segunda-feira, 20 de março de 2023

Demétrio Magnoli - Nomeando a guerra

O Globo

Nomear é definir, singularizar: assumir o controle intelectual sobre um evento. Como nomear a guerra na Ucrânia?

Guerra imperial. Putin qualificou o colapso da União Soviética como “a maior tragédia geopolítica do século XX”. O chefe do Kremlin almeja reconstituir a Grande Rússia — ou, nas suas palavras, a “nação trina” Rússia-Ucrânia-Bielorrússia.

Depois da Segunda Guerra Mundial, a Europa moveu-se do paradigma imperial para a integração. A mudança decorreu de duas derrotas: da Alemanha nazista no conflito geral e, mais tarde, da França, nas guerras coloniais na Indochina e na Argélia. A União Soviética, porém, não sofreu hecatombes militares — e permaneceu presa ao sonho imperial. A eventual derrota na Ucrânia salvaria a Rússia da obsessão pela Grande Rússia.

Putin nomeia a guerra imperial como guerra patriótica contra o “nazismo”, procurando defini-la como continuação do conflito com as forças da Alemanha de Hitler. É uma fraude com dupla finalidade: cercar-se de uma aura de inocência, dissolvendo a oposição interna à guerra de agressão, e enredar a Alemanha democrática na armadilha da culpa, evitando seu engajamento na ajuda militar e financeira à Ucrânia.

A culpa não é fator desprezível na vida política alemã, ainda marcada pela memória histórica de blindados alemães avançando em terras soviéticas. Não por acaso, Olaf Scholz só autorizou a transferência de tanques Leopard à Ucrânia depois de intensas pressões de seus aliados. É, porém, uma culpa deslocada: na guerra mundial, a Ucrânia sofreu perdas humanas devastadoras, ainda maiores que as experimentadas pela Rússia. Hoje, a Alemanha tem a oportunidade de fazer o certo, ajudando a proteger a nação ucraniana da invasão criminosa de uma Rússia comandada por um regime com nítidos traços fascistas.

Guerra nacional de independência — eis o nome com que os ucranianos batizam a resistência à guerra imperial russa. A Ucrânia tornou-se formalmente independente em 1991, na hora da implosão da URSS. A Rússia reconheceu suas fronteiras em troca da transferência a ela do arsenal nuclear ucraniano. Por duas vezes, em 2014 e 2022, invadiu a nação vizinha, que Putin nega ter direito à soberania.

Povos que conduzem uma guerra nacional de independência são invencíveis, algo que os Estados Unidos aprenderam no Vietnã. Nenhuma extensão de bombardeios, destruições de cidades e crimes de guerra é capaz de apagar a chama da luta pela soberania. Sem a ajuda militar ocidental, o conflito se prolongaria indefinidamente, mas a Ucrânia não pararia de combater. A única forma de abreviar a guerra é fornecer às forças ucranianas os meios militares para impor reveses fragorosos ao invasor, obrigando o Kremlin a ceder na mesa de negociação. Será que Lula entenderá isso antes de discutir na China o “plano de paz” formulado por Xi Jinping com a finalidade de dobrar a Ucrânia às anexações russas?

A resistência ucraniana não interessa apenas à Ucrânia. A guerra deles é nossa — de todos os que enxergam na democracia representativa um sistema que vale a pena defender. Se a Ucrânia tivesse capitulado em semanas, como tantos profetizaram, viveríamos num mundo diferente. Como explica o historiador Timothy Snyder, “agora estaríamos nos perguntando por que ditaduras funcionam melhor que democracias e como russos e chineses ditarão os rumos da ordem mundial”. Mais: uma vitória de Putin abalaria a coesão da União Europeia e pavimentaria a estrada para um retorno triunfal de Trump à Casa Branca.

Putin ordenou a invasão falando sobre Otan, nazismo e o berço ancestral da Grande Rússia. De fato, porém, teme o espectro de uma Ucrânia democrática integrada à Europa: um exemplo daquilo que a Rússia poderia ser. Russkiy mir, “mundo russo”, é o nome que o ultranacionalismo putinista emprega para designar uma autocracia retrógrada em armas. A guerra imperial foi deflagrada para cimentar a tirania de Putin, logo após revoltas populares na Bielorrúsia e no Cazaquistão.

A vitória da Ucrânia significaria, também, a libertação do povo russo. A Rússia precisa da derrota, como a Alemanha e a França precisaram.

 

6 comentários:

Anônimo disse...

"Povos que conduzem uma guerra nacional de independência são invencíveis"? O colunista se entusiasmou com sua análise (basicamente correta) e resolveu exagerar pra valer. Ou será que seu conhecimento da História é tão pequeno e ele esqueceu as centenas de nações e povos que foram esmagados por nações e povos maiores ou superiores militarmente?

Anônimo disse...

Ridículo que ainda haja ge pessoas que ainda defende esse velho putinho de guerra por território. Os russos soldados, se destacaram na II Guerra por estuprar as mulheres, principalmente as Polonesas Se existe um crime maior que esse somente os homens perseguidos por padres pedófilos podem dizer. Agora, como se não bastasse, os mesmos russos estão estuprando crianças de 4 e 5 ANOS na vista dos pais para humilha -los. Esses combatentes extraídos das profundezas do inferno são os encarcerados do que é mais demoníaco Gullah. A natureza.dos que apoiam esses assassinos deve ser de sadismo, um acompanhamento perfeito para um crápula igual ao Putin. Essa guerra não tem defesa para aqueles que teem um mínimo de humanidade, compaixão e ao menos 1 (UM) neurônio. Desculpar esse camarada, que na meninice perseguia ratos equivale a chamar Hitler de santo. Se os escombros não servem para humanizar esse ignóbil imbecil anônimo nada será, o estupro de crianças, roubo de crianças, a matança com tortura de civis, o sacrifício do povo Ucraniano mostrará na História essa que sabe julgar o tipo de verme que é um Putin. Um ex -chofer de táxi que não consegue distinguir entre “Ratos e Homens” sendo ele também um rato. Se o Hitler roubava obras de artes de todos os países que ele arrasou para formar um museu nacional alemão esse rouba não só vidas mas a dignidade de pessoas com tendências masoquistas, na ausência completa de Deus 🇺🇦

Anônimo disse...

Não só George W.Bush que conheceu Putin pessoalmente achou seus olhos frios,como uma pedra também o acharam de sangue frio como um assassino, mas não só olhos de serpente ele tem de estranho, é bem mais do que isto, para mim o que ele não tem é alma.

Anônimo disse...

Ah! Putinho tem alma sim, alma de RATO, asqueroso, anão e ladrão de terras.

Anônimo disse...

Toda regra tem exceção analfabeta.

ADEMAR AMANCIO disse...

Putin,Trump,Bolsonaro...