sexta-feira, 6 de outubro de 2023

Bernardo Mello Franco - Castro desmente Castro sobre rombo nas contas do Rio

O Globo

Depois de dizer que estado "estava no caminho certo", governador fala em "quebradeira" e ameaça atrasar salários

O governador do Rio começou a semana de pires na mão. Foi a Brasília pedir mais um refresco no regime de recuperação fiscal. Cláudio Castro se reuniu com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Na saída, falou em “quebradeira” e disse que o Rio não tem “a menor condição” de pagar o que deve no ano que vem.

“Nosso problema vai causar fome no estado, vai causar atraso de salário. E isso é algo que a gente não pode deixar acontecer”, afirmou.

Quem acompanha a política do Rio já se acostumou a esse tipo de apelo. A novidade é ver Castro no papel de pedinte. Até outro dia, ele jurava que as contas públicas estavam em ordem. “Estamos no caminho certo”, repetia.

Em agosto, o governador soltou fogos quando uma agência de classificação de risco recalibrou os critérios para o Brasil. A mudança melhorou a nota de diversos estados, mas Castro usou a notícia para fazer autopromoção.

O que o governador chamou de “nosso problema” é um rombo de R$ 8,5 bilhões nas contas de 2024. O número está no Projeto de Lei Orçamentária Anual apresentado ontem à Assembleia Legislativa.

O estado prevê arrecadar R$ 104,5 bilhões e gastar R$ 113 bilhões no ano que vem. Diante do buraco, seria preciso fazer mágica para pagar R$ 8 bilhões na rolagem da dívida com a União.

“Parece que agora o governador acordou”, ironiza o deputado Luiz Paulo Corrêa da Rocha. Ontem ele classificou a situação do estado como “trágica”. “Estamos vivendo à beira do abismo. Mais um empurrãozinho e vamos lá”, alertou, na tribuna da Alerj.

Na terça-feira, Castro tentou se eximir de culpa pelo rombo. Afirmou que a condição de pagamento da dívida “foi alterada por uma situação fora do nosso controle, que foi uma lei federal”. O governador se referia à redução do ICMS sobre combustíveis, energia elétrica e comunicações, sancionada em junho de 2022. Faltou dizer que ele comemorou a medida populista, baixada por seu aliado Jair Bolsonaro às vésperas da eleição.

Em 2021, o Rio turbinou o caixa com R$ 14 bilhões da privatização da Cedae. A receita extraordinária ajudou Castro a se reeleger, mas não se repetirá nos próximos anos. “O governador meteu o pé na jaca. Agora o dinheiro acabou, não tem mais nada para vender”, diz o deputado Luiz Paulo.

 

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