quinta-feira, 15 de junho de 2023

Míriam Leitão – A economia faz planos

O Globo

Nelson Barbosa, conta que o novo PAC terá mais projetos de infraestrutura, no entanto, mais agenda de concessões e PPPs que no passado

O novo plano de investimento que está sendo preparado pelo governo é diferente dos PACs do passado porque terá um foco maior em infraestrutura social e ambiental, e mais participação do setor privado, através de PPPs e concessões. Quem conta é o diretor de investimento do BNDES, Nelson Barbosa. O BNDES vai captar junto ao BID, ao banco de desenvolvimento da China e ao banco dos Brics recursos que haviam sido oferecidos ao Brasil e o governo anterior ignorou. “Somando tudo dá US$ 5 bilhões que estavam na mesa com taxas competitivas”.

Barbosa, ex-ministro da Fazenda e do Planejamento, afirma que está sendo pensado um “BNDES do futuro”, muito menos dependente de dinheiro do Estado para se financiar. Eu o entrevistei ontem no meu programa na Globonews. Ele está envolvido tanto na preparação do novo PAC, que não terá este nome, quanto em desenhar esse novo BNDES.

— O Brasil está muito bem colocado para o modelo do desenvolvimento sustentável. Nós temos uma matriz energética com fontes renováveis com muito potencial. Temos o que em economia chamamos de “vantagem do atraso”. A gente tem muita coisa a ser feita ainda em termos de eficiência energética, adaptação das cidades inteligentes, e que podem ter um volume menor de emissões. Somos uma democracia e isso não é pouca coisa. Uma democracia que tem um sistema público de educação, de saúde, e uma política de transferência de renda.

Esta resposta foi dada quando o perguntei se ele estava otimista com o crescimento de longo prazo. Sobre este ano, o otimismo está aumentando porque há vários bons indicadores, como tenho comentado aqui na coluna. Ontem, o Brasil teve elevação da sua classificação pela agência de risco S&P. O país ainda está longe do grau de investimento que atingiu nos primeiros governos Lula, mas o ministro Fernando Haddad considera que é uma questão de tempo.

Perguntei a Nelson Barbosa se dá para manter a taxa de crescimento nos próximos anos. Ele acha que tudo depende da capacidade de investimento do país. O novo plano de investimento terá metas e projetos de infraestrutura, como teve o PAC, mas, segundo ele explicou, há mais agenda de concessões e PPPs que no passado. Haverá projetos de concessão de energia, rodovias, manutenção de hospitais, recuperação de escolas públicas. Será lançado em breve.

O BNDES já avisou que quer dobrar de tamanho em termos de desembolso até o fim do atual governo.

– Sair de 1% do PIB para 2%, o que traduzindo o economês é deixar de ser um banco que empresta R$ 100 bilhões e voltar a emprestar R$ 200 bilhões como no passado. Temos condição de financiar mais com taxas de mercado e com taxas reguladas.

Nelson Barbosa contou que o banco agora está no desafio da captação. Além dos bancos internacionais de desenvolvimento — e ele faz questão de explicar que o banco dos Brics já oferecia desse financiamento antes de a ex-presidente Dilma assumir — há também a chance de captação interna.

—O BNDES é um banco e um banco pode lançar papéis. A gente já pode lançar letra financeira, só que isso paga imposto. O Brasil tem dois títulos que não pagam imposto, letra de crédito imobiliário e letra de crédito agrícola. A gente está propondo que haja também a letra de crédito do desenvolvimento, para que o banco possa emitir e a pessoa física investir sem pagar imposto. Com isso, a gente pode investir, e repassar toda a desoneração para o tomador final. Então, a taxa poderá sair mais baixa, sem depender do Tesouro. O BNDES andando com as próprias pernas. É o que os bancos de desenvolvimento fazem em vários países — explica, afirmando que a proposta será enviada ao Congresso junto com as outras medidas que Haddad está preparando para melhorar o funcionamento do mercado financeiro, após a aprovação do arcabouço fiscal.

Segundo Barbosa, de janeiro a maio, os desembolsos cresceram 14%, ou seja, 9% real, mas as consultas cresceram 200%.

— Então tem muita intenção de investimento, tem muita empresa procurando o banco, consultando sobre financiamento e esperando. Acho que, como todo mundo, aguardando uma definição melhor do quadro econômico, principalmente da taxa de juros, para tomar a decisão de investir. Por isso, a gente está otimista e acha que dá para recuperar a taxa de investimento do Brasil, que hoje está em 18%, mas pode ir para 21%. Como foi no passado.

Na economia está assim, com um bom clima. Enquanto a política continua enrolada.