O Globo
Mercado dá como certo corte de meio ponto na semana que vem, mas vêm crescendo as apostas de aceleração para 0,75 na reunião de dezembro
O Banco Central dará mais um corte de 0,5 ponto na taxa Selic na próxima quarta-feira, mas no mercado financeiro vem crescendo as apostas de que o ritmo poderá se acelerar para 0,75 ponto na reunião de dezembro. De um lado, a inflação de serviços vem vindo melhor do que o esperado, e as expectativas de inflação também estão sob controle. Isso reforça os argumentos dos mais otimistas. Mas, por outro, há incertezas que podem levar à manutenção de cortes de meio ponto nas próximas reuniões: preço do petróleo em alta, descrença com o cumprimento da meta fiscal e valorização do dólar no mercado internacional. Além disso, em se tratando de política monetária, quanto maior for o crescimento econômico e menor o desemprego, maiores as pressões inflacionárias. Esses dois indicadores — ótima notícia— estão surpreendendo positivamente.
Mercado dividido
O economista-chefe da JF Trust, Eduardo
Velho, é um dos que aposta em corte de meio ponto na semana que vem, com outro
corte igual em novembro, mas aceleração para 0,75 ponto em dezembro. Com isso,
a Selic fecharia o ano em 11,5%. Como ele, também pensam os economistas Nicolas
Tingas, da Acrefi, e Felipe Salto, da Warren Rena. Já os economistas José
Márcio Camargo, da Genial Investimentos, Alberto Ramos, do Goldman Sachs, e
Sérgio Vale, da MB Associados, estão mais cautelosos e mantêm em seus cenários
cortes de meio ponto até o final do ano. Os nomes dão uma ideia de como o
mercado financeiro está dividido sobre o que vem pela frente.
Risco do petróleo
Sérgio Vale aponta que a união entre Rússia
e Arábia Saudita para tentar ditar os preços do barril de petróleo é uma das
principais incertezas para o cenário inflacionário. “Ano que vem há tendência
de preço de petróleo mais turbulento por conta de união de Rússia e Arábia
Saudita contra a reeleição de Biden e a favor da volta do Trump”, afirmou. Nos
último três meses, o barril do tipo brent já saltou de US$ 71,84, no dia 12 de
julho, para US$ 94,11, ontem. Um aumento de 30,99%. Segundo dados da Abicom, a
defasagem do preço interno com o internacional está em 11% na gasolina e em 16%
no diesel.
Na contramão
Enquanto o Boletim Focus revisou, nas
últimas quatro semanas, a projeção de inflação de 4,84% para 4,93% a estimativa
para o IPCA deste ano, o banco BTG Pactual cortou de 4,8% para 4,5% o seu
número. A melhora reflete melhoras nos preços dos alimentos, dos serviços e de
bens industriais, e repasses menores por parte da Petrobras nas altas dos
combustíveis.
Efeito China
O economista Nathan Blanche, sócio da
Tendências Consultoria, disse que o pacote da China que liberou crédito para
compra de alimentos pode ajudar na valorização do real. “O fluxo cambial ficou
negativo no dia do anúncio e ainda assim o real se valorizou. Foi a expectativa
de preços de commodities mais altos que ajudou na valorização da nossa moeda”,
afirmou. Depois de bater em R$ 4,98, na sexta-feira da semana passada, o dólar
recuou para R$ 4,86, ontem.
Dinheiro na mão
Um dos fatores que impedem uma valorização mais forte do real é a diminuição do chamado “diferencial de juros” entre o Brasil e os Estados Unidos. O gráfico mostra que ele vem diminuindo, com a queda da Selic, de um lado, e as altas recentes dos juros pelo Fed, o Banco Central americano. A lógica é simples: se não há muita diferença entre os juros do Brasil e dos EUA, os investidores levam dólares para lá, em busca de rendimento em renda fixa com risco mais baixo.
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