O Estado de S. Paulo
‘As pesquisas de hoje não são as de amanhã’, diz Temer, que aposta numa ‘coluna do meio’
As coisas não estão fáceis. Aliás, andam
muito complicadas. É por isso que o ex-presidente Michel Temer tem sido procurado
por todos os presidenciáveis, exceto o petista Lula, e defende que só há uma
solução para quem se eleger presidente da República em outubro: propor um pacto
nacional consistente para reconstruir as condições políticas e o País.
Um pacto com presidentes de Poderes,
partidos, governadores, empresários e as frentes da sociedade civil, mas
principalmente dirigido para os derrotados e seus seguidores, para o(a)
eleito(a) ter condições de governabilidade, poder virar a página e escrever o
futuro, depois de uma polarização tão destrutiva.
Se o ex-presidente Lula vencer, os bolsonaristas estarão em pé de guerra contra as urnas eletrônicas, o Supremo, o TSE, o eleito e o novo governo. Se o presidente Jair Bolsonaro conquistar a reeleição, os petistas vão lotar as ruas, pintar e bordar.
“O presidente que ganhar a eleição nesse
clima vai passar quatro anos atormentado, com denúncias, ameaças, pedidos de
impeachment”, disse Temer ontem, em seu escritório de São Paulo. Ele ligou para
o TSE sugerindo que a propaganda institucional deste ano seja focada na paz. “O
Brasil precisa de paz, de pacificação. Aliás, como a Constituição determina.”
Como professor de Direito Constitucional,
teoriza: “A vontade primeira é a do povo. Todo poder emana do povo e as
autoridades constituídas são secundárias, não existem três Poderes, existe um,
o povo. Eles são órgãos do poder, exercem funções para atender o povo”.
Já o político Temer, mais prático, condena
quem insiste que a terceira via não vai dar em nada. “Isso desmotiva o eleitor,
desarticula os que tentam construir uma coluna do meio, o que não é uma
homenagem a um candidato, mas ao eleitor que não quer nem um nem outro (Lula e
Bolsonaro).”
O ex-presidente diz que há “uma grande
intranquilidade” e aponta um dos grandes problemas da polarização: “Todo mundo
vota contra, não a favor de alguma coisa. O próprio voto do Bolsonaro foi
contra Lula, como o de Lula agora é contra Bolsonaro”.
Segundo Temer, “ainda há muita indefinição
na eleição”. “As certezas de ontem já não são certezas hoje. As pesquisas de
hoje refletem hoje, não amanhã.” Pode haver surpresas? Ele: “Claro!”.
Uma pulga atrás da orelha: será que Temer, 81 anos, sonha em ser a “coluna do meio”? Medindo as palavras, ele diz que, daqui e dali, falam nisso e ele desconversa: “Se a eleição fosse aqui (onde a ideia surge), quem sabe? Mas um presidente precisa de 60 milhões de votos. Com oito, nove candidatos? É muito difícil”.
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