O RFS, que embasou a construção da
proposta orçamentária para 2024, desloca o eixo do ajuste fiscal do controle
das despesas para o incremento das receitas públicas, principalmente em
função da meta para resultado primário fixada em 0% do PIB no Projeto
de Lei de Diretrizes Orçamentárias de 2024 (PLDO
2024).
No contexto macroeconômico, destacam-se as
revisões realizadas para o crescimento econômico de 2023. Dessa forma, o
PIB projetado pela IFI para 2023 foi revisado para 3%, com manutenção da
previsão de crescimento de 1,2% em 2024. Sobre o cenário de 2024, ressalta-se
que a peça orçamentária apresentada pelo poder Executivo no último mês
projeta um cenário mais otimista, com crescimento em 2,3%.
Pelo lado do gasto público
é realçado o volume de recursos condicionados que existem no
orçamento apresentado pelo Executivo. São três condicionantes no total:
(i) R$ 32,4 bilhões ampliam o limite de gastos primários sujeitos ao teto de
gastos em decorrência do diferencial de inflação entre junho e dezembro
(estimado); (ii) R$ 168,5 bilhões condicionados à aprovação de
medidas de ampliação de receitas primárias; e (iii) R$ 200,2 bilhões
condicionados à aprovação, por parte do Congresso, por maioria absoluta,
de ressalva constitucional para descumprimento da regra de ouro.
Feitas essas considerações, o
RAF nº 80 evidencia que o alcance da meta de resultado primário
zero em 2024, previsto no PLOA 2024,
está fortemente condicionado à materialização de uma série de receitas
derivadas de iniciativas legais propostas pelo Poder Executivo e sob
análise do Congresso Nacional (tributação sobre subvenções para
investimento, apostas esportivas de quota fixa, ativos financeiros de pessoas
físicas no exterior, estoque e fluxo de fundos fechados, fim da dedutibilidade
de juros sobre o capital próprio, recuperação de créditos no âmbito do
CARF). Como as medidas de ajuste ainda estão
sujeitas à deliberação parlamentar e algumas têm alta probabilidade
de questionamentos na justiça, o equilíbrio fiscal
pretendido continua envolto em enormes incertezas. Nesse
contexto, a estimativa da IFI para
o déficit primário de 2024 é de 1,0% do PIB.
Diante do quadro analisado pelo
RAF 80, envolvendo os múltiplos aspectos macroeconômicos e fiscais
para 2024, o cenário vislumbrado pela IFI indica aumento da
relação entre dívida pública e o PIB.
Só após a votação pelo Congresso
Nacional do conjunto de medidas de aumento de receitas, do PLDO, do
PLOA 2024 e da observação do grau de litigância despertado é que
será possível uma visão mais precisa sobre as perspectivas das
finanças públicas.
O cenário atual é marcado por múltiplas
incertezas.
*Economista e Professor. Ex-Deputado Federal pelo PSDB-MG. Secretário de Estado de Saúde de Minas Gerais (2003-2010). Diretor-Executivo do IFI – Instituição Fiscal Independente do Senado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário