sexta-feira, 2 de junho de 2023

Laura Karpuska - Tragédia da Venezuela é efeito do chavismo

O Estado de S. Paulo

A Venezuela teve um fluxo migratório nas últimas décadas comparável ao de países em guerra

Mais de 6 milhões de venezuelanos deixaram a Venezuela nas últimas décadas. É um dos maiores fluxos migratórios na história recente e pode ser comparado a êxodos migratórios de países em guerra, como Síria e Ucrânia. A tragédia humanitária na Venezuela é fruto de muitos problemas. Todos eles, de alguma forma, passam pelo chavismo. A erosão das instituições, o aumento da dependência do petróleo simultaneamente ao declínio da capacidade produtiva, a corrupção e a elevada carga de endividamento são apenas algumas das consequências diretas da gestão chavista no país.

A Venezuela enfrentou dois golpes liderados por Chávez antes de sua vitória nas eleições de 1998, seguidos pela transferência significativa de poder para os militares. Posteriormente, ocorreram várias tentativas de golpe contra Chávez. Vale ressaltar que a história da ditadura na Venezuela difere da nossa experiência aqui no Brasil. No período entre 1920 e 1955, a Venezuela foi governada por regimes totalitários, mas durante a Guerra Fria o país se destacou como uma “democracia exemplar” até os anos 90.

Nos anos 1990 e 2000, diferentemente do Brasil, a Venezuela

não carregava memórias recentes traumáticas relacionadas à ditadura militar. Essa circunstância talvez tenha facilitado

a ascensão do movimento militarista e chavista no país, que culminou na deslegitimização da oposição no Congresso por parte de Maduro em 2015. Do ponto de vista econômico, a Venezuela enfrenta desafios decorrentes de nacionalizações, controle de preços e emissão excessiva de dinheiro. Esses fatores, somados às questões institucionais mencionadas anteriormente, formam o cenário perfeito para a atual crise enfrentada pelo país.

“Eu manifestei respeitosamente que tenho uma discordância com o que o presidente Lula disse ontem, de que a situação de direitos humanos na Venezuela é uma construção narrativa. Não é uma construção narrativa, é uma realidade, é sério.” Essa foi a resposta do presidente do Chile, Gabriel Boric, aos elogios que Lula fez a Maduro.

Enquanto Lula perde a oportunidade de tentar ser uma liderança internacional, a política local o cerca, evidenciando sua falta de cuidado em Brasília. Nem os mais pessimistas esperavam um teste tão rápido da habilidade de Lula em conseguir manter o controle da política em Brasília, especialmente em algo como sua organização ministerial. Será que Lula é capaz de fazer política neste novo ambiente?

O título desta coluna é referência ao livro Mãe Pátria, da jornalista venezuelana Paula Ramon.

 

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