Folha de S. Paulo
Novo governo fez gol, mas será necessário
criar e não só desarmar
Nenhum juiz marca pênalti ou expulsa no
primeiro minuto, mesmo que o zagueiro entre de carrinho com as duas pernas na
canela do atacante. Luis Fernando Verissimo lembrou essa circunstância do
futebol para explicar o que, em política, é conhecido como "os primeiros 100 dias" —período que o
governo recém-eleito usa para impor medidas impopulares ou projetos polêmicos.
Uma espécie de privilégio e blindagem de críticas mais duras reservado a quem
chega. Com Lula não está sendo assim.
Presidente pela terceira vez, Lula é um centroavante mais do que manjado pela torcida, não importando em que lado (esquerdo ou direito) da arquibancada se agite a bandeira. Tem sempre alguém —impaciente, desconfiado, furioso, prevendo o lance errado— que grita antes que ele pegue na bola: "É esse! É esse!".
A vantagem é que, nestes momentos iniciais,
o jogo ainda está fácil e bom de jogar. A tática, simples e objetiva, é
desfazer tudo o que o antigo governo fez de errado. Em seguida à posse do
presidente e do primeiro escalão de ministros começou o revogaço de decretos, portarias e resoluções e a
leva de exonerações da administração federal bolsonarista. A caneta está
funcionando como nunca.
A previsão é que sejam revistos ou anulados
mais de 400 atos de Bolsonaro, da liberação de armas e munições sem
controle ao desmonte ambiental, passando pelos sigilos de 100 anos. A mamata
(aquela que iria acabar) entrou no pacote: o ministro da Fazenda, Fernando
Haddad, revogou a nomeação de dirigentes da Receita Federal no exterior —um
pessoal que, no apagar das luzes, havia conseguido uma boquinha de adido em
Paris, Buenos Aires ou Abu Dhabi.
Com uma escalação de time bem melhor, pelo
menos no papel, o esquema por enquanto está dando resultado —1 a 0 no placar.
Mas é bom lembrar que a fase favorável um dia acaba. Vai chegar a hora em que
será necessário criar, e não só desarmar.
Um comentário:
Verdade,muita cobrança a quem mal começou.
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