O Globo
Gregório foi atacado nas redes após
convidar Lula a tomar um café com candidatas negras à vaga que será aberta no
STF
Na semana passada, o humorista Gregório
Duvivier fez uma publicação no
X (antigo Twitter) convidando o presidente Lula a tomar um café
com candidatas negras à vaga que será aberta no STF.
O post não era agressivo. Apenas dizia, simpaticamente:
— Nós marcamos um café pro Lula conhecer
algumas juristas negras com notável saber jurídico que podem ocupar a próxima
vaga do STF. Ajude a gente a fazer o convite chegar até ele.
Não havia nenhuma crítica ao presidente, apenas o convite para um café. Mesmo assim, a publicação foi respondida com uma duríssima campanha de ataques pessoais. Gregório foi chamado de “maconheiro do Leblon”, “agente da CIA” querendo promover uma “revolução colorida” com “dinheiro do Soros”, foi acusado de ter uma empresa racista e de fazer “humor racista”. A grande disparidade entre o delicado convite para o café e as pesadas críticas pessoais é sinal da indisposição radical de parte da militância petista em aceitar qualquer forma de dissidência ou posicionamento independente, especialmente de alguém que faz parte do campo da esquerda.
É difícil saber se o ataque a Duvivier foi
combinado, no todo ou em parte, ou um fenômeno espontâneo, em que um ataque
bem-sucedido, recompensado com muitas curtidas, estimula o ataque seguinte. Se
foi combinado, isso significa que a militância petista ou alguma coordenação
sua decidiu que não aceitaria mais reparos ao Lula, mesmo quando fossem
respeitosos ou viessem pela esquerda. E, se não foi combinado, mas espontâneo,
o efeito é o mesmo, e a situação é ainda mais preocupante, porque, nesse caso,
o espírito de intolerância já está entranhado na militância — na cultura
compartilhada de patrulhamento a quem desobedece às decisões estratégicas do
partido.
Para alguns analistas, o ataque mostra o
conflito entre uma esquerda clássica, mais classista, de que Lula faz parte, e
a nova esquerda identitária, de quem Lula gostaria de receber apoio, mas com
que não teria muito compromisso. A inclinação para escolher um ministro homem e
branco, porém comprometido com os valores dessa esquerda clássica, expõe o
conflito.
Só que Lula não tem escolhido ministros
esquerdistas e classistas, como o exemplo de Zanin demonstra. Escolhe os que
acredita ser fiéis, aqueles que não o “trairão”, como alguns indicados nos
mandatos anteriores que terminaram apoiando a Lava-Jato e sua prisão. Os
ataques a Duvivier não são reflexo de um conflito entre classistas e
identitários, mas entre os que se subordinam e os que não necessariamente
aceitam as decisões estratégicas do PT.
A maioria das críticas que ele recebeu não
foram “classistas”, mas empregavam a linguagem do movimento negro. Duvivier foi
acusado de ser um “branco do Leblon” (mesmo vivendo em Laranjeiras), de não
manter diretores negros na empresa Porta dos Fundos e de fazer piadas
“racistas”.
O que mais choca nesses ataques é o caráter
pessoal. A campanha por uma ministra negra no STF não foi respondida com
argumentos. Poderiam ter dito que a representação de negros e mulheres pode até
ser interessante, mas não é suficiente, e um candidato homem e branco, com
formação jurídica sólida e boas posições, poderia ser mais adequado. Mas não.
A resposta consistiu em destruir a
reputação do porta-voz da campanha, acusando-o de racista, elitista e
imperialista. Centenas de postagens e artigos em blogs promoveram sua
desqualificação pessoal. Todo mundo que apoiava a campanha pensou: se fizeram
isso com o Gregório, que farão comigo? O resultado foi o esperado: a campanha
por uma ministra negra no STF morreu, e o próximo ministro seguramente será um
homem branco, fiel a Lula.
Um comentário:
Muito bom.
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