Valor Econômico
Garantia dos direitos sociais à população ainda é um dos principais problemas antes, mas melhorou menos do que poderia. Muito do que está previsto não foi cumprido
Com 35 anos, completados nessa quinta-feira
(5), a Constituição Federal brasileira passou por dois impeachments de
presidentes da República, ataques ao sistema democrático, ameaça de golpe,
embates entre os Poderes, crises econômicas e uma pandemia. Os muitos testes
políticos demonstraram a resiliência e a força da Carta Magna, que marcou a
redemocratização nacional depois de 21 anos do regime militar. Mesmo depois de
receber 137 emendas, os valores e os princípios constitucionais continuam
preservados. A garantia dos direitos sociais à população, no entanto, ainda é
um dos principais problemas - e desafios.
A advogada Flavia Bahia, especialista em
direito constitucional e professora da FGV Direito Rio, destaca algumas das
conquistas da Constituição: a saúde passou de serviço público para um direito
fundamental, assim como a educação, alimentação, acesso à moradia e transporte.
Há a garantia de igualdade de gênero e de defesa das minorias; a liberdade de
expressão, de manifestação e de imprensa; o avanço na defesa do meio ambiente,
e a defesa do equilíbrio entre justiça social e liberdade econômica.
A professora, no entanto, diz que muitos dos direitos e garantias sociais ainda não saíram do papel. “Temos os instrumentos para os direitos, mas falta a efetividade.” A saúde universal, lembra Flavia, não é uma realidade.
As ameaças à democracia, que marcaram a
gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), além de crises políticas nas
últimas três décadas e meia tornaram a Carta Magna “mais forte”. “Não se
questionou a Constituição nesses episódios. Todos esses momentos foram
abrigados na Constituição”, diz Flavia. Como exemplos, cita que os impeachments
de Fernando Collor de Mello e de Dilma Rousseff seguiram o rito constitucional;
na pandemia, o Supremo Tribunal Federal (STF) reconheceu a competência dos
Estados, Distrito Federal e dos municípios no combate à covid-19, apesar da
resistência de Bolsonaro em adotar medidas sanitárias; e a intervenção federal
depois dos atos golpistas de 8 de janeiro deste ano.
“Apesar de a Constituição ter vivido momentos
difíceis, ela provou que dá conta, que é suficiente, e que não precisamos de
outra.”
Mesmo os embates entre o Congresso e o STF em
torno de temas que afetam as minorias, como a demarcação de terras indígenas e
a união de casais homoafetivos, não devem alterar os direitos previstos na
Constituição, diz Flavia. “É muito difícil que as reações do Legislativo
contrárias a decisões garantistas sobrevivam”, afirma. “A defesa dos direitos
das minorias é um caminho sem volta.”
Professora da Faculdade de Direito da USP e
líder do Grupo de Pesquisa Estado, Direito e Políticas Públicas, Maria Paula
Dallari Bucci destaca a resiliência da Constituição, que resistiu a diversos
ataques e é capaz de celebrar um pacto político, de união nacional. “A
Constituição, 35 anos depois de ser experimentada, questionada, testada e
atacada, sobreviveu.”
Maria Paula cita as garantias sociais que a
Constituição trouxe, mas também pondera que as políticas sociais não
deslancharam nessas três décadas e meia. A saúde, a assistência e educação
deveriam estar em outro patamar de financiamento e de desenvolvimento. “Tivemos
progressos em relação ao que era antes da Constituição, mas melhorou menos do
que poderia”, diz. “Muito do que está previsto não foi cumprido.”
Entre os desafios enfrentados pela
Constituição, a professora enumera três: a presença dos militares na política,
que se envolveram no fim do governo Bolsonaro em uma ameaça de golpe; a pressão
do poder Legislativo para ter mais protagonismo no processo político, com maior
peso na definição do Orçamento; e a atuação do STF. “Espera-se que o Supremo
tenha uma atuação mais sóbria, mais autocontida, e que viva em harmonia com o
Legislativo.”
A Constituição, avaliam as duas professoras,
influenciou também outras conquistas importantes, como as cotas para negros e
indígenas, a criminalização da homofobia e do racismo, a criação da Lei Maria
da Pena, do Estatuto da Criança e do Adolescente e do Estatuto do Idoso. Ainda
há muitos avanços pela frente, lembra Maria Paula, citando como exemplo o
aumento da participação de mulheres e de pessoas negras no Judiciário e no
Legislativo. “O Brasil vive um clamor pela inclusão das minorias”, diz.
3 comentários:
■Cristiane Agostine escreveu::
" Com 35 anos, completados nessa quinta-feira (5), a Constituição Federal brasileira passou por dois impeachments de presidentes da República, ataques ao sistema democrático, ameaça de golpe, embates entre os Poderes, crises econômicas e uma pandemia. ".
▪Sim, com o tanto de esbarros, a Constituição tem mostrado resiliência!
Mas as ameaças realmente grandes à Constituição e à democracia no Brasil neste seu período de vigência até agora tem sido o tamanho grande dos dois blocos de forças defensoras de ordem política mundial autoritária e de prática institucionalizada de corrupção de dinheiro e de poder, o bloco ligado a Lula e o bloco ligado a Bolsonaro.
■Em relação ao tamanho pequeníssimo das forcinhas verdadeiramente comprometidas com moralidade e com democracia que temos, o tamanho exagerado destas duas forças moralistas, corruptas e defensoras de uma ordem mundial autoritária, o lulismo e o bolsonarismo, assusta!
Esta sanha de corrupção política e material e articulação interna e externa com defensores de uma ordem autoritária contaminou as três esferas de poder em um, em dois, e em certos casos em todos estes aspectos, o aspecto da corrupção material, o da corrupção do poder e o da articulação de uma ordem autoritária.
Hoje, quando olhamos para o STF, identificamos nesta instituição defensores de uma destas duas forças populistas corruptas e defensoras de ordem mundial autoritária.
Não só no STF identificamos esta contaminação. Na Câmara e no Senado vemos agravadas a corrupção material e do poder que já existia e no executivo só de ver os Rolex de Bolsonaro e os Cartier de Lula que deveriam estar no acervo público e foram encontrados com eles dá para sabermos que o tamanho da corrupção de dinheiro não é só dos $14Bilhões recuperados pela Operação Lava Jato e dos $34Bilhões que tinham encaminhamento para serem recuperados e já não mais serão, por Lula e Bolsonaro (sim, os dois e não só um ou outro) terem desmontado as estruturas de combate à corrupção e por causa disto hoje é mais certo que os previstos $34Bilhões não mais retornarão aos cofres.
E vemos manifestações em blogues sujos de notícias políticas que quase gritam a sugestão de proteger as empresas corruptas e corruptoras e devolver para elas o dinheiro que elas entregaram de volta após confessarem corrupção.
E as três esferas de poder, o judiciário, o executivo e o legislativo estão perdendo legitimidade nas suas ações por estas práticas e por este jogo sórdido de tramarem contra a democracia. E estranhamente, em âmbito mundial, tramam juntas, misturando Lula e Bolsonaro com Putin, Tramp, Xi Jiping, Erdogan, Duterte, Maduro...
Edson Luiz Pianca.
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