Folha de S. Paulo
Governo ainda resiste, mas deputados tentam
definir novas restrições a gastos
O teto móvel de gastos do governo não deve
ser aquele proposto ao Congresso pelo
governo Lula.
Como se escreveu nestas colunas, haverá uma limitação um tanto maior a certas
despesas e mais do que se chama de "punição" em caso de
descumprimento de metas de saldo primário (a diferença entre receita e despesa,
desconsiderada a despesa com juros).
Uma restrição que pode entrar no pacote é a
obrigação de o governo tomar providências caso as contas indiquem que será
difícil cumprir a meta de superávit primário. Trocando em miúdos grossos,
trata-se de alguma versão do velho contingenciamento. No caso de haver frustração
de receita ou excesso de despesa, o governo será obrigado a suspender despesas
previstas no Orçamento do ano corrente.
Ainda se discute qual o método de contingenciamento. O assunto divide o governo, como se pode esperar, e causa ira no PT. A divisão interna e as renegociações do arcabouço com a Câmara atrasaram a conclusão do projeto, relatado pelo deputado Cláudio Cajado (PP-BA), que é a voz de Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara, sobre o assunto.
Lira quer aprovar o projeto do governo sem
mudança fundamental. Mas se vale também do debate do arcabouço para fazer um
tanto mais de pressão sobre o governo.
Entre outras mudanças prováveis do
arcabouço estão os gatilhos: gastou além da conta (não fez superávit), não pode
reajustar salário, renunciar a receita etc. Certas despesas estarão sob o limite
do teto móvel: salários de enfermeiros, dinheiro para engordar estatais. Os
percentuais de crescimento da despesa ficam como estão.
Eletrobras
Luiz
Inácio Lula da Silva e o comando do PT querem retomar o controle sobre
a Eletrobras.
O núcleo mais petista do governo incentiva também o desejo do presidente de
voltar a mandar na empresa. Para quê?
O presidente foi ao Supremo pedir
que o governo tenha votos equivalente ao peso da participação do governo na
companhia, peso que foi limitado na privatização, sob Jair Bolsonaro. O governo
quer nomear a diretoria.
É uma reivindicação do comando do PT, que
quer reestatizar a empresa, e do núcleo mais petista do governo, centrado na
Casa Civil. São as mesmas pessoas que animaram os decretos para mudar as leis
do saneamento.
O que o governo ganharia retomando a
Eletrobras?
Haveria disputas político-partidárias por
diretorias; o risco de nomear um corrupto. Haverá um grande dano de imagem,
justo ou não (deve aumentar a percepção do risco de o governo intervir, romper
contratos etc.). Há o risco de piorar a administração da empresa, que vem sendo
reorganizada, com grande redução da dívida e aumento de investimento.
O governo Lula pode regular a empresa, o
setor ou fazer política industrial inteligente e útil ("transição
energética verde") sem bulir de modo indevido com a administração mais
elementar. Vale para a Eletrobras, para a Petrobras, para qualquer companhia
pública ou totalmente estatal.
Por falar em regulação, faz pelo menos uma
década que o setor elétrico precisa de uma reorganização profunda e complicada.
Além de permitir aumento de eficiência, reorganização do sistema de preços e
facilitação de investimentos, seria um caminho para rever subsídios e tantos
favores no setor. Por que o governo não gasta sua energia em algo útil?
Em um ambiente econômico melhor e com o crescimento da própria Eletrobras, o governo pode vender com ganhos relevantes sua participação ainda enorme na empresa. Pode ser um dinheiro a mais para facilitar o acerto nas contas públicas. Lula 3 vai precisar muito de qualquer dinheiro a fim de fazer funcionar seu arcabouço fiscal, o que é crucial para o sucesso econômico do governo.
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