O Estado de S. Paulo
A Venezuela teve um fluxo migratório nas últimas décadas comparável ao de países em guerra
Mais de 6 milhões de venezuelanos deixaram a Venezuela nas últimas décadas. É um dos maiores fluxos migratórios na história recente e pode ser comparado a êxodos migratórios de países em guerra, como Síria e Ucrânia. A tragédia humanitária na Venezuela é fruto de muitos problemas. Todos eles, de alguma forma, passam pelo chavismo. A erosão das instituições, o aumento da dependência do petróleo simultaneamente ao declínio da capacidade produtiva, a corrupção e a elevada carga de endividamento são apenas algumas das consequências diretas da gestão chavista no país.
A Venezuela enfrentou dois golpes liderados
por Chávez antes de sua vitória nas eleições de 1998, seguidos pela transferência
significativa de poder para os militares. Posteriormente, ocorreram várias
tentativas de golpe contra Chávez. Vale ressaltar que a história da ditadura na
Venezuela difere da nossa experiência aqui no Brasil. No período entre 1920 e
1955, a Venezuela foi governada por regimes totalitários, mas durante a Guerra
Fria o país se destacou como uma “democracia exemplar” até os anos 90.
Nos anos 1990 e 2000, diferentemente do
Brasil, a Venezuela
não carregava memórias recentes traumáticas
relacionadas à ditadura militar. Essa circunstância talvez tenha facilitado
a ascensão do movimento militarista e
chavista no país, que culminou na deslegitimização da oposição no Congresso por
parte de Maduro em 2015. Do ponto de vista econômico, a Venezuela enfrenta
desafios decorrentes de nacionalizações, controle de preços e emissão excessiva
de dinheiro. Esses fatores, somados às questões institucionais mencionadas
anteriormente, formam o cenário perfeito para a atual crise enfrentada pelo
país.
“Eu manifestei respeitosamente que tenho
uma discordância com o que o presidente Lula disse ontem, de que a situação de
direitos humanos na Venezuela é uma construção narrativa. Não é uma construção
narrativa, é uma realidade, é sério.” Essa foi a resposta do presidente do
Chile, Gabriel Boric, aos elogios que Lula fez a Maduro.
Enquanto Lula perde a oportunidade de
tentar ser uma liderança internacional, a política local o cerca, evidenciando
sua falta de cuidado em Brasília. Nem os mais pessimistas esperavam um teste
tão rápido da habilidade de Lula em conseguir manter o controle da política em
Brasília, especialmente em algo como sua organização ministerial. Será que Lula
é capaz de fazer política neste novo ambiente?
O título desta coluna é referência ao livro
Mãe Pátria, da jornalista venezuelana Paula Ramon.
Nenhum comentário:
Postar um comentário