O Estado de S. Paulo
A decisão do BC sobre a Selic teria de considerar a nova meta da inflação, ainda não definida
Mesmo com toda a ansiedade do presidente
Lula para um corte de juros e até com a crescente aposta no mercado de que isso
vai acontecer a partir de agosto, ainda é cedo para o Banco Central se
comprometer em sinalizar uma redução iminente da taxa Selic ao fim da reunião
do Copom hoje, quando deverá, novamente, manter a Selic inalterada em 13,75%.
O dilema do BC é o seguinte: desde a última reunião do Copom, houve progresso inegável nas métricas correntes e nas expectativas de inflação, além do câmbio mais apreciado, mas terá sido suficiente para dar conforto ao BC de que o aperto monetário já fez todo o seu trabalho para convergir a inflação de volta à meta?
Em maio, o índice oficial de inflação subiu
0,23%, abaixo até das mais otimistas estimativas do mercado. Já a projeção de
inflação em 2023 recuou de 6,05%, no boletim Focus divulgado antes da última
reunião do Copom, para 5,12%, enquanto a estimativa do IPCA em 2024 (o
horizonte relevante para o BC) caiu mais timidamente, de 4,18% para 4,0%. No
último Copom, o dólar estava em R$ 5,05. Agora, está abaixo de R$ 4,80.
Não à toa, Lula e até muitos analistas
dizem que as condições já estão dadas para um corte de juros. Além disso, como
o governo vem enfatizando, a aprovação do arcabouço fiscal no Congresso está
praticamente garantida, o que tira do cenário o risco de um descontrole nas
contas públicas. Tudo isso é verdade, mas há um “porém” importante que o BC
precisa levar em conta: a definição da meta de inflação pelo Conselho Monetário
Nacional (CMN), cuja decisão acontece no dia 29 deste mês.
Já está precificado nas expectativas do
mercado, diante de sinalizações dadas pela equipe econômica, que a meta será
mantida em 3%, mas que o seu horizonte deixará de ser o ano-calendário para ser
uma meta contínua. Só que o CMN precisa oficializar isso no seu voto. O BC não
pode se antecipar e se comprometer em cortar juros com base em sinalização
extraoficial. Se o presidente Lula decidir que quer mesmo elevar a meta, as
expectativas inflacionárias voltarão a subir para níveis incompatíveis com uma
redução iminente da taxa Selic.
Além disso, o desempenho do PIB vem
surpreendendo, com os analistas projetando maior crescimento em 2023. E o
mercado de trabalho está bastante apertado, sustentando a demanda. A taxa de
desemprego caiu de 8,8% para 8,5% em abril. Com isso, a inflação de serviços
permanece em patamar elevado. Assim, segue válida a mensagem do comunicado do
último Copom: a conjuntura atual demanda paciência e serenidade.
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