Folha de S. Paulo
Ainda é muito cedo para concluir que sim
É muito cedo para concluir que sim, mas a
pressão exercida pelo ministro do STF Alexandre de Moraes começou a dar
resultado. Até dias atrás, o Telegram se
comportava como uma empresa fora da lei, useiro e vezeiro em ignorar decisões
do Judiciário ou em atendê-las a seu bel-prazer e conveniência. Não tinha
sequer representante no Brasil, embora já houvesse constituído, desde 2015, um
escritório de advocacia para cuidar do registro de sua marca junto ao Instituto
Nacional da Propriedade Industrial, como revelou a Folha.
Diante do bloqueio iminente, e dos
prejuízos decorrentes, o aplicativo prófugo apressou-se a dar explicações. Uma
delas é a desculpa pouco crível de que não respondera ao STF e ao TSE porque as
mensagens teriam se perdido na caixa de um e-mail geral da empresa.
O aperto judicial tirou o Telegram da semiclandestinidade em que atuava. A empresa nomeou um advogado para representá-la, comprometeu-se a monitorar os cem canais mais populares do seu submundo digital e a iniciar um processo de moderação de conteúdo.
É pouco provável, porém, que isso seja
suficiente para reduzir o tráfego de ataques criminosos à democracia e ao
sistema eletrônico de votação no aplicativo preferido de Bolsonaro e de suas
milícias digitais.
Não foi por outro motivo que a AGU reagiu
com o pedido de medida cautelar contra a ordem inicial de Moraes para derrubar
o Telegram. Observe, leitor: um órgão do Estado brasileiro, pago pelo
contribuinte, defendendo interesses de uma empresa estrangeira, conhecida por
ser o refúgio de criminosos, extremistas e terroristas, como o Estado Islâmico.
Na queda de braço entre Bolsonaro e o
Judiciário, a instituição marcou um ponto. Mas o cerco ao aplicativo está
longe, bem longe, de impedir a ação daninha da máquina de mentiras a serviço do
presidente. A extrema direita movimenta-se no universo digital com tanta
rapidez que deixa sempre a impressão de que as autoridades estão enxugando gelo.
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