quarta-feira, 21 de junho de 2023

Bruno Boghossian - Um começo morno para a CPI

Folha de S. Paulo

Aliados de Lula patinam em primeiro depoimento e exibem começo morno na comissão

Dez dias após os ataques de 8 de janeiro, Lula disse que a ideia de criar uma CPI para investigar a tentativa de golpe era uma furada. As investigações aceleradas no Supremo e o risco de que a comissão fugisse do controle fizeram com que o presidente desestimulasse uma apuração no Congresso. "Nós não precisamos disso", afirmou o petista.

O governo e seus aliados passaram a encarar a CPI como uma fonte de desperdício de energia, não como oportunidade de ir a fundo nos detalhes dos atos golpistas. O início morno da comissão reflete essa escolha.

A bancada governista patinou no depoimento de Silvinei Vasques, ex-diretor da PRF. Gastou tempo demais para expor a afinidade óbvia do depoente com Jair Bolsonaro e demorou para martelar provas de direcionamento político nas blitze da corporação no segundo turno.

O ex-diretor usou ferramentas conhecidas e conseguiu escapar do aperto: distorceu dados, fugiu de questionamentos incômodos e foi favorecido pelo tumulto produzido por parlamentares bolsonaristas.

Os aliados de Lula ocuparam a maioria das cadeiras da CPI com a intenção de controlar o ritmo da comissão, manter o golpismo bolsonarista em evidência e evitar que a oposição usasse brechas para desgastar o governo. Em outras palavras, os objetivos principais eram proteger o governo e cumprir tabela.

Os parlamentares dessa maioria ainda não demonstraram interesse ou planejamento para fazer uma investigação que exponha novos detalhes sobre o uso da máquina bolsonarista e as impressões digitais de políticos e financiadores nos atos golpistas. Até aqui, tudo indica que a CPI ficará a reboque do STF.

Os governistas precisarão fazer um esforço adicional porque a comissão não repetiu a dobradinha da CPI da Covid, com Omar Aziz na presidência e Renan Calheiros na relatoria. O presidente da CPI do 8 de janeiro é Arthur Maia, que está mais próximo de Bolsonaro que de Lula e bancou o lobby pela convocação de Gonçalves Dias, ex-ministro do petista.

 

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