quinta-feira, 3 de agosto de 2023

Maria Cristina Fernandes - A polícia que desafia Tarcísio e ameaça SP

Valor Econômico

Operação no Guarujá expõe a pressão pela sobrevivência política do bolsonarismo

A reação policial à morte do soldado Patrick Reis, no Guarujá, litoral paulista, expôs a fratura pelo controle político do Estado de São Paulo.

A eleição que levou Tarcísio de Freitas ao Palácio dos Bandeirantes recrudesceu a guerra interna entre as forças policiais e desafia a autoridade do governador sobre o aparato de segurança do Estado.

Até sua posse, prevaleceu, sobre a banda “bandido bom é bandido morto” da polícia, uma política de segurança baseada em evidências, com ouvidoria e convênios com entidades civis.

Prevalência não pressupõe supressão. A polícia de São Paulo sempre abrigou matadores travestidos de policiais e sócios de atividades econômicas ilegais, dominadas por facção criminosa, sendo o tráfico de drogas a maior delas.

A prevalência levou à adoção de câmeras nos uniformes policiais. Vários Estados adotaram a política, mas não com a obrigação de descarregar as imagens numa central que permite o acesso diário de comandantes de batalhões ao cotidiano dos policiais.

A política de câmeras nasceu dentro da polícia e ganhou aprovação popular. Tarcísio ensaiou questioná-la na campanha mas recuou. Com a posse, a pressão recrudesceu.

Ao assumir a Segurança Pública, o deputado federal e capitão da PM Guilherme Derrite (PL-SP) buscou a bancada do PT na Assembleia Legislativa.

A aproximação foi abortada pelo desgaste provocado por um reajuste inferior ao esperado pela bancada da bala. Este desgaste somou-se ao provocado por Tarcísio na reforma tributária.

Foi este caldeirão que explodiu no Guarujá. Tarcísio resolveu bancar a operação para acomodar a pressão bolsonarista. Sem raízes políticas no Estado, sem energia para galvanizar aliados ou empatia para transferir votos, dificilmente será influente na eleição municipal.

A despeito disso, o prefeito da capital, Ricardo Nunes, ainda prefere colar em Tarcísio a ficar exposto à rejeição ao bolsonarismo na cidade. Se Nunes teme a rejeição, Tarcísio receia que fagulhas da base bolsonarista o desestabilizem.

Com o governo disputado por cinco grandes grupos, restou a Tarcísio conter a artilharia daquele que tem mais poder de fogo.

O espólio tucano é disputado pelo Republicanos, do deputado Marcos Pereira, ao qual está filiado o governador, o PL, de Valdemar Costa Neto, e o PSD de Gilberto Kassab, secretário de governo do Estado.

Os três enfrentam não apenas os bolsonaristas como o grupo do próprio Tarcísio, que faz um governo predominantemente tecnocrático. É liderado pelo secretário da Casa Civil, Arthur Lima, um dos especialistas em infraestrutura e concessões que dominam o Bandeirantes.

Por mais enroscadas que estejam, a privatização da Sabesp e as concessões das linhas de Metrô não são a maior dor de cabeça do governo. É na segurança que mora o perigo.

Este risco foi desprezado, por exemplo, na ação do governo na Cracolândia. Tarcísio associou a esta ação o interesse em mudar a sede do governo para o centro movido pelos mesmos interesses que, na gestão Kassab, tentaram emplacar um projeto de reurbanização a partir de isenções à indústria imobiliária.

Arriscou na cracolândia e, por ora, perde feio. Este sempre foi um ônus municipal, mas Tarcísio chamou para si sem que tenha disposição - e apoio - para atacar o problema pela raiz: a aliança entre o crime organizado e a polícia que alimenta os zumbis.

A operação no Guarujá foi o segundo flanco que Tarcísio abriu na segurança pública. Se foi preciso que um carioca assumisse para que o Bandeirantes deixasse de obstruir a reforma tributária, recai, sobre o mesmo governador, a ameaça de importar o embate com o crime organizado do Rio.

Professor na Science Po, em Paris, e autor de “Irmãos - Uma história do PCC” (Cia das Letras, 2018), Gabriel Feltran garante que é na Baixada Santista que a facção paulista mais se parece com a do Rio pelo domínio territorial que exerce com armados a cada esquina.

A cena está na rede. Quatro adolescentes descem de um carro de chinelos, empunhando metralhadoras, e atiram contra policiais numa delegacia no Guarujá. Voltam para o carro, mas um deles não consegue entrar de volta e é capturado.

A ação, em retaliação às 16 mortes desencadeadas pela operação que resultou da morte do PM, nada tem a ver com a logística sofisticada que faz uso de explosivos e criminosos experientes que marcam a atuação da facção paulista. Apesar disso, ninguém duvida do carimbo do grupo numa região estratégia para o crime pela proximidade com o porto de Santos.

Aquele bairro do Guarujá, Vicente de Carvalho, foi o primeiro endereço do presidente da República ao chegar a São Paulo aos 5 anos. De bairro dormitório de estivadores, transformou-se em incubadora de jovens para a proteção de um dos maiores negócios do país, o tráfico internacional de cocaína.

O pacote de segurança pública do governo federal garantiu mais recursos para os Estados mas não meteu a mão neste vespeiro. Deveria fazê-lo, até porque o grupo que está no poder tem pretensões de tomar o Bandeirantes, nem que seja devolvendo a cadeira ao vice, Geraldo Alckmin.

Um primeiro passo seria desengavetar o projeto de lei que está empoçado na Casa Civil e tira da carreira militar quem quiser se aventurar na política. Este projeto inibiria mandatos como o de Derrite. A porta giratória facilita o abrigo de pressões como a da base bolsonarista que mata para sobreviver politicamente.

 

5 comentários:

hisayo nanami disse...

PIMBA! PARABÉNS!
NO ALVO.

MARIA CRISTINA FERNANDES É UMA ESPÉCIE DE 'SNIPER' DA ANÁLISE POLÍTICA E DE SEGURANÇA DE SÃO PAULO.

EdsonLuiz disse...

■A polícia do Rio matando, a polícia da Bahia matando, a polícia de São Paulo matando, o governador da Bahia dando declaração sobre violência policial como as declarações que dava Bolsonaro, os governadores do Rio e de São Paulo copiando o governador da Bahia...
▪Eu devo reclamar e denunciar::
(..)O governador do Rio;
(..)O governador da Bahha;
(..)O governador de S.Paulo;
(..)Todos;
(..)Se eu denunciar só uns e proteger outros eu estou sendo pior do que eles, escolhendo quem eu mato e me passando por bonzinho, parecendo com o que fazem os lulistas e os bolsonaristas.

EdsonLuiz disse...

Quais opcões vão ganhar o seu 'X' ?

ADEMAR AMANCIO disse...

Pois é,eis a questão?

ADEMAR AMANCIO disse...

Se matança resolvesse não precisava de Estado,deixaria como era... 'O homem é o lobo do homem'.