quarta-feira, 29 de novembro de 2023

Vera Rosa - O dilema de Lula na Esplanada

O Estado de S. Paulo

Falta de segurança afeta avaliação do governo e presidente planeja recriar Ministério em 2024

A saída de Flávio Dino do Ministério da Justiça abre nova temporada de pressões sobre o governo. Indicado para o Supremo Tribunal Federal (STF), Dino sempre foi contra separar a segurança pública da Justiça, sob o argumento de que o titular da pasta precisa ter o controle da Polícia Federal. Mas, ao menos no programa de governo – desde que foi eleito presidente pela primeira vez, em 2002 –, Luiz Inácio Lula da Silva é a favor de um modelo no qual haja a integração das polícias.

O tema virou o calcanhar de Aquiles nos governos do PT. Tanto que a Bahia, Estado administrado pelo partido há 16 anos, se transformou em campo minado de facções criminosas.

Até agora, apesar das promessas de campanha, parecia mais conveniente a Lula evitar o desgaste político e deixar tudo cair no colo dos governadores. Mas a crise vem se agravando e afeta a popularidade do presidente, às vésperas de um ano eleitoral.

Uma pesquisa Atlas Intel divulgada no dia 21 mostrou que, no diagnóstico de 60,8% da população, a criminalidade e o tráfico de drogas são o maior problema do País hoje em dia.

Sem Dino na Esplanada, Lula avalia recriar o Ministério da Segurança. E uma das ideias em análise é fazer essa mudança na reforma ministerial, prevista para o início de 2024.

É aí, porém, que começam as pressões porque a escolha do novo titular da Justiça depende justamente do modelo que Lula vai imprimir à pasta.

O ministro da AdvocaciaGeral da União (AGU), Jorge Messias, é contra a desidratação do ministério. O vice Geraldo Alckmin, por sua vez, é a favor da divisão de funções.

Messias era o nome que a cúpula do PT queria ver no STF, e não Dino. Agora, uma ala do partido tenta emplacálo na Justiça. Mas ele não quer um prêmio de consolação.

“O presidente Lula resgatou o meu nome. Antes de eu vir para a AGU, as pessoas me chamavam de Bessias”, afirmou o ministro à Coluna. “Hoje, eu voltei a ser Jorge Messias. Para mim, isso é tudo na vida.”

O titular da AGU ficou conhecido como Bessias em março de 2016, quando a então presidente Dilma Rousseff, às vésperas do impeachment, teve uma conversa telefônica com Lula, vazada pelo juiz Sérgio Moro. Dilma estava gripada e parecia chamar o chefe da Secretaria de Assuntos Jurídicos de Bessias.

Lula, Messias e o ministro do STF Gilmar Mendes se reencontraram neste mandato, em outros papéis. Gilmar, que barrou a ida de Lula para a Casa Civil, hoje o ajuda: apoiou a indicação de Dino e foi fiador de Paulo Gonet para a Procuradoria-Geral da República. E como ficou Messias nessa história? “Sou terrivelmente pacificador”, diz ele, que, por coincidência, é evangélico.

 

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