Valor Econômico
Operação no Guarujá expõe a pressão pela
sobrevivência política do bolsonarismo
A reação policial à morte do soldado
Patrick Reis, no Guarujá, litoral paulista, expôs a fratura pelo controle
político do Estado de São Paulo.
A eleição que levou Tarcísio de Freitas ao
Palácio dos Bandeirantes recrudesceu a guerra interna entre as forças policiais
e desafia a autoridade do governador sobre o aparato de segurança do Estado.
Até sua posse, prevaleceu, sobre a banda
“bandido bom é bandido morto” da polícia, uma política de segurança baseada em
evidências, com ouvidoria e convênios com entidades civis.
Prevalência não pressupõe supressão. A
polícia de São Paulo sempre abrigou matadores travestidos de policiais e sócios
de atividades econômicas ilegais, dominadas por facção criminosa, sendo o
tráfico de drogas a maior delas.
A prevalência levou à adoção de câmeras nos uniformes policiais. Vários Estados adotaram a política, mas não com a obrigação de descarregar as imagens numa central que permite o acesso diário de comandantes de batalhões ao cotidiano dos policiais.
A política de câmeras nasceu dentro da
polícia e ganhou aprovação popular. Tarcísio ensaiou questioná-la na campanha
mas recuou. Com a posse, a pressão recrudesceu.
Ao assumir a Segurança Pública, o deputado
federal e capitão da PM Guilherme Derrite (PL-SP) buscou a bancada do PT na
Assembleia Legislativa.
A aproximação foi abortada pelo desgaste
provocado por um reajuste inferior ao esperado pela bancada da bala. Este
desgaste somou-se ao provocado por Tarcísio na reforma tributária.
Foi este caldeirão que explodiu no Guarujá.
Tarcísio resolveu bancar a operação para acomodar a pressão bolsonarista. Sem
raízes políticas no Estado, sem energia para galvanizar aliados ou empatia para
transferir votos, dificilmente será influente na eleição municipal.
A despeito disso, o prefeito da capital,
Ricardo Nunes, ainda prefere colar em Tarcísio a ficar exposto à rejeição ao
bolsonarismo na cidade. Se Nunes teme a rejeição, Tarcísio receia que fagulhas
da base bolsonarista o desestabilizem.
Com o governo disputado por cinco grandes
grupos, restou a Tarcísio conter a artilharia daquele que tem mais poder de
fogo.
O espólio tucano é disputado pelo
Republicanos, do deputado Marcos Pereira, ao qual está filiado o governador, o
PL, de Valdemar Costa Neto, e o PSD de Gilberto Kassab, secretário de governo
do Estado.
Os três enfrentam não apenas os
bolsonaristas como o grupo do próprio Tarcísio, que faz um governo
predominantemente tecnocrático. É liderado pelo secretário da Casa Civil,
Arthur Lima, um dos especialistas em infraestrutura e concessões que dominam o Bandeirantes.
Por mais enroscadas que estejam, a
privatização da Sabesp e as concessões das linhas de Metrô não são a maior dor
de cabeça do governo. É na segurança que mora o perigo.
Este risco foi desprezado, por exemplo, na
ação do governo na Cracolândia. Tarcísio associou a esta ação o interesse em
mudar a sede do governo para o centro movido pelos mesmos interesses que, na
gestão Kassab, tentaram emplacar um projeto de reurbanização a partir de
isenções à indústria imobiliária.
Arriscou na cracolândia e, por ora, perde
feio. Este sempre foi um ônus municipal, mas Tarcísio chamou para si sem que
tenha disposição - e apoio - para atacar o problema pela raiz: a aliança entre
o crime organizado e a polícia que alimenta os zumbis.
A operação no Guarujá foi o segundo flanco
que Tarcísio abriu na segurança pública. Se foi preciso que um carioca
assumisse para que o Bandeirantes deixasse de obstruir a reforma tributária,
recai, sobre o mesmo governador, a ameaça de importar o embate com o crime
organizado do Rio.
Professor na Science Po, em Paris, e autor
de “Irmãos - Uma história do PCC” (Cia das Letras, 2018), Gabriel Feltran
garante que é na Baixada Santista que a facção paulista mais se parece com a do
Rio pelo domínio territorial que exerce com armados a cada esquina.
A cena está na rede. Quatro adolescentes
descem de um carro de chinelos, empunhando metralhadoras, e atiram contra
policiais numa delegacia no Guarujá. Voltam para o carro, mas um deles não
consegue entrar de volta e é capturado.
A ação, em retaliação às 16 mortes
desencadeadas pela operação que resultou da morte do PM, nada tem a ver com a
logística sofisticada que faz uso de explosivos e criminosos experientes que
marcam a atuação da facção paulista. Apesar disso, ninguém duvida do carimbo do
grupo numa região estratégia para o crime pela proximidade com o porto de
Santos.
Aquele bairro do Guarujá, Vicente de
Carvalho, foi o primeiro endereço do presidente da República ao chegar a São
Paulo aos 5 anos. De bairro dormitório de estivadores, transformou-se em
incubadora de jovens para a proteção de um dos maiores negócios do país, o
tráfico internacional de cocaína.
O pacote de segurança pública do governo
federal garantiu mais recursos para os Estados mas não meteu a mão neste
vespeiro. Deveria fazê-lo, até porque o grupo que está no poder tem pretensões
de tomar o Bandeirantes, nem que seja devolvendo a cadeira ao vice, Geraldo
Alckmin.
Um primeiro passo seria desengavetar o
projeto de lei que está empoçado na Casa Civil e tira da carreira militar quem
quiser se aventurar na política. Este projeto inibiria mandatos como o de
Derrite. A porta giratória facilita o abrigo de pressões como a da base
bolsonarista que mata para sobreviver politicamente.
5 comentários:
PIMBA! PARABÉNS!
NO ALVO.
MARIA CRISTINA FERNANDES É UMA ESPÉCIE DE 'SNIPER' DA ANÁLISE POLÍTICA E DE SEGURANÇA DE SÃO PAULO.
■A polícia do Rio matando, a polícia da Bahia matando, a polícia de São Paulo matando, o governador da Bahia dando declaração sobre violência policial como as declarações que dava Bolsonaro, os governadores do Rio e de São Paulo copiando o governador da Bahia...
▪Eu devo reclamar e denunciar::
(..)O governador do Rio;
(..)O governador da Bahha;
(..)O governador de S.Paulo;
(..)Todos;
(..)Se eu denunciar só uns e proteger outros eu estou sendo pior do que eles, escolhendo quem eu mato e me passando por bonzinho, parecendo com o que fazem os lulistas e os bolsonaristas.
Quais opcões vão ganhar o seu 'X' ?
Pois é,eis a questão?
Se matança resolvesse não precisava de Estado,deixaria como era... 'O homem é o lobo do homem'.
Postar um comentário