sexta-feira, 19 de janeiro de 2024

César Felício - O PT tem planos para Alckmin em São Paulo

Valor Econômico

Uma oitava candidatura presidencial de Lula pode deslocar o vice-presidente para a disputa regional em São Paulo

A articulação por uma candidatura de reeleição já começa, por mais que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tenha em alguns encontros feito declarações que sinalizem não haver definição nesse sentido.

No entorno do presidente há o entendimento de que somente Lula tem popularidade e capacidade de montar alianças amplas para enfrentar a oposição em 2026. A simples presença do presidente no cenário muda o cálculo até do lado oposto.

É possível, por exemplo, que o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos) procure garantir sua reeleição e adie um projeto presidencial no caso de uma nova candidatura de Lula. Sem Lula na urna, aumenta a chance de Tarcísio entrar, em uma aliança que pode englobar o PL de Bolsonaro, o PP de Ciro Nogueira e Arthur Lira, o União Brasil, e, talvez, o MDB.

Uma oitava candidatura presidencial de Lula (foi derrotado três vezes seguidas, ganhou três eleições e teve a pretensão cassada pela Justiça em 2018) pode deslocar o vice-presidente Geraldo Alckmin para a disputa regional em São Paulo.

O PSB tornou-se um partido pequeno. E pode interessar a Lula e ao PT selar o apoio do MDB ainda no primeiro turno de 2026. Nesse sentido a ministra do Planejamento, Simone Tebet, ou o governador do Pará, Helder Barbalho, poderiam figurar como vice na chapa.

O MDB é um partido que tende a apresentar nome próprio nas disputas presidenciais, caso não figure como vice. Já fez isso em 1989, 1994 e 2018. Nas eleições presidenciais de 1998 e 2006 o partido ficou neutro. Em 2002, 2010 e 2014, concorreu a vice.

O PT tem procurado deixar aberta a possibilidade de Alckmin disputar o Senado em 2026. São duas as cadeiras de senadores de São Paulo que serão renovadas em 2026: a da senadora Mara Gabrilli (PSD), que é forte candidato, e a do senador Alexandre Giordano (MDB), suplente do falecido Major Olímpio, que poderia ser instado a ceder a vaga.

Alckmin também poderia concorrer a governador, mas a disputa estadual fica menos atraente caso Tarcísio tente um novo mandato adiante do Palácio dos Bandeirantes.

Ainda assim a disposição do PT é deixar a disputa do Senado paulista a aliados. Até Simone Tebet, apesar de eleitora no Mato Grosso do Sul, é citada como opção.

A eleição do Senado em 2026 é uma das grandes apostas dos apoiadores de Bolsonaro, que contam fazer pelo menos 27 das 54 cadeiras em disputa daqui a dois anos. Caso consigam isso, podem fazer a maioria na Casa. Giordano hoje é um senador próximo do governo, mas Olímpio, que ganhou a disputa em 2018, era um apoiador de Bolsonaro.

Conforme essa coluna assinalou no mês passado, dos 54 lugares a serem trocados daqui a dois anos, 31 são consistentemente governistas, 18 claramente da oposição e cinco são de difícil classificação. A base anti-Lula hoje corresponde a aproximadamente 40% do Senado, mas nas vagas que estarão em disputa na próxima eleição este percentual cai para 30%. Cada nome forte que a aliança governista puder oferecer ao Senado diminui o risco em um eventual novo mandato de Lula.

Riscos externos

Faz falta no Brasil Forças Armadas que se preocupem mais com ameaças externas e menos com temas de natureza política ou corporativa. O governo Bolsonaro fez com que a ordem de prioridades terminasse por ser invertida na área da defesa, como ficou patente nos episódios de 8 de janeiro. O ano de 2024 iniciou com duas guerras em curso, sendo uma, a do Hamas, com alta probabilidade de envolver outros países. Pode terminar com a volta de Trump ao poder e o aumento da instabilidade na região.

Não há caso no mundo de nação com dez fronteiras sem nenhum conflito com país vizinho, como é o caso do Brasil, mas “quando elefantes brigam, quem sofre é a grama”, comentou Antônio Jorge Ramalho, professor de Relações Internacionais da UnB e ex-assessor da Defesa e de Assuntos Estratégicos no primeiro governo Lula. Ele identifica o risco do Brasil ser envolvido ou de algum modo afetado por confrontos alheios.

Trump em um primeiro momento não tem agenda para a América Latina que não seja o combate à imigração, o que não afeta o Brasil diretamente. Mas isso pode mudar a depender do rumo que tomem as relações entre os Estados Unidos, China e Rússia, observa Ramalho. “À medida que o Brasil se retrai, as grandes potências ganham espaço”, comenta.

Para citar um exemplo: como Trump reagiria caso chegasse à conclusão que existe uma ameaça grave às operações da Exxon Mobil na Guiana, em função da reivindicação venezuelana sobre Essequibo? Se o presidente americano entender que o Brasil tem poder de dissuasão sobre esse conflito, agirá de uma maneira. Se entender que não, tem, de outra.

A crise de Essequibo por pouco não desandou. Depois dos Estados Unidos promover manobras militares na Guiana, o venezuelano Nicolás Maduro chegou a anunciar um encontro de cúpula com o russo Vladimir Putin. A ação da diplomacia brasileira, operando para que Venezuela e Guiana abrissem negociações, desarmou a armadilha. Uma Casa Branca sob Trump, contudo, poderia carregar essa aquarela com tintas mais fortes.

 

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