nogueira ministrão, tornaram-se os estados de Alagoas e do Piauí, em
dezembro de 2021, respectivamente primeiro e quarto em envios do FNDE. Alagoas,
com 485 mil estudantes na rede pública. São Paulo, em segundo lugar, com 11,9
milhões.
Quem manda? A turma manda no Orçamento e
nos órgãos que mais sugam os orçamentos secretos. Quem manda na Codevasf?
Ponto. O resto fica para o resto. O resto é gordo.
O governo militar Bolsonaro exerce sua
essência corporativista distribuindo cargos aos fardados. O presidente dá
crachás aos de sua confiança. Diminuiu-se o número de assentos aos sócios
senhores dos partidos, mui satisfeitos em cuidar dos trânsitos orçamentários,
contemplados pazuellos mais ou menos extravagantes no grosso dos postos da
máquina federal.
Nada mudou. Todo mundo está feliz. A mamata
não acabou. Coube até mais gente.
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