Valor Econômico
Entidade vê espaço para reduções contínuas
nas taxas de juros ao longo de 2024 e 2025
A Organização para Cooperação e
Desenvolvimento Economico (OCDE) projeta agora que o crescimento da economia
brasileira ficará em 3,0% em 2023 (comparado a 3,2% em setembro), desacelerando
para 1,8% em 2024 (ante 1,7% estimado antes) e 2,0% em 2025, em novo relatório
publicado hoje em Paris.
‘Somos bastante positivos sobre o Brasil’’, afirma Jens Arnold, chefe da divisão na OCDE que acompanha a situação brasileira. Ao explicar os ajustes nas projeções, ele nota que a economia brasileira teve um desempenho muito forte, sobretudo no começo do ano. Mas indicadores de frequência mensal sugerem um desempenho menos forte no terceiro trimestre. Isso levou a uma ligeira revisão das projeções. E implicou também levar parte do crescimento de 2023 para o ano seguinte, ou seja, é mais uma revisão do timing do que outra coisa.
A demanda doméstica continua sendo o
principal impulsionador da atividade econômica no Brasil. Apesar do aperto nas
condições financeiras, os gastos das famílias continuarão fortes com o
crescimento dinâmico do emprego, a queda da inflação e o aumento das
transferências sociais.
Nota que as primeiras estimativas projetam um
novo recorde na produção agrícola para a próxima segunda safra. Embora a
produção industrial tenha melhorado em agosto, continua 1,8% abaixo do nível
pré-pandêmico de fevereiro de 2020. O setor de serviços apresentou contração
consecutiva de 0,3% em setembro de 2023 e de 0,9% em agosto em comparação com
julho. O mercado de trabalho vem se fortalecendo, com a taxa de desemprego
caindo para 7,7% em setembro, a menor registrada desde junho de 2015. A criação
de empregos está sendo predominantemente impulsionada pelo setor de serviços,
incluindo serviços domésticos.
A expectativa é de que o investimento privado
se recuperará ligeiramente ao longo de 2024 com a flexibilização da política
monetária. Embora os preços das commodities estejam em queda, os produtos
agrícolas impulsionarão uma expansão contínua das exportações.
A inflação pode diminuir para 4,5% em 2023,
3,2% em 2024 e 3,0% em 2025, alinhando-se com a banda da meta a partir de 2024.
Observa que a queda na inflação é resultado de uma resposta antecipada da
política monetária e da normalização de interrupções na cadeia de suprimentos.
Constata que a flexibilização da política
monetária começou em agosto de 2023, mas as taxas de juros reais permanecem
altas, e isso deixa espaço para reduções contínuas nas taxas de juros ao longo
de 2024 e 2025. Assim, prevê novos cortes na taxa de juros, para 9,2% até o
final de 2024 e 7,8% até a segunda metade de 2025.
A política fiscal continua expansionista, mas
diz esperar uma consolidação gradual em 2024 para atingir a meta de superávit
primário de 1% do PIB exigida pelo novo arcabouço fiscal.
Consolidação fiscal pode ser feita do lado
das receitas ou do lado dos gastos. No caso do Brasil, a entidade diz esperar
uma combinação de ambos. O governo Lula anunciou aumento das receitas
equivalente a 1,5% do PIB em 2024, enquanto as despesas aumentariam 1,0% do
PIB.
Considera que a adoção da reforma tributária
e a melhoria da concorrência impulsionarão o crescimento. Além dos impostos
sobre o consumo, vê espaço para o país reformar os impostos sobre a renda e
melhorar a progressividade do sistema tributário.
Nota que a atual dedução do imposto de renda
de pessoas físicas das despesas com saúde e educação privadas tem efeitos
distributivos regressivos, já que s 90% dos brasileiros têm renda abaixo do
limite em que pagariam imposto de renda e apenas 25% dos brasileiros tem planos
de saúde privados, enquanto a maioria da população depende do sistema público
de saúde.
Observa também que os recentes aumentos nas
transferências condicionais de renda têm sido bem direcionados, reduzindo a
pobreza e a desigualdade, mas que são necessárias mais melhorias na eficácia e
no direcionamento dos benefícios sociais.
A OCDE destaca mais uma vez o desmatamento
como a principal fonte de emissões brutas de gases de efeito estufa. E insiste
que uma aplicação mais rigorosa das leis de proteção ambiental, incluindo o
Código Florestal, será fundamental para combater o desmatamento. Nota que o
setor agrícola é a segunda maior fonte direta de emissões de gases de efeito
estufa no Brasil. E que um melhor direcionamento do crédito agrícola para
práticas de baixo carbono pode ser eficaz para combater o desmatamento e
reduzir as emissões.
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