O Estado de S. Paulo
Operadores de telemarketing, caixas de
bancos e de supermercados, digitadores, advogados e outros profissionais da
área jurídica, contadores, analistas de balanços, auditores e profissionais de
marketing são algumas ocupações com alta probabilidade de serem automatizadas
e, portanto, de deixar de existir ou de ter seu trabalho significativamente
impactado pelo uso massivo da inteligência artificial (IA).
Essa conclusão não é apontada apenas por
consultores e especialistas em tecnologia e em Economia do Trabalho. Esta
Coluna fez a mesma pergunta ao ChatGPT, ferramenta gratuita lançada há menos de
três meses, capaz de produzir em formato de texto informações sobre os mais
variados assuntos, e obteve resposta equivalente. Qualquer pessoa pode refazer
essa consulta ao ChatGPT.
Ao ser submetido ao exame da Ordem dos Advogados do Brasil, o ChatGPT foi “aprovado” na 1ª fase. O impacto do uso sistemático da IA, da qual esse chatbot é uma de suas manifestações, tem semeado apreensões e promovido infindáveis discussões ao redor do mundo.
Não há mais como evitar que o futuro do
mercado de trabalho seja moldado de modo a partilhar espaço entre mão de obra
humana e os mais diversos tipos de tecnologia avançada. Esse processo, já
iniciado em alguns setores, tende a crescer.
A indústria, pioneira na robotização, vem
dispensando cada vez mais funcionários. O sistema financeiro transferiu boa
parte das suas operações para os canais digitais, que dispensam não só mão de
obra, mas, também, espaço físico para suas operações. Até em áreas mais
sensíveis, como as de análise de risco de crédito, o uso de IA vem tomando
corpo.
Especialistas preveem um pico no desemprego
em ocupações que não exigem qualificação mais sofisticada. Outro grupo que pode
ser fortemente atingido é o das mulheres, como já alertou a Unesco.
Para Leonardo Berto, gerente da consultoria
Robert Half, a chave para reduzir o impacto sobre o mercado de trabalho é
garantir uma educação continuada para preparar profissionais para novas funções
que necessariamente serão criadas. E, é claro, será preciso desenvolver
políticas públicas destinadas a realocar os alijados de ocupações convencionais
que não conseguirem acompanhar as novas demandas do mercado. “Será necessário
investir em qualificação técnica, área em que aumentará a procura de
profissionais. Mas também será indispensável aprimorar habilidades
comportamentais e emocionais aliadas ao conhecimento acadêmico, porque esse
lado analítico do ser humano não deixará de existir com a automação. Ao
contrário, ganhará mais destaque nas ocupações do futuro.”
E esse é outro ponto em que o governo
brasileiro vem falhando. Parece mais preocupado com reverter a precarização
promovida pelo uso de tecnologias do que com o futuro do mercado de trabalho em
um país movido por empregos informais e de baixa formação.
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