domingo, 12 de março de 2023

Celso Ming - É o ChatGPT ameaçando empregos

O Estado de S. Paulo

Operadores de telemarketing, caixas de bancos e de supermercados, digitadores, advogados e outros profissionais da área jurídica, contadores, analistas de balanços, auditores e profissionais de marketing são algumas ocupações com alta probabilidade de serem automatizadas e, portanto, de deixar de existir ou de ter seu trabalho significativamente impactado pelo uso massivo da inteligência artificial (IA).

Essa conclusão não é apontada apenas por consultores e especialistas em tecnologia e em Economia do Trabalho. Esta Coluna fez a mesma pergunta ao ChatGPT, ferramenta gratuita lançada há menos de três meses, capaz de produzir em formato de texto informações sobre os mais variados assuntos, e obteve resposta equivalente. Qualquer pessoa pode refazer essa consulta ao ChatGPT.

Ao ser submetido ao exame da Ordem dos Advogados do Brasil, o ChatGPT foi “aprovado” na 1ª fase. O impacto do uso sistemático da IA, da qual esse chatbot é uma de suas manifestações, tem semeado apreensões e promovido infindáveis discussões ao redor do mundo.

Não há mais como evitar que o futuro do mercado de trabalho seja moldado de modo a partilhar espaço entre mão de obra humana e os mais diversos tipos de tecnologia avançada. Esse processo, já iniciado em alguns setores, tende a crescer.

A indústria, pioneira na robotização, vem dispensando cada vez mais funcionários. O sistema financeiro transferiu boa parte das suas operações para os canais digitais, que dispensam não só mão de obra, mas, também, espaço físico para suas operações. Até em áreas mais sensíveis, como as de análise de risco de crédito, o uso de IA vem tomando corpo.

Especialistas preveem um pico no desemprego em ocupações que não exigem qualificação mais sofisticada. Outro grupo que pode ser fortemente atingido é o das mulheres, como já alertou a Unesco.

Para Leonardo Berto, gerente da consultoria Robert Half, a chave para reduzir o impacto sobre o mercado de trabalho é garantir uma educação continuada para preparar profissionais para novas funções que necessariamente serão criadas. E, é claro, será preciso desenvolver políticas públicas destinadas a realocar os alijados de ocupações convencionais que não conseguirem acompanhar as novas demandas do mercado. “Será necessário investir em qualificação técnica, área em que aumentará a procura de profissionais. Mas também será indispensável aprimorar habilidades comportamentais e emocionais aliadas ao conhecimento acadêmico, porque esse lado analítico do ser humano não deixará de existir com a automação. Ao contrário, ganhará mais destaque nas ocupações do futuro.”

E esse é outro ponto em que o governo brasileiro vem falhando. Parece mais preocupado com reverter a precarização promovida pelo uso de tecnologias do que com o futuro do mercado de trabalho em um país movido por empregos informais e de baixa formação.

 

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