Valor Econômico
Uma oitava candidatura presidencial de Lula
pode deslocar o vice-presidente para a disputa regional em São Paulo
A articulação por uma candidatura de
reeleição já começa, por mais que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tenha
em alguns encontros feito declarações que sinalizem não haver definição nesse
sentido.
No entorno do presidente há o entendimento de
que somente Lula tem popularidade e capacidade de montar alianças amplas para
enfrentar a oposição em 2026. A simples presença do presidente no cenário muda
o cálculo até do lado oposto.
É possível, por exemplo, que o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos) procure garantir sua reeleição e adie um projeto presidencial no caso de uma nova candidatura de Lula. Sem Lula na urna, aumenta a chance de Tarcísio entrar, em uma aliança que pode englobar o PL de Bolsonaro, o PP de Ciro Nogueira e Arthur Lira, o União Brasil, e, talvez, o MDB.
Uma oitava candidatura presidencial de Lula
(foi derrotado três vezes seguidas, ganhou três eleições e teve a pretensão
cassada pela Justiça em 2018) pode deslocar o vice-presidente Geraldo Alckmin
para a disputa regional em São Paulo.
O PSB tornou-se um partido pequeno. E pode
interessar a Lula e ao PT selar o apoio do MDB ainda no primeiro turno de 2026.
Nesse sentido a ministra do Planejamento, Simone Tebet, ou o governador do
Pará, Helder Barbalho, poderiam figurar como vice na chapa.
O MDB é um partido que tende a apresentar
nome próprio nas disputas presidenciais, caso não figure como vice. Já fez isso
em 1989, 1994 e 2018. Nas eleições presidenciais de 1998 e 2006 o partido ficou
neutro. Em 2002, 2010 e 2014, concorreu a vice.
O PT tem procurado deixar aberta a
possibilidade de Alckmin disputar o Senado em 2026. São duas as cadeiras de
senadores de São Paulo que serão renovadas em 2026: a da senadora Mara Gabrilli
(PSD), que é forte candidato, e a do senador Alexandre Giordano (MDB), suplente
do falecido Major Olímpio, que poderia ser instado a ceder a vaga.
Alckmin também poderia concorrer a
governador, mas a disputa estadual fica menos atraente caso Tarcísio tente um
novo mandato adiante do Palácio dos Bandeirantes.
Ainda assim a disposição do PT é deixar a
disputa do Senado paulista a aliados. Até Simone Tebet, apesar de eleitora no
Mato Grosso do Sul, é citada como opção.
A eleição do Senado em 2026 é uma das grandes
apostas dos apoiadores de Bolsonaro, que contam fazer pelo menos 27 das 54
cadeiras em disputa daqui a dois anos. Caso consigam isso, podem fazer a
maioria na Casa. Giordano hoje é um senador próximo do governo, mas Olímpio,
que ganhou a disputa em 2018, era um apoiador de Bolsonaro.
Conforme essa coluna assinalou no mês
passado, dos 54 lugares a serem trocados daqui a dois anos, 31 são
consistentemente governistas, 18 claramente da oposição e cinco são de difícil
classificação. A base anti-Lula hoje corresponde a aproximadamente 40% do
Senado, mas nas vagas que estarão em disputa na próxima eleição este percentual
cai para 30%. Cada nome forte que a aliança governista puder oferecer ao Senado
diminui o risco em um eventual novo mandato de Lula.
Riscos externos
Faz falta no Brasil Forças Armadas que se
preocupem mais com ameaças externas e menos com temas de natureza política ou
corporativa. O governo Bolsonaro fez com que a ordem de prioridades terminasse
por ser invertida na área da defesa, como ficou patente nos episódios de 8 de
janeiro. O ano de 2024 iniciou com duas guerras em curso, sendo uma, a do
Hamas, com alta probabilidade de envolver outros países. Pode terminar com a
volta de Trump ao poder e o aumento da instabilidade na região.
Não há caso no mundo de nação com dez
fronteiras sem nenhum conflito com país vizinho, como é o caso do Brasil, mas
“quando elefantes brigam, quem sofre é a grama”, comentou Antônio Jorge
Ramalho, professor de Relações Internacionais da UnB e ex-assessor da Defesa e
de Assuntos Estratégicos no primeiro governo Lula. Ele identifica o risco do
Brasil ser envolvido ou de algum modo afetado por confrontos alheios.
Trump em um primeiro momento não tem agenda
para a América Latina que não seja o combate à imigração, o que não afeta o
Brasil diretamente. Mas isso pode mudar a depender do rumo que tomem as
relações entre os Estados Unidos, China e Rússia, observa Ramalho. “À medida
que o Brasil se retrai, as grandes potências ganham espaço”, comenta.
Para citar um exemplo: como Trump reagiria
caso chegasse à conclusão que existe uma ameaça grave às operações da Exxon
Mobil na Guiana, em função da reivindicação venezuelana sobre Essequibo? Se o
presidente americano entender que o Brasil tem poder de dissuasão sobre esse
conflito, agirá de uma maneira. Se entender que não, tem, de outra.
A crise de Essequibo por pouco não desandou.
Depois dos Estados Unidos promover manobras militares na Guiana, o venezuelano
Nicolás Maduro chegou a anunciar um encontro de cúpula com o russo Vladimir
Putin. A ação da diplomacia brasileira, operando para que Venezuela e Guiana
abrissem negociações, desarmou a armadilha. Uma Casa Branca sob Trump, contudo,
poderia carregar essa aquarela com tintas mais fortes.
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