O Estado de S. Paulo
Presidente da Câmara está inconformado com ataques de Calheiros e impõe derrota a governo
O presidente da Câmara, Arthur Lira
(PP-AL), mandou um duro recado, na noite desta segunda-feira, ao Palácio do
Planalto: quer a demissão do ministro dos Transportes, Renan Filho (MDB). Lira
ficou furioso com um tuíte do senador Renan Calheiros (MDB-AL), que é seu
adversário político e pai do ministro. Na postagem, Calheiros escreveu que Lira
é “caloteiro”, “desvia dinheiro público” e “bate em mulher”.
Inconformado com os ataques, o presidente da Câmara avisou os articuladores políticos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva que, enquanto Renan Filho não sair, a vida do governo na Câmara ficará ainda mais difícil. Em público, porém, Lira nega a ameaça. “Não pedi a cabeça de ninguém, mas quero respeito”, afirmou. “O problema do senador é psiquiátrico.” As acusações de violência doméstica que pesam contra Lira foram rejeitadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
Lula foi informado da situação e, de acordo
com auxiliares, encarou o embate como mais uma chantagem. Expoente do Centrão,
Lira não se dá bem com o ministro das Relações Institucionais, Alexandre
Padilha (PT), e não se cansa de repetir que o governo não conta com base aliada
sólida para aprovar propostas na Câmara sem o seu empenho.
Embora Lula tenha ignorado o recado do
presidente da Câmara, ministros não têm dúvida de que ele precisará entrar
pessoalmente em cena para conter a nova crise.
Na noite desta terça-feira, por exemplo,
Lira impôs nova derrota ao Planalto, conseguindo aprovar no plenário o projeto
do marco temporal das reservas indígenas, que só permite a demarcação de terras
até 5 de outubro de 1988, data em que foi promulgada a Constituição.
“Aqui é assim: uma no cravo e outra na
ferradura para o governo não ficar se achando só porque passou o arcabouço
fiscal”, disse o deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ).
Nos bastidores, a ministra do Meio
Ambiente, Marina Silva (Rede), culpa o líder do governo no Congresso, Randolfe
Rodrigues (sem partido-AP), por ter aberto a porteira para a ofensiva do
Centrão que desidratou sua pasta e também a dos Povos Indígenas. A exemplo do
marco temporal, a lipoaspiração desses dois ministérios também teve o apoio da
bancada ruralista.
Marina avalia que a retirada do Cadastro
Ambiental Rural e da Agência Nacional de Águas de sua alçada foi uma retaliação
ao veto do Ibama para que a Petrobras perfurasse um poço de petróleo na costa
do Amapá. Trata-se do Estado de Randolfe e do senador Davi Alcolumbre.
“Eu não briguei com a Marina. Mas lutaremos
até o fim contra essa decisão do Ibama”, admitiu Randolfe.
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