Folha de S. Paulo
Bolsonaro prepara-se para, como sempre,
jogar a culpa do golpe nos cúmplices que ele aliciou
Em duas colunas de 2021 (26/1 e 28/1), compilei 170 palavras para definir Bolsonaro, nenhuma delas muito lisonjeira. Em ordem alfabética, iam de abutre, boçal e charlatão a trambiqueiro, ultrajante e vigarista, passando por classificações científicas, como fascista, genocida e golpista. Como se esperava, Bolsonaro não se ofendeu —porque está abaixo de qualquer ofensa. Mas uma palavra perdida entre as 170 é a que hoje melhor o define e talvez venha a ser adotada até pelos que o cercavam no tempo das onipotências: covarde.
Não é novidade. Ele sempre foi. Todos nos
lembramos de sua blenorrágica verborreia contra juízes, instituições, minorias,
urnas, vacinas e a própria vida por sentir-se amparado pelo grande irmão, o
Exército. E de como, ante uma reação da sociedade, "retratava-se",
sabendo que suas afrontas já estavam nas redes sociais.
São muitos os comparsas de quem Bolsonaro
se serviu e, quando algo deu errado, virou-lhes as costas ou atirou-lhes a
culpa —Fabricio Queiroz, Daniel Silveira, Roberto Jefferson, Carla Zambelli,
Anderson Torres. Donde, mesmo que publicamente insuflados por ele ao golpe, que
os coronéis Mauro Cid, Jean Lawand e demais golpistas não tenham ilusões. Assim
como Bolsonaro amarelou no 8/1 e os fez de otários, não contem com ele para
dividir as penas pelo golpe frustrado. No tribunal, suando nas mãos, Bolsonaro
balbuciará covardemente que tudo partiu deles.
Neste momento, até os aliados políticos se
revoltam por Bolsonaro estar brochando diante do que o espera no TSE. Acham que
ele deveria defender-se, reagir, espernear. Mas Bolsonaro parece achar bom
negócio a inelegibilidade, desde que não vá preso. Uma vez covarde, sempre covarde.
Um samba de Ataulpho Alves e Mario Lago,
"Atire a Primeira Pedra", imortalizado por Orlando Silva em 1943,
poderia consolá-lo. Começa com o verso "Covarde
sei que me podem chamar...".
Um comentário:
É.
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